Refugiados sírios transformam crise em dramaturgia
Refugiados sírios transformam crise em dramaturgia
ZAATARI, Jordânia, 04 de novembro de 2016 – Em meio ao corriqueiro alvoroço do cotidiano no campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, algo fora do comum está acontecendo em um dos quintais dos milhares de abrigos que existem por lá. Pouco mais de dez refugiados estão muito ocupados erguendo sets de filmagem, arrumando luzes e câmeras e preparando maquiagens e figurinos.
Ahmed Hareb e seus amigos estão prestes a iniciar as filmagens de sua novela intitulada Ziko & Shreko. A dramatização busca trazer um toque de humor às graves questões que afetam os refugiados sírios, incluindo temas como trabalho infantil e casamento precoce. Enquanto ensaiam durante o dia, à noite eles aproveitam a eletricidade fornecida para filmar.
“No começo, quando os vizinhos escutavam os barulhos, eles vinham olhar surpresos o que estávamos fazendo, mas agora já se tornou normal”, explica Ahmed, um refugiado de 34 anos que veio de Dara’a, sul da Síria.
A ideia de fazer uma novela veio depois que Ahmed e um grupo de outros 25 refugiados entusiastas da arte dramática encenaram com sucesso uma série de peças no campo. Eles queriam que o trabalho não ficasse restrito aos palcos e que mais pessoas pudessem assisti-las.
“Quando eu subo no palco, me esqueço do público e dos meus medos”.
Eles planejam dedicar cerca de seis episódios de cinco minutos de duração à cada questão, antes de abordar o próximo assunto e apresentar novos personagens. O grupo tem muitas ideias para novas cenas. “Nós poderíamos fazer uma série interminável no estilo de ‘Friends’”, disse Ahmed, referindo-se a famosa série norte-americana que durou uma década.
Ahmed começou a atuar aos 15 anos em uma escola especializada para jovens com deficiência na Síria. Uma disfunção muscular hereditária exige que ele use muletas e uma lambreta especialmente adaptada para circular pelo acidentado terreno do campo.
O palco lançou um feitiço instantâneo sobre o jovem, que gastava seu auxílio mensal destinado a comida para ver peças no teatro local. Ele se tornou assistente de direção da companhia da escola e atuava como protagonista nas produções.