Água pura traz vida de volta a traumatizados em vila no Sudão do Sul
Água pura traz vida de volta a traumatizados em vila no Sudão do Sul
AMADI, Sudão do Sul, 28 de fevereiro de 2014 (ACNUR) – Você gostaria de viver em uma aldeia onde cadáveres contaminam a única fonte de água? Essa foi a situação difícil que moradores da aldeia Amadi enfrentaram quando tentavam voltar para casa durante uma pausa na violência que tem assolado o Sudão do Sul nos últimos meses.
“Quando nossos maridos e os jovens da aldeia foram verificar se o tiroteio havia parado, eles se depararam com corpos de soldados e civis espalhados por nossos campos de mandioca e nossos córregos de onde tirávamos nossa água”, lembra Hawa Ladu*, uma mãe de seis filhos.
O pequeno vilarejo fica a 25 km da capital do Sudão do Sul, Juba, e – felizmente para os habitantes – apenas três quilômetros do Assentamento Gorom, que abriga 2.500 refugiados etíopes. Estavam provando um paraíso seguro quando a aldeia Amadi foi pega pela violência que eclodiu no país em dezembro do ano passado.
Como Hawa relata, durante algum tempo os moradores toleravam saques de seus alimentos, por parte das forças da oposição, que roubavam até mesmo “o cozido em nossos vasos”. Às vezes, os soldados ordenavam descaradamente que os moradores levassem a comida roubada para seus acampamentos improvisados.
Mas quando a guerra tomou conta da aldeia, em meados de janeiro, era a hora de correr. “As balavas zuniam pelo ar e pousavam em algumas de nossas paredes como soldados que avançavam sobre Amadi”, diz Hawa. Ela, seu marido, seus filhos e seus vizinhos fugiram para próximo do Assentamento Gorom.
Eles consideraram Gorom como o lugar mais seguro para se refugiar “porque é onde está o ACNUR”, diz ela. Mais de 730 mulheres e crianças da aldeia mudaram para o acampamento de uma escola primária. “Quando nós fugimos para o assentamento, os refugiados eram geralmente muito favoráveis e acolhedores, porque eles sabiam o que estava acontecendo”, disse Hawa.
Becky Ben Ondoa, oficial de serviços comunitários do ACNUR, diz que apesar da “aldeia Amadia ter se tornado uma área de zona proibida, nós sabíamos que a escola teria que ser desocupada para o início do novo ano escolar”. Uma vez que a luta terminou em Amadi, os moradores foram informados de que era seguro voltar para casa.
Mas como eles poderiam voltar quando não havia água limpa em sua aldeia? A missão de monitoramento do ACNUR confirmou o que os moradores já haviam descoberto – corpos em decomposição estavam poluindo a única fonte de água.
“Era indispensável agirmos rapidamente”, disse Ondoa. “Para encorajar a comunidade Amadi para regressar à sua aldeia, pontos de água alternativos para a comunidade tiveram que ser encontrados como uma questão de prioridade”.
Um parceiro do ACNUR localizou uma empresa de perfuração de água e em duas semanas a aldeia tinha dois poços em funcionamento – prontos para atender às necessidades em Amadi. Os homens vieram primeiro para verificar a segurança, em seguida, vieram suas famílias.
“Eu não posso dizer o quanto somos gratos pelos poços que o ACNUR nos forneceu – e envergonhado continuamos a pedir mais ajuda”, disse Hawa. “No entanto, dadas às circunstâncias, não temos escolha”, já que seus implementos agrícolas foram saqueados, juntamente com seus alimentos e grãos. Os moradores estão ocupados colhendo os últimos tubérculos da mandioca ainda no chão – uma disposição modesta para vê-los através das longas chuvas sazonais.
“A vida como conhecemos mudou para pior”, suspira Hawa. “Mesmo os nossos maridos tornaram-se como mulheres – impotentes e com medo – como todos nós, basta esperar a situação no nosso país se resolver. Apenas Deus e os governantes deste país sabem”.
* Nomes alterados a pedido dos entrevistados.
Por Pumla Rulashe em Amadi, Sudão do Sul.