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Família deslocada de Mossul denuncia tortura

Comunicados à imprensa

Família deslocada de Mossul denuncia tortura

Família deslocada de Mossul denuncia torturaHaidar e sua irmã duvidaram que iriam sobreviver à tortura de extremistas na segunda maior cidade do Iraque. Agora, com a ajuda do ACNUR, eles relatam suas experiências.
16 Janeiro 2017

DOHUK, Iraque, 16 de janeiro de 2017 (ACNUR) -  Toda vez que Haidar* vê um carro preto atravessando o acampamento para iraquianos deslocados, o jovem de 20 anos teme que seja alguém querendo sequestrá-lo.

Cinco meses antes, Haidar foi arrancado por extremistas de sua cidade natal, Mossul, e levado diante de um tribunal.

"Meus olhos foram vendados e um juiz me acusou de postar poemas provocativos na internet", lembra.

"Eu neguei as acusações e soube que eles só tinham me levado porque meu pai trabalhava para as forças iraquianas. Eu não sabia que eles também haviam levado minha irmã, Zaineb, até eu a ouvir em outro quarto implorando para que nos liberassem".

“Eles colocaram fios elétricos na minha língua e me deram choques, dizendo que era porque eu falava contra eles”.

Mais de 100 mil moradores de Mossul e de seus arredores fugiram desde que as forças do governo lançaram uma ofensiva, em 17 de outubro de 2016, para retomar a segunda maior cidade do Iraque.

Algumas pessoas, como Haidar e Zaineb, que agora estão a salvo e sob os cuidados do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, na região do Curdistão do Iraque, relatam as terríveis sanções sofridas sob o regime extremista.

Levado por seus sequestradores do tribunal em Mossul para uma prisão, Haidar fica agitado ao relatar como os irmãos foram separados. Então a tortura começou.

 “Durante um período de 18 dias, eles colocaram fios elétricos na minha língua e me deram choques, dizendo que era porque eu falava contra eles. Eles me penduravam de cabeça para baixo e me batiam no rosto, nas costas e nas pernas com mangueiras. Foi tão doloroso que pedi que me matassem com um tiro. Eles disseram que não me dariam esse presente, mas falaram que um dia eu seria executado”.

Em outra parte da prisão, Zaineb, que foi acusada de ser uma bruxa, foi forçada a assistir outras mulheres presas serem executadas. A jovem de 23 anos de idade fala de forma suave e triste. “Eles decapitaram duas mulheres na minha frente. Uma delas era uma policial”.

“Quanto a mim, levei muitos choques dos fios elétricos colocados na minha cabeça, nariz e pernas. A dor era insuportável. À noite eu ia dormir e sabia que acordaria no dia seguinte e seria torturada novamente”, diz Zaineb. “Todos os dias, eu tinha certeza de que iria morrer”.

Enquanto estavam detidos, a mãe dos irmãos, Rima, de 50 anos, passava todos os dias no tribunal dirigido pelos extremistas, pedindo pela liberdade de seus filhos. No vigésimo dia de cativeiro, Haidar e Zianeb foram finalmente libertados, sem explicação. Rima teve que pagar mil dólares para eles fossem liberados.

Os irmãos estão agora com 16 outros membros da família em um acampamento do ACNUR. Mas eles continuam lutando com as memórias da tortura e da violência que testemunharam.

“Eu sinto que não acabou, que eles vão voltar para me pegar novamente”.

“Eu sinto que não acabou, que eles vão voltar para me pegar novamente”, diz Zaineb. “E eu preciso de um médico. Eu sinto dor em diferentes partes do meu corpo por causa dos choques elétricos. Eu não me sinto mentalmente bem, eu preciso de alguém para sentar e conversar”.

Seu irmão concorda. “Eu também quero ver um médico, porque tenho dificuldade de falar após os choques que recebi na língua”.

Com o número de deslocamentos de Mossul aumentando, o ACNUR está empenhado em fortalecer o apoio psicossocial e serviços de aconselhamento nos seis acampamentos que foram abertos desde o início da libertação da cidade, há mais de dois meses.

Muitos dos que abandonaram Mossul testemunharam a morte de parentes, amigos e vizinhos, e lutam contra essas lembranças. Nos acampamentos recentemente inaugurados, o ACNUR e seus parceiros estão fornecendo os primeiros socorros psicológicos, que incluem aconselhamento especializado conhecido como “escuta reflexiva”, bem como avaliação das necessidades e ajuda adequada.

Agentes de proteção do ACNUR visitam regularmente Haidar, Zaineb e sua família e estão organizando atendimento médico e apoio psicológico por meio de uma ONG local. Depois de uma experiência tão angustiante, eles finalmente podem olhar para o futuro.

“Estamos muito felizes por estarmos no acampamento”, diz Haidar. “É o melhor momento que tivemos em dois anos. Estávamos vivendo no inferno. Agora sentimos que renascemos”.

A resposta de emergência do ACNUR em Mossul conta com menos que metade do valor total solicitado para atender as demandas existentes. O ACNUR lançou uma campanha de arrecadação de recursos para cobrir as lacunas de investimentos necessários ao bem-estar da população civil da cidade. Doações podem ser feitas diretamente aos projetos no Iraque clicando aqui.

*Todos os nomes foram alterados por razões de proteção.