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Aulas de alfabetização abrem portas para mulheres sírias no Líbano

Comunicados à imprensa

Aulas de alfabetização abrem portas para mulheres sírias no Líbano

Aulas de alfabetização abrem portas para mulheres sírias no LíbanoDiante de um quadro branco, Fatima Al Obeid escreve a letra “b” em árabe Ela chama uma aluna para escrever a palavra “beit”, que significa “casa” – também em árabe.
10 Agosto 2017

LÍBANO, 10 de agosto de 2017 – Diante de um quadro branco, Fatima Al Obeid escreve a letra “b” em árabe Ela chama uma aluna para escrever a palavra “beit”, que significa “casa” – também em árabe.

Entretanto, suas alunas não são crianças, e sim, mulheres adultas. Duas vezes por semana, Fatima ensina mães e avós sírias refugiadas a aprender a ler e a escrever em sua língua nativa. Para a maioria delas, é a primeira vez que frequentam uma sala de aula. Na Síria, elas não tinham a oportunidade de ir à escola.

As aulas de alfabetização para mulheres surgiram do desejo delas de ajudar seus filhos a se integrarem melhor no Líbano, onde vivem desde que deixaram a Síria no início do conflito. Muitas queriam ajudar seus filhos com os deveres de casa e ler o Alcorão. Além disso, elas queriam maior independência em seu novo país.

Fatima, 31 anos, estava estudando num curso de literatura árabe na cidade síria de Homs, quando o combate forçou sua família a buscar segurança no Líbano há cinco anos. Desde então, seus três filhos pequenos começaram a frequentar a escola libanesa. 

Após ver que muitos pais refugiados sírios expressavam constrangimento ao não poder ajudar seus filhos com os deveres de casa, ela resolveu fazer algo com suas próprias mãos. No início deste ano, decidiu começar aulas básicas de alfabetização em Fnaydek, sua comunidade ao norte do Líbano. O foco de Fatima são as mães, visto que elas ficam mais tempo em casa com seus filhos depois da escola.

“É um ótimo sentimento quando você vê que suas alunas estão melhorando na frente de seus olhos”, diz Fatima, que é voluntária como professora desde fevereiro. “Quando comecei a ensiná-las, elas estavam desconfortáveis e tristes, pois algumas delas não conseguiam nem segurar a caneta direito”.

As aulas acontecem geralmente em árabe e em francês. Ao menos 15 mulheres comparecem em cada aula. A idade das alunas varia entre 17 e 60 anos, sendo que duas possuem dificuldades de desenvolvimento. A inscrição é gratuita, sendo que o ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e organização internacional Save the Children fornecem livros e outros materiais de sala de aula.

As mulheres se orgulham de poder ajudar seus filhos com os deveres de casa. Ao menos 194 mil crianças sírias estão matriculadas em escolas primárias no Líbano, conforme o Ministério da Educação. A maioria participa das aulas no “segundo turno”, aulas especiais da tarde para os refugiados sírios.

“Meus cinco filhos estão todos na escola, da 1ª à 6ª série”, diz Ghalia Ahmed Ezzeiddine, 44 anos. “E eu estou na 1ª série também”.

Como várias de suas colegas, Ghalia diz que não via o valor da educação para si mesma, até que se tornou uma refugiada. Na Síria, ela conta, não era tão necessário ler e escrever. As pessoas davam as direções usando pontos de referência locais. Notícias importantes eram repassadas de boca em boca.

“Mas aqui, mesmo que falemos a mesma língua, este país não é nosso”, diz Ghalia sobre o Líbano. “Nós somos estrangeiros. Se recebo uma mensagem do ACNUR ou de outra organização, quero ser capaz de ler. Se minha filha me pergunta algo sobre seus deveres de casa, quero poder ajudá-la”.

As primeiras semanas de aula foram difíceis e muitas mulheres se sentiram sobrecarregadas. Para piorar as coisas, algumas enfrentaram críticas de seus maridos e colegas da aldeia. “Alguns maridos diziam: ‘Por quê? Agora você está velha. Não precisa disso’”, explica Fatima.