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No 8 de março, venezuelanas embarcam rumo a novo recomeço

Comunicados à imprensa

No 8 de março, venezuelanas embarcam rumo a novo recomeço

9 Março 2023
Sioret, aluna do projeto Empoderando Refugiadas em 2022, é uma das 35 mulheres que embarcaram no voo especial de 8 de março, organizado pela Força-Tarefa da Operação Acolhida, com apoio do ACNUR. ©ACNUR/Gabriella Nunes
Boa Vista, 8 de março de 2023 – Com um enorme sorriso no rosto, a venezuelana Sioret (41) embarca animada rumo a sua nova vida em São Paulo. Ela é uma das 35 passageiras de um voo especial que partiu de Roraima, no Dia Internacional da Mulher, para realocar mulheres contratadas por duas empresas do ramo alimentício e de serviços em Santa Catarina e São Paulo.

A ação faz parte da estratégia de interiorização da Operação Acolhida, resposta humanitária do Governo Federal ao deslocamento de pessoas venezuelanas para o Brasil. Funcionando desde 2018 no âmbito da Operação Acolhida, em parceria com agências das Nações Unidas e organizações da sociedade civil, a estratégia tem sido referência mundial e visa à realocação voluntária de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas de Roraima para outros estados do país. Desde então, a interiorização tem ajudado a diminuir a pressão sobre os serviços públicos no estado da fronteira e promover a inclusão socioeconômica dessa população na sociedade brasileira.

No Brasil desde fevereiro de 2022, Sioret deixou quatro filhos na Venezuela. “Em toda minha vida, sempre fui muito trabalhadora. Sou cozinheira, mas fazia de tudo um pouco na Venezuela. Infelizmente, a vida em meu país está um pouco difícil... Vim ao Brasil para trabalhar e ajudar a minha família que ainda vive lá”, conta.

No total, mais de 96 mil pessoas refugiadas e migrantes já foram interiorizadas desde Roraima, das quais 44% são mulheres.

Recentemente, um estudo desenvolvido por agências da ONU, entre elas a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mostrou que as mulheres enfrentam mais dificuldades para alcançar a autonomia financeira depois que são realocadas para outras regiões, mesmo quando têm mais qualificação. Sendo assim, o voo especial de 8 de março carrega um forte simbolismo e chama a atenção para a importância de empresas estarem cada vez mais engajadas na abertura de vagas e na contratação de mulheres refugiadas e migrantes.

Antes de ser interiorizada, Sioret fez parte de uma das turmas do Projeto Empoderando Refugiadas – iniciativa do ACNUR, do Pacto Global da ONU no Brasil e da ONU Mulheres, que busca mudar essa realidade e fomentar a empregabilidade de mulheres refugiadas e migrantes no mercado de trabalho brasileiro. “O Empoderando Refugiadas foi uma grande oportunidade para mim. Ali aprendi português, cursos de atendimento ao público, marketing... Essas coisas fazem a diferença no currículo e abriram portas que eu nem imaginava. Agora estou indo para São Paulo e tenho certeza de que tudo que aprendi no Empoderando [Refugiadas] me ajudou a conseguir essa vaga.”

Thaís Menezes, oficial de Relações Institucionais da ACNUR explica a importância de estratégias de interiorização que atentem às vulnerabilidades das mulheres nesse contexto: “A atual iniciativa concretiza um princípio-chave para o ACNUR de ‘não deixar ninguém para trás’, ou seja, de considerar as necessidades específicas de grupos com os quais trabalhamos, superando desafios e fomentando que tenham acesso de fato aos direitos e aos serviços que lhe são garantidos pela legislação”.

A realização do voo especial do Dia Internacional das Mulheres é resultado de um esforço conjunto do Governo Federal Brasileiro e da Força-Tarefa da Operação Acolhida, e contou com o apoio direto da ACNUR e da Agência da ONU para as Migrações (OIM).

Glenda (29) também foi passageira do voo de interiorização de 8 de março. Membro da comunidade LGBTQI+, ela saiu da Venezuela em busca de um emprego para ajudar a avó. “Sofri muita discriminação e maus-tratos por ser quem eu sou, minha avó foi a única que não me deu as costas e sempre me apoiou. Mas ela ficou muito doente, entre a vida e a morte, e o meu salário na Venezuela não era suficiente para cuidar da saúde dela”, lamenta. Em janeiro deste ano, a jovem viajou por meio de caronas com destino ao Brasil, obstinada a conseguir um emprego para custear o tratamento médico da avó.

O emprego em São Paulo representa a esperança de condições melhores de vida para ela. “Estou muito grata por esta oportunidade, é uma mudança de vida importante. Desde que cheguei ao Brasil, tive muito apoio de todos os envolvidos na Operação e espero me sentir bem-vinda em São Paulo também”, conta animada.

Com planos para o futuro, Glenda desembarca em São Paulo, onde trabalhará em uma empresa do ramo alimentício. ©ACNUR/Gabriella Nunes

O ACNUR também apoia a estratégia de interiorização por meio de uma assistência financeira, o programa CBI (sigla em inglês para Cash Based Intervention). Sinoret e Glenda, assim como todas as mulheres empregadas presentes no voo de 8 de março, receberão esse apoio para que possam ter um recomeço mais digno e o poder de decisão sobre suas próprias necessidades. “A assistência financeira inicial contribui para que essas mulheres e suas famílias tenham suas necessidades básicas supridas durante o primeiro mês no local de destino, até o recebimento do primeiro salário. É algo essencial para que pessoas em situação de destacada vulnerabilidade possam acessar oportunidades de trabalho formal de maneira segura e sustentável”, destaca Thaís Menezes.

Esperançosa, Glenda já faz planos para o futuro. Em São Paulo, pretende aprender português e estudar Psicologia em uma universidade. “Além de trabalhar, quero estudar para ajudar outras pessoas que também estão precisando, que vêm ao Brasil pelos mesmos motivos que eu estou aqui. Estou nervosa, mas confiante de que terei um futuro muito melhor”.