Família síria que sonhava com uma nova vida recupera esperança
Família síria que sonhava com uma nova vida recupera esperança
KAHLOUNEYE, Líbano, 16 de fevereiro de 2017 (ACNUR) - Mais de 15 pessoas enchiam a pequena sala em um dia frio de inverno nas montanhas Shouf, no Líbano. Familiares, amigos e vizinhos estavam todos presentes para dizer seu último adeus à família de refugiados da Síria que partiria para uma nova vida nos Estados Unidos.
Alguns estavam rindo, outros choravam enquanto Abdel Moein Al Abed, de 37 anos, e sua esposa, Fatima, de 31, entravam e saíam da sala, roubando um beijo ou um abraço de seus entes queridos. Eles voltaram para fazer suas malas com seus filhos gêmeos de oito anos de idade, Mohamad e Jomaa, e a pequena Shahd, que tem cinco anos.
“Estávamos muito felizes, todos nós. Fiquei mais feliz ainda pelos meus filhos”, disse Abdel Moein, relembrando o momento em que recebeu o telefonema do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, dizendo que sua família estava sendo considerada para o reassentamento nos Estados Unidos. “Eu quero que eles tenham boa educação, um bom futuro”.
“Fiquei mais feliz ainda pelos meus filhos. Eu quero que eles tenham boa educação, um bom futuro”.
Agora, preparando-se para recomeçar em Tampa, na Flórida, a família estava entre as centenas de refugiados sírios cujas vidas foram postas em espera no mês passado, quando sua entrada nos Estados Unidos foi suspensa temporariamente. Para quem já esperou anos por uma chance de reconstruir suas vidas, a notícia foi devastadora.
“Fui informado de que minha data de partida era no dia 7 de fevereiro. Então nós nos preparamos e eu pedi demissão do meu trabalho. Arrumamos nossas malas e eu avisei ao proprietário do imóvel que estávamos mudando. Eu vendi a maior parte dos meus utensílios domésticos".
Mas a animação não durou muito. Abdel Moein estava assistindo as notícias quando ouviu sobre a ordem que parava o programa. Pouco depois disso, ele recebeu o telefonema que temia: seu reassentamento estava adiado, até nova ordem.
“Meu filho Mohamad estava tão animado que às vezes chorava e me perguntava: ‘Quando vamos subir no avião?’, Minha filha Shahd também fazia perguntas. Eu não sabia o que dizer. O que eu diria? Que estávamos prestes a viajar e agora não iríamos mais?”, disse Fatima.
Mas, uma semana depois, a esperança da família foi restaurada. “Eles me ligaram novamente no dia 5 de fevereiro e me disseram que agora poderíamos viajar. ‘A proibição foi revogada e agora você pode viajar’, disseram”.
A equipe de campo do ACNUR identifica e encaminha os refugiados mais vulneráveis para o reassentamento, como pessoas que precisam de assistência médica, sobreviventes de tortura e mulheres e crianças em risco. As verificações iniciais realizadas pelo ACNUR incluem verificação de documentos e biometria para constatar a identidade dos requerentes, além de uma avaliação de vulnerabilidade para confirmar sua elegibilidade para o reassentamento.
Os candidatos mais propícios selecionados pelo ACNUR são então submetidos a uma triagem detalhada pelas autoridades dos Estados Unidos, que conduzem seus próprios rigorosos processos de seleção e decidem sozinhos se aceitam ou não um refugiado para reassentamento.
O processo pode levar até dois anos e envolve checagens de segurança interagências, entrevistas presenciais, verificações de segurança biométricas, checagem de antecedentes, de diferentes bancos de dados de segurança e de agências do governo federal norte-americano.
Antes de embarcarem para os Estados Unidos, os candidatos aprovados passam por um curso de orientação cultural de cinco dias a fim de prepará-los para a vida em sua nova pátria, e que aborda questões como a escolaridade, saúde e emprego.
Quando chegam, são recebidos por agências locais de reassentamento, que fornecem alojamento e assistência financeira por um período inicial de três a quatro meses, bem como cursos de línguas e ajuda para encontrar trabalho.
Abdel Moein e Fátima já veem alguns desafios nesse recomeço, mas dizem que estão determinados a se integrarem o mais rapidamente possível em suas novas vidas. “Tudo será diferente lá. Será difícil no começo, e todos nós precisamos aprender inglês, mas vamos trabalhar duro, e vamos nos adaptar”, disse Abdel Moein.
Fátima quer assegurar às pessoas que têm preocupações sobre o programa de reassentamento de refugiados. “Nós fugimos da Síria por causa da guerra e dos problemas lá. Não estamos procurando problemas. Nós só queremos viver em paz e segurança".
Abdel Moein manifesta a confiança de sua esposa e diz que quer sentir-se parte da comunidade e contribuir com ela.
“Quero apresentar algo positivo. Quero que as pessoas pensem em mim como um muçulmano que tem algo positivo a dar. Isso ajudará a mudar a percepção que eles têm sobre nós”.
A família já está nos Estados Unidos.