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Refugiados enviados de volta da Áustria encontram esperança na Croácia

Comunicados à imprensa

Refugiados enviados de volta da Áustria encontram esperança na Croácia

Refugiados enviados de volta da Áustria encontram esperança na CroáciaWissam e Ali se desanimaram quando foram enviados da Áustria para a Croácia devido às regras da União Europeia. Agora no novo país, eles estão construindo um futuro para eles e sua família.
5 Junho 2017

ZAGREB, Croácia, 01 de junho de 2017 – Wissam assiste seu filho brincando no parquinho do lado de fora do prédio. Próximo dali, Ali está se arrumando para uma entrevista de trabalho. Os dois refugiados iraquianos se desanimaram depois que a Áustria os enviou de volta para a Croácia, porém, agora que se estabeleceram em Zagreb, eles já começaram a recuperar sua esperança em relação ao futuro.

Wissam Al-Obaidi, 36 anos, e Ali Hussein Abalsad, de 27 anos, foram forçados a voltar para a Croácia de acordo com a Regulação de Dublin, que estabelece critérios para decidir quais países europeus deveriam considerar as aplicações de solicitantes de refúgio. No caso deles e de acordo com a lei, a Croácia era o país responsável por avaliar a solicitação.

“Foi um golpe terrível quando me mandaram de volta”, conta Ali. “Eu estava deprimido, não apenas por mim, mas por toda a minha família que aguardava no Iraque. Eu tinha me esforçado para aprender alemão e agora tinha que começar a aprender a falar croata”.

“Eu só queria um lugar seguro para a minha família”, diz Wissan. “Não fazia diferença se se fosse Áustria ou Alemanha. Vendo agora, eu acho que deveria ter solicitado refúgio na Croácia desde o início”.

A Croácia, que ainda se recupera dos conflitos iugoslavos dos anos 1990 que causaram um grande fluxo de refugiados da região, estava no centro de uma nova emergência entre 2015 e 2016 quando 650 mil solicitantes de refúgio do Oriente Médio e região cruzaram a fronteira para Tovarnik.

Desde então, devido ao acordo do plano de realocação da União Europeia, a Croácia também passou a receber solicitantes de refúgio da Itália e da Grécia. Para aqueles que têm suas solicitações de refúgio atendidas, o governo oferece benefícios sociais, e fornece dois anos de aluguel gratuito. Até recentemente, a Croácia não oferecia aulas de idioma para refugiados, porém, o Ministério da Educação já anunciou sua intenção de resolver essa questão.

“O sistema de integração não é totalmente institucionalizado”, diz Giuseppe Di Caro, o Representante do ACNUR em Zagreb. “Mas sou otimista em relação a isso. A Croácia é um país com uma alta qualidade de vida”.

Até chegarem à Croácia, Wissan e Ali superaram perigos, a separação de seus entes queridos e outras frustrações.

Wissan trabalhava como motorista de taxi e cabelereiro em Bagdá, enquando Ali, que é da província de Babil, costumava trabalhar como motorista de ônibus, umas das profissões mais perigosas no país. Os dois relatam que se sentiam constantemente ameaçados pela violência sectária.

Ao entregar mercadorias de cidade em cidade, Ali frequentemente era abordado por diversas milícias que extorquiam dinheiro, roubavam sua carga e ameaçavam sua vida. “Não aconteceu apenas uma vez”, ele conta. “Eles colocaram uma arma na minha cabeça e incendiaram minha casa”.

Desesperados, os dois homens seguiram a rota do refúgio, deixando esposas e filhos para trás. “Fiz isso por dois motivos”, ele conta. “Primeiro porque eu não tinha dinheiro para trazer todo mundo e segundo porque eu não queria expô-los aos riscos da travessia em um bote de borracha”.

Wissam teve suas impressões digitais recolhidas quando entrou na Croácia em setembro de 2015, mas conseguiu chegar a Áustria, onde passou sete meses em Viena, no centro de recepção Erdberg.

“Me voluntariei para consertar encanamentos e janelas e assim comecei a aprender alemão”, ele conta.

Ele ficou devastado com a notícia de que seria enviado de volta para a croácia.

“Fui rejeitado no primeiro posto”, ele conta. “Conversei com um advogado e ele entrou com um recurso. Mas antes que o recurso fosse considerado, a polícia apareceu às seis horas da manhã. Eles confiscaram meu celular e me algemaram. Não fui o único. Muitos outros foram detidos no mesmo momento”.

Ali conta uma história semelhante de uma batida policial na madrugada que o pegou de surpresa. Depois de 11 meses em Viena, ele já estava estabelecendo laços emocionais na Áustria. Ele já se sentia adotado por uma família austríaca.

Após serem detidos, os homens foram levados para o aeroporto. Enquanto isso, lá no Iraque, suas famílias não estavam sabendo de nada, já que Wissan e Ali não tinham como se comunicar.

No aeroporto de Zagreb, Wissam temeu que fosse ficar detido novamente e enviado de volta ao Iraque, mas ao invés disso, ele foi levado ao centro de recepção de Porin. “Lá era bom como se fosse um hotel”, diz ele, “Mas eu estava muito deprimido. Ficava deitado o dia inteiro e só levantava para comer. Estava exausto. Já havia esperado muito tempo na Áustria e, no final das contas, não deu em nada. Agora eu tinha que começar tudo novamente”.

“Depois de alguns dias, a polícia chegou e disse que eu tinha uma entrevista. E depois de 15 dias, eu tive uma segunda entrevista. Esse foi o primeiro passo para que eu sentisse esperança novamente”.

Os dois homens foram reconhecidos como refugiados na Croácia. “Quando estava detido na Áustria, pensei que fosse morrer”, Ali conta. “Aqui na Croácia, comecei a ter esperanças novamente. Sou muito grato ao governo da Croácia”.

Depois que se tornaram refugiados oficialmente, suas famílias tornaram-se elegíveis para solicitar a reunião. Em Bagdá, a esposa de Wissam, Shaemaa, que é professora de educação física, começou a arrumar suas malas e a dos filhos, Ahmed, de sete anos, e Yousif, de quatro. A família chegou em Zagreb em janeiro de 2017.

Shaemaa frequenta aulas de croata oferecidas pela Cruz Vermelha e os meninos estão no jardim de infância. Wissam trabalha em um lava-jato e se orgulha de conseguir ajudar a família com o que recebe por mês.

Já a reunião de Ali com sua esposa e seu filho de 3 anos pode demorar um pouco mais. Ele precisa urgentemente encontrar um emprego que o permita contribuir com os custos da viagem de sua família. Ele fez entrevistas em uma fábrica de sorvetes e em uma obra, mas não deu em nada. Mas agora ele espera conseguir emprego em um supermercado.