Salvando pequenas vidas no Líbano, independente de nacionalidade
Salvando pequenas vidas no Líbano, independente de nacionalidade
BEIRUTE, Líbano, 23 de agosto de 2017 - A pequena Aya repousa, pacificamente, em uma incubadora no hospital público Qarantina, na capital libanesa, Beirute. Nasceu uma refugiada de pais sírios, seus primeiros dias não foram fáceis, mas a família agradece ter recebido o tratamento que ela precisava.
"Minha filha Aya nasceu com icterícia", explicou o pai, Mohammed, originalmente de Idlib no noroeste da Síria. "Ela estava aqui [no hospital] por dois dias e eles cuidaram muito dela. Ela melhorou, e agora estamos levando-a para casa".
O tratamento especializado que Aya recebeu foi possível graças a uma ala pediátrica recém-construída no hospital e financiada por uma ONG libanesa chamada Birth and Beyond. O objetivo é proporcionar tratamento neonatal de qualidade a famílias desfavorecidas no Líbano, incluindo refugiados sírios.
No Líbano moram mais de um milhão de refugiados, que vieram dos seis anos de conflito no país vizinho, Síria. Cerca de 12 por cento das crianças nascidas de refugiados necessitam de cuidados intensivos neonatais. Uma das principais razões para isso é a prematuridade, que, por sua vez, pode ser o resultado do casamento precoce, da pobreza e da falta de cuidados pré-natais.
Infelizmente, os cuidados intensivos neonatais não estão disponíveis em todos os hospitais libaneses e os refugiados geralmente precisam percorrer longas distâncias para que seus recém-nascidos recebam o tratamento necessário.
Robert Sacy, um pediatra que fundou Birth and Beyond, começou com a iniciativa de enfrentar o duplo desafio de um número insuficiente de centros de cuidados intensivos pediátricos - especialmente em hospitais públicos - e o custo proibitivo de tal tratamento para famílias desfavorecidas.
"Nós sempre temos esse desafio de recusar pessoas não só devido à falta de leitos, mas principalmente por falta de apoio financeiro", explicou Sacy. "Há uma necessidade de ter os melhores tratamentos com a melhor equipe médica e o melhor equipamento em hospitais governamentais".
No ano passado, cerca de 4.500 bebês refugiados exigiram cuidados intensivos neonatais, de acordo com Michael Woodman, oficial sênior de saúde pública do ACNUR no Líbano. Apesar de a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) cobrir 90% do custo, as famílias ainda têm que cobrir os 10% restantes, o que - não importa quão pequeno - pode ser inviável para muitas famílias refugiadas.
"Iniciativas como Birth and Beyond são extremamente importantes porque fornecem cuidados de excelente qualidade para refugiados integrados em um hospital público", disse Woodman. "Eu acho que este é um enorme benefício para os refugiados que eles podem receber cuidados de qualidade gratuitos".
Crianças desfavorecidas são todas recebidas com o mesmo carinho e cuidado, independentemente da sua nacionalidade. Manal é de Trípoli, no norte do Líbano, e seu filho Oussama foi internado na nova unidade de terapia intensiva pediátrica no hospital Qarantina após sofrer complicações após passar por uma cirurgia cardíaca.
"A ala pediátrica é excelente, mesmo em termos de equipamentos e máquinas, não senti que estava em um hospital público", disse Manal. "O hospital não vai me custar muito. Eu não tenho como pagar um hospital particular para ele, mas aqui o governo paga e por isso é melhor ".
Graças a Birth and Beyond, Oussama e Aya receberam uma segunda chance na vida, e Sacy argumenta que o mesmo nível de cuidado deve ser concedido a todas as crianças nascidas no Líbano, independentemente da situação financeira da família. "Não entendo por que as pessoas pobres não devem ter o direito de serem tratadas da mesma forma que as pessoas ricas".