Professor voluntário dá aulas para jovens em campo de refugiados na Etiópia
Professor voluntário dá aulas para jovens em campo de refugiados na Etiópia
ETIÓPIA, 12 de outubro de 2016 (ACNUR) - Alnur Burtel já é um senhor, mas se lembra com clareza o quanto seus professores universitários no Sudão, seu país de origem, inspiraram nele o gosto pelos estudos para se ter um futuro melhor.
Hoje, aos 71 anos de idade e vivendo em um campo de refugiados na Etiópia desde 2011, ele espera desempenhar um papel semelhante para jovens sudaneses que vieram parar aqui, um lugar onde não há muito estímulo para inspirações e motivações.
“A educação é essencial para a vida e para o desenvolvimento”, diz Burtel, em frente ao Light Language Centre, o centro de ensino criado por ele, localizado no campo de Sherkole, no oeste da Etiópia. Ele mesmo construiu o pequeno espaço e dá aulas de inglês e educação cívica para adolescentes e jovens adultos refugiados que não tiveram acesso à uma educação adequada nem formação profissional.
“Educação é essencial para a vida e para o desenvolvimento”.
“Jovens refugiados que não estudam estão desperdiçando suas vidas”, acrescentou. “É hora de resolver essa situação. Esses jovens são o futuro de nossos países”.
Quando ainda vivia no Sudão, Burtel dava aulas de inglês nas escolas locais e na Omdurman University. “Eu pensei: vamos alimentar essas mentes. Se eu conseguir mudar a vida de pelo menos um deles, já vai fazer diferença”.
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) ajuda a gerir o campo de Sherkole, onde Burtel e outros 11.200 refugiados vivem, a maioria proveniente do Sudão. O ACNUR faz o que é possível para oferecer educação, mas seus recursos estão escassos – o valor que a Agência solicitou para a Etiópia só foi suprido em 35%, havendo um déficit de 181 milhões de dólares. Isso significa que a educação acaba sendo colocada em segundo plano para que seja possível oferecer aos refugiados condições básicas de moradia, alimentação e assistência à saúde.
É por isso que a ajuda de voluntários comprometidos como Burtel se torna essencial para preencher essas lacunas. Ele e outros dois colegas refugiados e voluntários dão aulas de inglês, educação cívica, noções de direito, e o que Burtel chama de “coexistência pacífica” para 130 alunos. O ACNUR e a ARRA, Agência para Refugiados do Governo Etíope, contribuíram fornecendo dois quadros-negros e giz.
Burtel é de Kauda, uma cidade localizada nas montanhas de Nuba, ao sul do Sudão, onde o conflito entre rebeldes e as forças do governo eclodiu novamente em 2011. O dia em que ele e sua esposa foram forçados a fugir, em junho daquele ano, ficou conhecido como “o dia em que as pessoas de Nuba foram massacradas”, ele se lembra com os olhos cheios de lágrimas. Seus dois tios foram assassinados e sua casa destruída. “Eu deixei tudo para trás, exceto meu conhecimento. Eu sonho em desenvolver serviços de educação para os jovens. Eu os incentivo a trocar informações e isso ajuda a aumentar sua autoconfiança”, disse o professor voluntário.
“Eu tenho vários alunos que são brilhantes e que só precisam acreditar mais neles mesmos”.
O Light Learning Centre foi aberto em janeiro deste ano e, mesmo nesse curto período, os alunos de Burtel já reconhecem o resultado de suas aulas e estão comprometidos em continuar seus estudos.
“Antes eu não entendia muito bem a importância de estudar”, disse o refugiado sudanês Emoel Yakub, de 27 anos. “Com Alnur, não estou apenas aprendendo a falar inglês, mas também compreendendo que precisamos respeitar uns aos outros. Estamos nos tornando pessoas melhores e mais responsáveis, e assim teremos chance de um futuro melhor”.
Yakub e diversos outros alunos do Light Learning Centre estão pondo em prática o que Burtel lhes ensinou, compartilhando conhecimentos para as crianças refugiadas do campo.
Sirak Sileshi, integrante da equipe de proteção do ACNUR em Sherkole, elogia Burtel por agregar essas valiosas lições de humanidade ao seu currículo.