Jovens, abandonados e em fuga
Jovens, abandonados e em fuga
TAPACHULA, México, 02 de outubro de 2017 (ACNUR) – Para chegar na escola todos os dias, os irmãos salvadorenhos Anderson, de 17 anos, e Jairo, de 14, tinham que pegar o ônibus no território de uma perigosa gangue de rua para logo chegar no território da gangue rival, assim correndo o risco de serem assaltados, mortos ou forçados a juntar-se a uma delas.
Quando as gangues intensificaram o assédio, frequentemente invadindo a pizzaria familiar na sua cidade natal, no sudeste de El Salvador, os dois meninos, seu pai e o irmão mais velho foram forçados a fugir para salvar as suas vidas. Isso foi quando as coisas se tornaram realmente complicadas.
Sua mãe os abandonou quando eram crianças pequenas. Então, enquanto estavam aguardavam a conclusão de sua solicitação de refúgio no México, seu pai e sua nova namorada desapareceram repentinamente, cortando qualquer contato com os irmãos.
"Se voltássemos para o lá, acho que eles nos matariam", diz Anderson. "As gangues nos disseram que ou nos uníamos a eles, ou seriamos mortos".
Sem os pais para cuidar deles e sem possibilidades de voltar para casa, Moises, o irmão mais velho, de 20 anos, entrou para liderar a família. Atuando como o responsável legal dos irmãos mais novos, ele faz de tudo para ajudá-los a recomeçar suas vidas no México.
Meninos como os irmãos Sánchez chamaram atenção do mundo todo em 2014, quando dezenas de milhares de crianças da América Central não acompanhadas, fugindo da violência de gangues, apareceram na fronteira sul dos Estados Unidos.
Ainda que as manchetes tenham diminuído em 2016, milhares de crianças e adolescentes continuam saindo do norte de El Salvador, de Honduras e Guatemala, países marcados por níveis crescentes de violência.
"O fluxo de crianças não acompanhadas ainda é muito alto", diz Cynthia Pérez, diretora de atenção e coordenação institucional da Comissão Mexicana de Ajuda a Refugiados (COMAR). "Diversas agências estão recebendo treinamentos para garantir que identifiquemos as crianças que sofreram alguma violência para lhes oferecer a chance de solicitar refúgio", acrescenta.
Os países do norte da América Central estão entre os mais perigosos do mundo, já que a gangue Mara Salvatrucha e sua rival, a Barrio 18, lutam para criar seus impérios criminosos, transformando as ruas em zonas de guerra e crianças e adolescentes em mercenários.
As gangues participam em atividades criminosas que abrangem desde assaltos, extorsões e sequestros até o transporte e venda de drogas. Os jovens, sem alternativas, enfrentam assédio, agressões e recrutamento forçado.