Venezuelanos concluem curso de português em Boa Vista
Venezuelanos concluem curso de português em Boa Vista
A grande procura evidencia a importância de iniciativas como essa para as pessoas que chegam ao Brasil em decorrência de deslocamento forçado, à medida em que a complexa situação política e socioeconômica na Venezuela continua a piorar. De acordo com dados mais recentes do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), 17.865 pessoas solicitaram refúgio em 2017, e 3.375 em 2016. Estima-se que 40 mil entraram pelo estado de Roraima e estejam morando na capital, Boa Vista.
“Aqui todos se ajudam, e eu vejo que isso traz autoconfiança, vontade de vencer e esperança nesse novo começo de vida”.
Idealizadora do projeto, a professora do departamento de Relações Internacionais da UFRR Julia Camargo destaca que ainda que os idiomas português e espanhol sejam muito semelhantes, as pessoas em processo migratório frequentemente sentem-se inibidas na hora de se comunicar. Ela afirma que as aulas não são apenas um espaço para o ensino de português, mas também de acolhimento. “Aqui todos se ajudam, e eu vejo que isso traz autoconfiança, vontade de vencer e esperança nesse novo começo de vida”, acrescenta.
As aulas acontecem no período noturno. Os professores são alunos da própria universidade, que lecionam de forma voluntária.
Raul, 22 anos, é solicitante de refúgio e já está no Brasil há dois meses. Ele estava entre os formandos e afirma que o curso foi uma excelente oportunidade para melhorar seu processo de integração. “O curso foi uma excelente ferramenta para melhorar minha interação com os brasileiros e aumentar as oportunidades de trabalho”, conta.
Outra formanda foi Gabriela, 25 anos, também solicitante de refúgio que está em Boa Vista há seis meses. Ela conta que o curso foi uma experiência única que possibilitou crescimento tanto pessoal quanto profissional. “A rede formada entre os colegas é fundamental para superar os desafios de estar em um novo país”, diz.
A professora Julia Camargo também destaca a importância do envolvimento dos estudantes da Universidade. Ela afirma que a oportunidade que eles têm de colocar em prática tudo que aprendem na sala de aula é muito transformadora. “Os alunos ganham maturidade, uma troca cultural incrível e, ao mesmo tempo, crescem muito enquanto seres humanos”, afirma.
A voluntária Juliana Carvalho, estudante de Relações Internacionais da UFRR, já faz parte do projeto há um ano e, além de aulas de português, também oferece assistência jurídica a migrantes e solicitantes de refúgio. Ela afirma que fazer parte do recomeço da vida de tantas pessoas é muito inspirador. “Eles nos dizem que se sentem acolhidos quando aprendem português, e para nós, voluntários, isso é muito gratificante”.
“A rede formada entre os colegas é fundamental para superar os desafios de estar em um novo país”.
O projeto Português para Acolhimento integra a Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) do ACNUR que, no âmbito da UFRR, também desenvolve trabalhos voltados para a orientação cidadã, que busca informar os venezuelanos sobre serviços na cidade.
A Cátedra Sérgio Vieira de Mello, como o nome indica, é uma homenagem ao brasileiro morto no Iraque e que dedicou grande parte da sua carreira profissional nas Nações Unidas ao trabalho com refugiados, como funcionário do ACNUR. Desde 2003, o ACNUR implementa a CSVM em cooperação com centros universitários nacionais e com o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE). Além de difundir temas relacionados ao refúgio no ensino universitário, a Cátedra também visa promover a formação acadêmica e a capacitação de professores e estudantes dentro desta temática. O trabalho direto com os refugiados em projetos comunitários é também uma prioridade.