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Após perder perna, refugiado hondurenho encontra esperança no México

Comunicados à imprensa

Após perder perna, refugiado hondurenho encontra esperança no México

Após perder perna, refugiado hondurenho encontra esperança no MéxicoDepois que perdeu uma perna em um acidente de trem enquanto fugia da violência em seu país, Armando busca reunir-se com a sua família e retomar o seu sonho de ser músico no México.
4 May 2017

ACAYUCAN, México, 04 de maio de 2017 - Para salvar sua vida, aos 23 anos Armando* foi forçado a deixar tudo para atrás e ir para outro país. Trabalhando como motorista de táxi, uma das profissões mais perigosas em Honduras devido à violência, extorsão e impunidade, era impossível continuar vivendo em sua cidade, ele corria perigo a qualquer hora do dia. "Todo dia era um desafio para ir trabalhar, eu não sabia se voltaria para casa. Mas não tive escolha, eu precisava de dinheiro para viver e sustentar a minha irmã e minha mãe, que viviam comigo", disse Armando.

De acordo com os últimos dados divulgados pelo Observatório de Violência da Universidade Autônoma de Honduras, 162 motoristas foram mortos em 2016.

A quadrilha o ameaçava constantemente para que pagasse uma "taxa". Um dia, ele foi convocado para entregar o chamado “imposto de guerra”, como é conhecido na América Central, mas como não compareceu, sofreu um ataque. Armando atravessou Honduras e a Guatemala a pé e de ônibus. Quando finalmente cruzou a fronteira mexicana, embarcou no trem, mais conhecido como "a Besta". Depois de várias horas de viagem, entre o frio e o cheiro de animais mortos, o jovem foi empurrado para fora do vagão por pessoas que tentavam extorqui-lo. Na queda, teve a perna direita amputada pelo trem. O caminho que o trem percorre em direção ao norte é de mais de 4.000 quilômetros e os passageiros do chamado “trem da morte” geralmente passam dias sem comer e dormir. Já faz um tempo que os cartéis de drogas têm cobrado uma espécie de bilhete para os passageiros e quem não paga é brutalmente empurrado para os trilhos, onde muitos perdem membros do corpo e, por vezes, até mesmo a vida.

"No primeiro dia que o vi, ele estava na cama de um albergue com uma ferida exposta. Foi muito ruim. Naquele dia, tivemos que interná-lo no hospital. Quando o deixei, me pediu para que não o levassem de volta a Honduras, porque tinha muito medo", disse Azucena Méndez, representante do ACNUR em Acayucan, Sul do México.

Ele passou por uma cirurgia e foi acolhido por um albergue enquanto se recuperava e terminava seu processo de solicitação de refúgio na Comissão Mexicana de Ajuda a Refugiados (COMAR). Nas primeiras semanas, sua situação piorou e ele foi novamente internado no hospital, mas se recuperou graças aos cuidados de todos os solicitantes de refúgio que, como ele, estavam esperando a decisão sobre a sua solicitação. Dias depois, chegou outro jovem solicitante de refúgio, que também havia caído do trem e machucado gravemente a coluna vertebral, impossibilitando sua movimentação. Armando, em um ato de solidariedade, apoiou seu colega todos os dias para melhorar o seu ânimo.

De acordo com os últimos dados publicados pelo Comissário Nacional dos Direitos Humanos em Honduras (CONADEH), em outubro de 2014 houve 220 mortes violentas de taxistas em 34 meses, uma média de sete assassinatos por mês. A maioria dos motoristas mortos, de acordo com o relatório, foram antes extorquidos por uma ou várias gangues, e forçados a pagar milhares de Lempiras para trabalhar. Segundo o Observatório da Violência da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), entre janeiro e setembro de 2016, um total de 162 condutores foram mortos.

Diante a chegada de centenas de jovens, mulheres, crianças e adultos da América Central no México, o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, está trabalhando com o governo e com a sociedade civil para monitorar de perto a situação no campo, melhorar a capacidade de recepção, buscar alternativas à detenção - especialmente para menores de idade - e fortalecer atividades vitais, tais como o programa de assistência humanitária que em 2016 beneficiou mais de 4.500 solicitantes de refúgio e refugiados.

Atualmente, Armando trabalha em uma paróquia numa cidade pequena no México, como secretário oficial. Sob essa função, é responsável por atualizar e informar sobre as atividades diárias na paróquia, preparar documentos, marcar reuniões e cuidar da agenda de eventos como batizados, casamentos, comunhões e outras cerimônias.

Armando foi reconhecido como refugiado há poucos dias pelo governo mexicano e em breve dará entrada no processo de residência permanente no país. O jovem também espera receber sua prótese por meio de um programa do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). "Quando cheguei, senti como se estivesse preso em um país que não era meu, mas hoje agradeço ao ACNUR e ao albergue pelo apoio em todo o meu processo de solicitação de refúgio. Agora eu quero retomar a minha carreira como professor de línguas e quero ser músico, porque eu comecei com a música com 8 anos de idade, mas eu nunca pude exercê-la profissionalmente, porque não havia nenhum trabalho nessa área no meu país, e por isso virei motorista de táxi ", disse com um grande sorriso.

Outro sonho que Armando tem, é conhecer o seu filho, que está por nascer. Ele terá que solicitar a reunião familiar no México para a sua parceira hondurenha, que está no sétimo mês de gravidez, já que a vida dela e do bebê podem estar em risco, devido ao seu relacionamento com ele.

Não são apenas os jovens, são famílias inteiras que estão obrigas a sair de Honduras por causa da violência gerada por disputas entre gangues, extorsão, ameaças, recrutamento forçado, violência sexual, usurpação, expropriação e ocupação da terra e habitação, e a insegurança.

De acordo com informações fornecidas pela COMAR, em 2016 o México recebeu cerca de 9.000 pedidos de refúgio, dos quais mais de 91% eram de pessoas provenientes dos países do Triângulo Norte da América Central. O número de aplicações aumentou mais de 156% em relação a 2015. Com base na taxa de crescimento mensal de mais de 8% desde janeiro de 2015, e as alterações nas tendências de migração, o ACNUR estima que o número total de solicitações de refúgio em 2017 possa chegar a 22.000.

"Eu vi um menino de 23 anos sozinho, com medo e sofrendo. Agora, ao vê-lo sorrindo e trabalhando com entusiasmo para se recuperar, é que percebo o trabalho que realizamos se refletindo nos olhos de uma pessoa", conclui Azucena.

* Os nomes foram alterados por questões de proteção