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Estudo revela papel vital desempenhado pelos negócios de refugiados em economias locais

Comunicados à imprensa

Estudo revela papel vital desempenhado pelos negócios de refugiados em economias locais

8 May 2018
Esperanza é uma designer de moda da República Democrática do Congo. © ACNUR/Samuel Otieno

Esperanza Tabisha, uma designer de moda refugiada da República Democrática do Congo (RDC), está confeccionando suas últimas criações em sua pequena loja no campo de refugiados de Kakuma, no noroeste do Quênia.

Duas clientes chegam para dar uma olhada no que está à venda. Uma é refugiada, outra trabalha para uma organização não governamental local. A maior parte da mercadoria é feita de kitenge, um tecido grosso e brilhante, tradicionalmente tingido em cores vivas.

As mulheres ficam impressionadas. Uma compra um vestido por 1.800 xelins quenianos (US$ 18). A outra encomenda uma saia longa personalizada e um top que custarão 2.000 xelins quenianos (US$ 20). Felizes com suas compras, as mulheres saem e Esperanza continua organizando seu estoque.

“Não há sentimento melhor do que ter um cliente feliz. ”

A empresária de 27 anos é apenas um dos milhares de empresários e empresários refugiados que vivem em Kakuma e na cidade vizinha. Juntas, as áreas têm uma população de quase 250 mil pessoas, tanto refugiados quanto moradores locais.

Em 2011, Esperanza fundou sua pequena grife de moda, Esperanza Fashion & Design, com apenas 22 mil xelins quenianos (US$ 220), depois de ser forçada a fugir da violência na província de Kivu do Norte na RDC e chegar ao Quênia.

 

Refugiados aprendem novas habilidades no campo de Kakuma. © Dominic Chavez/Corporação Financeira Internacional

 

Ela queria continuar no ramo da moda, apesar do status de refugiada. Seus designs únicos logo encontraram um nicho na próspera indústria da moda no campo de Kakuma, no Quênia, atraindo clientes não apenas da comunidade de refugiados, mas também da população local. Ela ganha cerca de dois mil xelins quenianos (US$ 20) por mês vendendo suas criações.

“Eu amo o meu trabalho”, diz. “Não há sentimento melhor do que ter um cliente feliz. “

Com a renda que ganha, Esperanza investiu em seus negócios e comprou uma nova máquina de costura, um ferro de passar a carvão e outras ferramentas para ajudar a melhorar a qualidade de seu trabalho. Apesar de ter um negócio de sucesso que sustenta ela e sua família, Esperanza diz que existem desafios.

“Estou muito feliz com o que estou fazendo”, afirma. “Eu amo ser designer e fazer roupas, mas o dinheiro que ganho só é suficiente para suprir as minhas necessidades básicas. Para expandir meus negócios, preciso de assistência financeira que eu possa pagar com o tempo. ”

Esperanza faz parte de um estudo inovador da Corporação Financeira Internacional (CFI) e do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, publicado em 4 de maio, que conclui que muitos refugiados não são apenas receptores passivos de ajuda, mas estão envolvidos em atividades econômicas. O relatório mostra que há oportunidades para organizações do setor privado fazerem negócios no campo e na cidade vizinha.

O estudo analisa o campo de Kakuma do ponto de vista da criação de uma empresa privada. Segundo a pesquisa, existem mais de duas mil empresas e pequenos negócios em Kakuma, e a economia da área vale seis bilhões de xelins (US$ 56 milhões). De acordo com o estudo, metade da renda familiar é gasta em produtos de consumo, um mercado que vale mais de US$ 26 milhões por ano.

 

Os dados sobre empresas, níveis de consumo e o acesso a financiamento, telecomunicações, educação e emprego foram coletados. As descobertas mostram que a economia de Kakuma está prosperando e há oportunidades para o setor privado investir em empreendimentos nas comunidades de refugiados e anfitriãs, que promovam a autoconfiança, a independência financeira e o empoderamento dos refugiados, reduzindo a dependência de ajuda humanitária e integrando refugiados social e economicamente.

“Precisamos mudar a mentalidade de que os refugiados estão sentados no campo, sem fazer nada além de receber assistência”, diz Raouf Mazou, representante do ACNUR no Quênia.

“Na verdade, muitos deles estão administrando empresas, gerando empregos, e fazendo outras coisas importantes para formalizar suas empresas. “

“Nós tendemos a ver o setor privado como algo sofisticado, vindo de fora, mas, na maioria das vezes, trata-se de iniciativas de indivíduos que querem ganhar dinheiro fazendo o que sabem de melhor, como, por exemplo, um refugiado que faz pão. ”

"Estou muito feliz com o que estou fazendo. "

Pesquisadores encontraram mais de 2.100 pequenos negócios no campo de Kakuma atendendo a uma população mista. Dos refugiados entrevistados, 12% se identificaram como donos de empresas.

Eles concluíram que as descobertas são positivas, considerando que a maioria dos refugiados chega ao Quênia com pouco mais do que algumas roupas. Deve-se considerar também que os direitos para se deslocar pelo país ou para possuir empresas ou propriedades registradas são limitados.

Uma boa conexão com a Internet na maior parte de Kakuma e a boa penetração de telefonia móvel abriram oportunidades para potenciais investidores do setor privado, diz o estudo. Aproximadamente 69% dos refugiados e 85% da comunidade anfitriã têm acesso a telefones celulares.

A conectividade ajudou a Esperanza a expandir seus negócios. Os clientes escolhem um design dentre as opções que ela posta online.

“A internet, as mídias sociais, especialmente o Facebook e o Instagram, estão desempenhando um papel importante na atração de potenciais clientes para o meu negócio”, diz Esperanza.

O estudo constatou que o investimento do setor privado em Kakuma não apenas permite que os refugiados proprietários de empresas se sustentem, mas também beneficia a comunidade anfitriã. Os refugiados geralmente contratam pessoas locais para trabalhar com eles e compram gado, madeira, carvão e outras mercadorias da comunidade local.

“Conflito, violência e perseguição estão deslocando mais pessoas de suas casas do que qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial”, diz Philippe Le Houérou, diretor executivo da CFI.

“A ajuda do governo para enfrentar o desafio é limitada. O investimento do setor privado poderia fazer uma diferença importante, criando empregos e oportunidades para os refugiados. Mas os investidores muitas vezes não têm as informações críticas de que precisam para se aventurar nesses mercados. Este estudo é um primeiro passo fundamental para impulsionar o investimento privado em um mercado inexplorado”.

A CFI e o ACNUR esperam que o estudo aumente a conscientização sobre Kakuma como uma oportunidade de mercado em áreas do setor privado, como telecomunicações, saúde, educação, habitação e energia.

O relatório conjunto conclui que atrair o setor privado e as empresas sociais para a área de Kakuma e apoiar os empreendedores locais e refugiados tem o potencial de ampliar as oportunidades de trabalho, melhorar os serviços, oferecer mais opções e reduzir os preços para todos.

“Por sua vez, isso pode aumentar a autoconfiança de ambas as comunidades [de refugiados e anfitriãs] e sua integração socioeconômica, ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento da região de acolhida. Isso está no espírito da agenda global do Marco Integral de Resposta aos Refugiados”, afirma o relatório.

O relatório aponta três objetivos-chave que precisariam ser alcançados:

  • Atrair empresas privadas, incluindo empresas comerciais e empresas sociais, para entrar no mercado e oferecer oportunidades para ampliar as operações de empresas já presentes na área;
  • Desenvolver o potencial de empreendedorismo de refugiados e comunidades anfitriãs, com foco em jovens e mulheres, apoiando seus negócios para que cresçam, e oferecendo treinamento vocacional, serviços de desenvolvimento de negócios e oportunidades de financiamento;
  • Apoiar o diálogo político e os esforços de advocacia focados na criação de um ambiente de negócios mais propício e na atração de empresas do setor privado para a área.

Acesse aqui a versão completa do relatório “Kakuma as a Marketplace” (em inglês).