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Refugiados sírios trazem vida à cidade alemã que enfrenta efeitos da redução populacional

Comunicados à imprensa

Refugiados sírios trazem vida à cidade alemã que enfrenta efeitos da redução populacional

Refugiados sírios trazem vida à cidade alemã que enfrenta efeitos da redução populacionalEm 2015, um grupo de crianças refugiadas sírias impediu o fechamento de uma famosa escola alemã e trouxe vida à cidade que sofre as consequências da diminuição do número de moradores. Dois anos depois, eles se tornaram parte essencial da comunidade.
10 Fevereiro 2017

GOLZOW, Alemanha, 10 de fevereiro de 2017 – “Não tínhamos uma vida na Síria, estávamos apavorados o tempo todo. Eu só queria paz, nada mais”, relata a refugiada síria Halima Taha, de 30 anos, que foi forçada a fugir de seu país há quatro anos com seu marido e seus três filhos. Ao chegar na Alemanha, eles se voluntariaram para ir para Golzow, uma pequena cidade localizada na fronteira com a Polônia.

Naquela época, Halima não fazia ideia sobre o que a chegada de sua família significava para os moradores do local. A cidade enfrentava uma situação de redução populacional que afetava negativamente a escola primária de Golzow, conhecida pelos fãs de cinema em todo o mundo como cenário de "The Children of Golzow", um épico documentário de 42 horas filmado ao longo de cinco décadas.

Ainda assim a fama da escola não foi suficiente para salva-la dos efeitos de um declínio progressivo. No intervalo de oito anos, a população de Golzow diminuiu 12%, totalizando em apenas 835 pessoas. Assim, em março de 2015, o inesperado aconteceu. Pela primeira vez, desde sua abertura em 1961, a escola não conseguiu atingir o número mínimo necessário para uma aula inaugural.

“Não tínhamos uma vida na Síria, estávamos apavorados o tempo todo.”

“Muitas pessoas se mudaram no último ano”, explica a diretora da escola, Gabi Thomas. “Pouquíssimas crianças frequentavam a escola. São elas que trazem movimento e vida, e isso é muito importante na área rural”.

A comunidade estava desesperada, temendo o fim da tão adorada escola. Foi quando o prefeito de Golzow, Frank Schütz, teve uma brilhante ideia. Ele solicitou às autoridades locais que buscassem famílias refugiadas com crianças em idade escolar que estivessem dispostas a mudar para algum dos diversos apartamentos vazios de Golzow. “Era uma vantagem recíproca, estávamos ajudando pessoas que nos ajudariam também”, disse o prefeito Schütz.

Após uma extenuante jornada de três anos e meio entre a Síria e a Alemanha, Halima e sua família haviam acabado de chegar, totalmente exaustos, ao centro de recepção em Eisenhüttenstadt, localizado a sessenta quilômetros de distância.

Quando perguntaram se eles gostariam de se mudar para um apartamento doado em uma cidade próxima, eles não hesitaram e concordaram na hora.

“Não nos importava para onde estávamos indo desde que fosse um lugar limpo e com boas pessoas”, disse Halima. “Nós pensamos, ´por que não?´”. Meses depois, Halima, sua família e outra família síria chegaram e Golzow, trazendo com eles seis crianças em idade escolar que precisavam estudar e que chegaram no início das aulas.

Apesar de serem um pouco mais velhos que os outros colegas de classe, três jovens recém-chegados juntaram-se à aula inaugural, totalizando o número mínimo necessário de 15 pessoas. Todos saíram ganhando, o ano letivo foi salvo e os sírios ganharam um novo lar.

Kalama, a filha de Halima de 10 anos, se adaptou rapidamente à nova vida. “Muitas coisas são diferentes por aqui, claro”, ela nos conta durante o intervalo rodeada por um grupo de colegas alemães.

Apesar de Kamala e sua família serem mulçumanos, ela gosta de aprender os costumes alemães. “Na Síria, não celebramos natal, páscoa ou Dia das Bruxas”, ela diz em alemão quase fluente. “Eu gosto mais da páscoa porque saímos para procurar ovos de chocolate”.

Kamala é uma aluna brilhante que agora passou para a terceira série e suas matérias favoritas são matemática, música e educação física. Fora da escola, ela se mantém ocupada jogando badminton com seus amigos no clube ou aprendendo a andar de pônei.

“Eu gosto mais da páscoa porque saímos para procurar ovos de chocolate.”

“Eles querem saber mais sobre nós e nós queremos saber mais sobre eles”, disse Kamala sobre seus colegas de classe alemães. “Tem tanta coisa para contar e explicar. Ás vezes eu traduzo para os outros em árabe ou alemão”.

Halima e Fadi, os pais de Kalama, também já estão tão bem estabelecidos que muitas vezes atuam intermediando contatos entre os locais e os recém-chegados. Em fevereiro do ano passado, eles ajudaram a receber uma terceira família síria em Golzow.

“Nós os ajudamos como entender como funcionam onde podem encontrar o que precisam e como funcionam os serviços”, diz Halima, que acredita que isso é o mínimo que podem fazer depois de terem sido tão bem recebidos pelos moradores da cidade.

“Todos vieram para nos recepcionar com flores”, lembra-se Halima. “Eu fiquei muito surpresa, não conseguia parar de chorar. Se chegarem novas famílias, elas serão muito bem recebidas. Golzow é muito receptiva, é uma cidade bem pequena e as pessoas são realmente incríveis”.

Halima e sua família foram reconhecidos como refugiados e agora têm um visto que permite que vivam e trabalhem na Alemanha pelos próximos três anos. Halima trabalha meio período como tradutora de árabe para uma instituição de caridade alemã que ajuda solicitantes de refúgio. Enquanto isso, Fadi está procurando emprego e treinando para seu teste de direção. Ele também gosta de pescar e de cuidar de seu jardim comunitário com seus vizinhos.

Ainda que tenham tido êxito em sua adaptação na pequena cidade alemã, Fadi e Halima sentem falta da vida na Síria. “Ás vezes é difícil”, diz Fadi, de 40 anos, que trabalhava no ramo imobiliário em Latakia, sua cidade. “Vivíamos bem na Síria, mas tivemos que sair de lá por causa da guerra. Agora estamos tentando reestruturar nossas vidas. Aqui, todo mundo se ajuda. Golzow é uma segunda família para nós. Mas com certeza, tudo que queremos é que o sangrento conflito sírio termine para que possamos voltar para casa”.

“Gostaria de um dia poder voltar para a Síria com os meus filhos”, concorda Halima. “Afinal de contas, lá é o nosso lar. Enquanto esperamos, as crianças devem aprender, estudar e conquistar boas carreiras. Pelo menos aqui vivemos em segurança”.