Falta de financiamento coloca em risco ajuda fornecida aos sírios
Falta de financiamento coloca em risco ajuda fornecida aos sírios
Centenas de milhares de famílias refugiadas sírias no Oriente Médio correm o risco de perder sua principal fonte de financiamento a partir de maio, a menos que recursos adicionais necessários sejam arrecadados para cobrir uma lacuna de US$ 270 milhões - parte de um déficit de financiamento de US$ 4,1 bilhões de um plano de resposta para os refugiados sírios liderado pela ONU em 2018.
O conflito de sete anos na Síria continua a alimentar a maior crise de refugiados do mundo, com mais de 5,6 milhões de pessoas forçadas a se exilarem nos países vizinhos. Todos os anos, as famílias são levadas à miséria, com a grande maioria dos refugiados na Jordânia e no Líbano vivendo abaixo da linha da pobreza e incapazes de suprir suas necessidades básicas.
O ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, atualmente oferece assistência em dinheiro para as famílias mais vulneráveis - principalmente na Jordânia e no Líbano - para ajudá-las a cobrir os custos com moradia, aquecimento, saúde e outros itens essenciais. No entanto, com a previsão do fim do atual financiamento do ACNUR e de outros programas de assistência financeira da ONU a partir de maio, quase um milhão de pessoas correm o risco de perder essa assistência vital.
“A assistência em dinheiro permite que eu pague o transporte escolar dos meus filhos. ”
O alerta vem antes de uma importante conferência de doadores da União Europeia e da ONU que será realizada em Bruxelas nos dias 24 e 25 de abril, com o objetivo de assegurar novos compromissos de financiamento para ajudar os sírios e os principais países que acolhem refugiados. As necessidades totais para 2018 estão na casa dos US$ 5,6 bilhões, mas até final de março, apenas 27% do apelo liderado pela ONU havia sido arrecadado, deixando um déficit de US$ 4,1 bilhões.
A assistência em dinheiro é um elemento-chave na resposta do ACNUR à crise. Ao permitir que os refugiados priorizem os gastos em suas necessidades mais urgentes, oferece maior dignidade e liberdade de escolha, ao mesmo tempo em que proporciona um impulso às economias locais em áreas que arcaram com o ônus de abrigar um grande número de refugiados.
O uso de sistemas de biometria de última geração e de segmentação por vulnerabilidade pelo ACNCR garante que a assistência em dinheiro seja entregue com segurança para as pessoas que mais precisam, da maneira mais econômica possível.
No Líbano, onde 58% dos quase um milhão de refugiados sírios cadastrados vivem em extrema pobreza, com menos de US$ 2,90 por dia, a assistência em dinheiro ajuda a sustentar cerca de 33 mil das famílias mais pobres.
Manar, de 29 anos, é oriunda de Homs, na Síria, mas agora vive em Baabdat, uma cidade na faixa do Monte Líbano com vista para a capital, Beirute. Ela tem três filhos e chegou ao país em 2013 após oito meses de deslocamento dentro da Síria. Seu marido foi morto em um acidente de carro em 2015, deixando-a sozinha e com dificuldade para cuidar dos filhos.
Enquanto tenta garantir alguma renda em trabalhos que não exijam mão de obra qualificada para ajudar a pagar o aluguel e as contas, Manar diz que a assistência de US$ 175 por mês, ajudou-a a proporcionar o que ela espera ser a base para o futuro de seus filhos.
“Suas vulnerabilidades estão aumentando e mal estamos mantendo o nível de assistência”.
“A assistência em dinheiro me permite pagar pelo transporte escolar dos meus filhos”, explicou. “Eu sempre digo a eles que não poderei deixá-los uma herança depois que o pai deles morreu, mas posso assegurar-lhes uma educação e, por meio dela, eles podem conseguir o que quiserem”.
“Refugiados como eu têm necessidades diferentes e maneiras de gastar diferentes”, acrescentou. “Às vezes seus filhos adoecem e é preciso levá-los ao médico. Quando você dá dinheiro aos refugiados, você está dando a eles a liberdade de usar o dinheiro quando mais precisam”.
Mesmo antes da crise financeira atual, a representante do ACNUR no Líbano, Mireille Girard, disse que o fato de os recursos disponíveis não terem conseguido acompanhar o aprofundamento da pobreza entre os refugiados significava que muitos sírios carentes já estavam ficando para trás.
“O problema que temos é que devemos ajudar 76% da população, mas estamos ajudando apenas uma parte dos 58% abaixo da linha da pobreza extrema”, afirmou. “No momento, suas vulnerabilidades estão aumentando e mal estamos mantendo o nível de assistência que asseguramos no ano anterior”.