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Dia das Crianças celebra o convívio entre brasileiros e refugiados no Rio

Comunicados à imprensa

Dia das Crianças celebra o convívio entre brasileiros e refugiados no Rio

Dia das Crianças celebra o convívio entre brasileiros e refugiados no RioApostando na convivência, uma grande festa reuniu brasileiros e refugiados no último sábado para um dia de encontro, música, brincadeiras e diversão.
11 Outubro 2016

RIO DE JANEIRO, 11 de outubro de 2016 - Quando o colombiano Sebastián, de 9 anos, rebentou em choro e correu para os braços da mãe, a festa para celebrar o Dia das Crianças dos meninos e das meninas em situação de refúgio no Rio de Janeiro não tinha sequer chegado à metade. Parecia que algo de mau havia sucedido, mas o real motivo das lágrimas tinha a ver, no fundo, com um certo excesso de euforia e diversão.

"Ele gritou tanto que perdeu a voz e então se desesperou, achando que nunca mais conseguiria falar nem cantar", explicou a mãe, Ninibe, achando graça da situação.

Esse era o clima do último sábado no Orfeão Português, o clube da Zona Norte do Rio de Janeiro onde dezenas de crianças receberam passe livre para se divertirem durante 7 horas ininterruptas de atividades e brincadeiras. A festa, organizada pela empresa de seguros Prudential do Brasil em parceria com a Cáritas RJ, mobilizou cerca de 60 voluntários, dedicados exclusivamente a garantir um dia inesquecível para a garotada.

Foi assim que, em meio a bolas, balões e bambolês, Sebastián ficou afônico. Mas não demorou muito para ele mesmo perceber que não precisava da voz para brincar e, minutos depois, voltar a correr, pular e dançar. Em outro momento, mais tranquilo, era possível vê-lo aprendendo a customizar fantasias ao lado do novo amigo Max, brasileiro de 10 anos, que pouco antes jogava bola com o congolês Enock.

As nacionalidades eram um detalhe insignificante para as crianças. Não havia fronteiras. Fosse no futebol ou no pique-pega, todas se comunicavam em português, algumas com mais sotaque do que outras, mas nenhuma com discriminação. O convívio e o respeito eram os princípios tácitos que regiam as relações e a festa como um todo.

A brasileira Cristal Figueiredo viu que a celebração seria aberta ao público e propôs ao marido que levassem as duas filhas, de 3 e 4 anos. "Nós gostamos dessa interação e achamos que isso faz muito bem para a infância das nossas meninas. Elas vão crescer com uma visão diferenciada", disse, enquanto observava as filhas em intensa troca com as crianças refugiadas.

Já nos momentos finais da festa, a cantora pacifista Ingrid Soto, de 14 anos, fez uma apresentação musical e avisou que haveria uma surpresa. Era a senha para a distribuição dos brinquedos, arrecadados em São Paulo pela ativista mirim. Um presente de criança para criança.

"Há quatro anos faço campanhas em prol das crianças refugiadas e já estava com vontade de estendê-las para outras cidades, como o Rio de Janeiro", explicou Ingrid Soto. "Foi muito gratificante vir aqui e fazer a distribuição dos brinquedos. Essas crianças precisam voltar a sonhar e a ter esperança em um futuro melhor."

Se os pequenos reaprendiam a sonhar, os adultos renovavam as energias. Como a congolesa Eugénie, que levou os três filhos e aproveitou para descontrair um pouco. "Quando você fica em casa, só pensa nos problemas. Sair é uma distração, nos faz muito bem. Gostei da festa, as crianças estão brincando muito."

A festa pelo Dia das Crianças foi o ápice de uma semana que incluiu também um passeio ao teatro na quinta-feira. Refugiados e solicitantes de refúgio tiveram a oportunidade de assistir à peça "Por que nem todos os dias são de sol", que integrou a programação do Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens.

Com o auxílio de diferentes técnicas de teatro, foram narradas quatro histórias inspiradas no universo infantil. O colombiano Sebastián também esteve lá e, dessa vez, com pleno domínio da voz, elogiou o espetáculo. "Foi muito legal, gostei de tudo! É como cinema, só que na vida real", contou.

A tarde de teatro também divertiu adultos. A congolesa Karine, que ainda não conseguiu trazer ao Brasil seu único filho, de 4 anos, compartilhou a lição que tirou das histórias apresentadas. "Muitas pessoas costumam negligenciar as crianças e não lhes dão o amor necessário, mas a peça passou a mensagem de que elas precisam de afeto. Temos que amá-las e apoiá-las sempre."

O crescimento no número de refugiados no mundo e no Brasil vem acompanhado do aumento no total de crianças obrigadas a deixar suas casas por guerras ou perseguições. No estado do Rio de Janeiro, 13% do total de pessoas refugiadas e solicitantes de refúgio são crianças ou adolescentes. Houve um crescimento de quase 50% na chegada de menores de idade ao RJ, em 2015, em relação ao ano anterior, um quadro que evidencia a necessidade de maior atenção a refugiados dessa faixa etária.

Nesse sentido, a Cáritas RJ e a Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cededica), órgão da Defensoria Pública do Estado do Rio, irão realizar em novembro uma capacitação dos conselheiros tutelares do Rio de Janeiro para formação de uma rede de apoio, atendimento e proteção de crianças e adolescentes em situação de refúgio. O objetivo é garantir que esses meninos e meninas tenham respeitados seus direitos nessa nova fase da vida, no Brasil.

Por Diogo Felix