Primeira corrida e caminhada pelos refugiados celebra integração de venezuelanos na cidade de Manaus
Primeira corrida e caminhada pelos refugiados celebra integração de venezuelanos na cidade de Manaus
A confraternização ocorreu durante a inédita corrida Manaus #ComOsRefugiados, um trajeto de cinco quilômetros que aconteceu na Praia de Ponta Negra, um dos pontos turísticos da capital amazonense.
A atividade foi organizada pela Prefeitura de Manaus e pelo ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), com o apoio da União Europeia, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e do Fundo Manaus Solidária. Por meio do seu Instrumento de Contribuição para a Estabilidade e a Paz (IcSP, da sigla em inglês), a União Europeia, desde julho deste ano, promove atividades que estimulam a convivência harmoniosa entre venezuelanos e comunidades de acolhida – e a corrida foi uma destas ações.
A corrida reuniu atletas amadores e profissionais, incluindo cerca de 400 venezuelanos indígenas e não-indígenas que vivem em Manaus, muitos deles nos abrigos geridos pela prefeitura e pela Caritas Arquidiocesana - que são apoiados pelo ACNUR e seus parceiros.
Para alegria da plateia, o primeiro a cruzar a linha de chegada foi o venezuelano Luís Fernando Rodriguez, de 21 anos, que trabalha como ajudante de pedreiro e mora em Manaus há seis meses.
“Cumprimento primeiramente todo o povo do Brasil, especialmente do Amazonas, que tem nos recebido muito bem. É muito emocionante todo o apoio que estamos recebendo em Manaus”, contou Rodriguez, que participava de competições em seu país. Ao chegar em Manaus, foi acolhido na casa de um amazonense que o conhecia por causa de atividades esportivas.
Atualmente, Rodriguez integra um dos grupos de corrida da cidade e planeja voltar a estudar Administração de Empresas – que cursava na Venezuela quando deixou o país. “Esta corrida é um motivo de satisfação para todos os venezuelanos que estão no Brasil e em Manaus. Estou contente com o resultado e satisfeito com meu desempenho”, completou o jovem venezuelano.
Os indígenas venezuelanos da etnia Warao tiveram uma participação especial na corrida. Ao lado da tenda do ACNUR, expuseram artesanatos típicos como redes e colares.
Ao final, um dos corredores indígenas foi presentado com um par de tênis doado pelo estudante e despachante Robson Neto, de 21 anos. “Vi que ele estava correndo descalço e decidi dar o meu tênis para apoiá-lo. A situação dos venezuelanos não é fácil e precisamos incentivá-los a seguir adiante”, disse Robson.
Para o secretário municipal de Juventude, Esporte e Lazer, João Carlos dos Santos Mello, a corrida Manaus #ComOsRefugiados “é um gesto de cunho social que reafirma o compromisso da Prefeitura de Manaus em atender e acolher a população venezuelana”. Ele participou da corrida juntamente com o secretário municipal de Assistência Social e Cidadania, Dante Souza, para quem “a Prefeitura de Manaus tem feito o possível para atender essas pessoas, que estão em situação de vulnerabilidade”. Para o secretário Dante, a população de Manaus “recebe os venezuelanos de coração, e a corrida serviu para ressaltar o desafio de atender os venezuelanos de forma séria e responsável”.
O Instrumento de Contribuição para a Estabilidade e a Paz (IcSP, da sigla em inglês) apoia atividades do ACNUR e do UNFPA no Brasil nas áreas de registro e documentação, abrigamento de grupos mais vulneráveis, acesso a informação, atuação com crianças e vítimas de violência de gênero e enfrentamento à xenofobia. Seu objetivo é melhorar o ambiente de proteção para venezuelanos e venezuelanas no Brasil e contribuir para uma convivência mais pacífica desta população nas cidades de acolhida.
Doação de alimentos - A caminhada Manaus #ComOsRefugiados coletou alimentos para os venezuelanos e venezuelanas acolhidos nos abrigos da Prefeitura e da Caritas Arquidiocesana apoiados pelo ACNUR e seus parceiros. Cada participante doou uma cesta básica composta por 1 kg de arroz, 1 kg de feijão, 1 pacote 500g de macarrão, 1 pacote 400 g de leite e 1 pacote 400g de café. De acordo com a prefeitura de Manaus, foram arrecadados mais de cinco mil itens alimentícios.
O envolvimento da população manauara com a causa dos refugiados e o apoio da prefeitura foram ressaltados pelo chefe do escritório do ACNUR em Manaus, Sebastian Roa. “Esta é uma questão internacional, que não acontece apenas em Manaus. Os venezuelanos chegam diariamente na cidade em busca de uma nova vida, de uma nova oportunidade, e a população de Manaus está de braços abertos para acolher essas pessoas”, disse Roa, lembrando que Manaus tem um histórico de receber refugiados e migrantes. “Quero parabenizar o município, e o ACNUR espera continuar com esta parceria”, afirmou.
O ACNUR estima em 3 milhões o número de venezuelanos vivendo fora do país devido a uma complexa situação política e socioeconômica. Cerca de 80% deles estão nos países da América Latina e do Caribe.
São várias as razões que levam estas pessoas a deixar seu país, entre elas a insegurança e a violência, redução na renda e dificuldade em obter comida, remédios e serviços essenciais.
De acordo com dados mais recentes das autoridades brasileiras, aproximadamente 200 mil venezuelanos entraram no país desde 2017, sendo que cerca de 98 mil permanecem no país. Atualmente, existem 77 mil pedidos de refúgio feitos por venezuelanos no Brasil.
Em Manaus, já são mais de 8.800 solicitações feitas por venezuelanos desde 2017 – até agosto deste ano. Cerca de 600 pessoas estão acolhidas em abrigos da cidade. Atualmente, a Prefeitura mantém três casas de acolhimento localizadas nos bairros Coroado, Alfredo Nascimento e Centro. A Caritas Arquidiocesana de Manaus também administra outros abrigos.
Em setembro de 2018, a Prefeitura de Manaus recebeu mais 180 venezuelanos não-indígenas por meio da estratégia de interiorização do Governo Federal, que estão sendo atendidos com alimentação, produtos de higiene, limpeza, atendimento de equipe técnica (assistente social, psicólogo, sociólogo, saúde, educação).
Histórico – As primeiras chegadas de venezuelanos em Manaus aconteceram em dezembro de 2016, envolvendo indígenas da etnia Warao. As primeiras ações tiveram início em janeiro de 2017 com a identificação da população Warao pelos Centros de Referência Especializada de Assistência Social da prefeitura.
Com o expressivo número de mulheres e crianças em situação de rua no Terminal Rodoviário da Cidade, intensificaram-se as reuniões interinstitucionais seguindo as recomendações do Ministério Público Federal. Ao longo do processo, o ACNUR forneceu apoio técnico à prefeitura e ao governo do Estado, financiando reformas de abrigos para melhorar a qualidade de vida da população venezuelana.
No ano passado, o prefeito Arthur Virgílio Neto recebeu do ACNUR um documento de reconhecimento pelas ações desenvolvidas pela prefeitura, de acolhimento e apoio aos índios venezuelanos de etnia Warao e também aos venezuelanos não indígenas.