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Milhares de pessoas deixam a RCA e procuram abrigo no sul do Chade

Comunicados à imprensa

Milhares de pessoas deixam a RCA e procuram abrigo no sul do Chade

Milhares de pessoas deixam a RCA e procuram abrigo no sul do ChadeÀ medida que a situação humanitária se deteriora na República Centro-Africana (RCA), milhares de pessoas traumatizadas pela violência buscam refúgio no sul do Chade.
17 Fevereiro 2014

BEKONINGA, Chade, 17 de fevereiro de 2014 (ACNUR) – À medida que a situação humanitária se deteriora na República Centro-Africana (RCA), milhares de pessoas traumatizadas pela violência buscam refúgio no sul do Chade.

Na fronteira de Bekoninga, uma multidão de mulheres e crianças foi reunida, as últimas 6 mil pessoas entraram no Chade por diversas rotas, incluindo Sido, no leste, e Bitoye, perto da fronteira com Camarões.

Equipes do ACNUR trabalham com as autoridades locais monitorando os recém-chegados, que são pré-registrados e transferidos para um campo de refugiados. O grupo de Bekoninga irá para o campo de Dosseye, cerca de 30 km de distância, onde receberão documentos, abrigo, comida, água potável e cuidados de saúde.

Na fronteira, aberta apenas para a circulação de pedestres, os refugiados parecem ansiosos e cansados, até mesmo as crianças estão angustiadas. São dezenas de milhares de pessoas que foram obrigadas a deixar suas casas para fugir de ataques brutais.

“Homens mascarados e usando facões mataram homens, mulheres e crianças na nossa vila, mataram todo mundo”, disse Adija*, de 60 anos, que morava na cidade de Paoua, no oeste da RCA. “Não sabemos o porquê”, disse.

Alguns dos refugiados passam semanas caminhando, muitos se separam de suas famílias no momento da fuga. “Não sei onde estão minha irmã e seus filhos, nos separamos quando corremos para o mato”, disse Halima*, uma mãe de três filhos de Paoua. “Eles devem estar em Camarões”.

Mahamat*, de 25 anos, veio de Bangui, capital da RCA, e levou mais de um mês para fazer a perigosa viagem. Ele escapou por pouco de morrer nas mãos de integrantes da antiga coalização rebelde Seleka. Ainda assim sua perda foi grande.

Ele contou que no início da recente onda de violência, em dezembro, uma noite os selekas entraram na casa da família, mataram seus pais e incendiaram tudo. Mahamat conseguiu pular o muro e ficou escondido na casa do vizinho por vários dias antes partir à pé para o norte do país.

“Tentei evitar as estradas principais. Realmente não pensei que iria para o Chade”, disse ele. “Uma vez no Chade, queria continuar até chegar em Gore (perto do cruzamento de Bekoning), mas as autoridades me disseram que o ACNUR estava vindo para cá”, acrescentou. Ele estava esperando pelo próximo comboio para o acampamento de Dosseye, onde espera encontrar alguma estabilidade. “Pelo menos vou poder comer”, disse ele com um sorriso.

Mais de 13 mil pessoas fugiram da RCA para o sul do Chade no ano passado. Desde o início de dezembro, cerca de 5.700 cruzaram a fronteira, cerca de 5 mil foram transferidos para os campos de refugiados de Dosseye (4 mil) e Belom. O ACNUR prevê a chegada de mais refugiados nas próximas semanas.

O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres, visitou Bangui na semana passada, afirmando que testemunhou “uma catástrofe humanitária de proporções indescritíveis”. Ele disse que uma “intensa limpeza étnica religiosa” continua e pediu a presença de mais soldados estrangeiros e da polícia para tentar restaurar a paz e acabar com a matança.

Em 2013, o ACNUR registrou cerca de 15 mil refugiados da RCA no Chade, elevando o total da população de refugiados da RCA no país vizinho para mais de 80 mil.

* Nomes alterados por questões de segurança.

Por M. Farman-Farmaian em Bekoninga, Chade.