Refugiados ruandeses voltam para casa após décadas em Angola
Refugiados ruandeses voltam para casa após décadas em Angola
LUANDA, Angola, 06 de outubro de 2016 (ACNUR) – O marido de Musabyenamariya Fratenata morreu há cinco anos, deixando-a com a difícil tarefa de conseguir recursos para criar sozinha seus seis filhos em Angola.
Originalmente de Ruanda, ela fugiu durante os horrores do genocídio de 1994 e é refugiada desde então. Agora, está finalmente voltando para casa.
“Um longo tempo se passou desde que eu deixei Ruanda e eu não consigo imaginar como tudo está agora, mas estou muito animada em voltar e finalmente ver a minha família novamente”, disse Fratenata enquanto fazia as malas e se preparava para deixar Angola, país que foi sua casa por 18 anos e local de nascimento de todos os seus filhos.
“Meus irmãos mais novos eram muito pequenos e eu não consigo me lembrar deles muito bem e nem eles de mim. Quero que conheçamos uns aos outros”.
Fratenata e sua família estão entre os 340 ruandeses que vivem em Angola e cujo estatuto de refugiados tem fim previsto para setembro. A mudança está incentivando muitos deles a considerar uma volta para casa. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) está pronta para ajudar todos os que desejam voltar para Ruanda, como parte do esforço global para encontrar soluções duradouras para os refugiados de longo prazo.
“Durante anos, a comunidade ruandesa em Angola estava cética sobre voltar para Ruanda.”
“Durante anos a comunidade ruandesa em Angola estava cética sobre voltar para Ruanda”, disse Manuel Abrigada, Chefe Sênior Adjunto de Proteção do ACNUR em Luanda, capital da Angola. As razões incluíam preocupações históricas em relação à insegurança e preocupações mais recentes em relação à integração em suas comunidades de origem, depois de ficarem tanto tempo fora.
“No entanto, com o feedback das poucas famílias que estão voltando, eles estão começando a mudar de ideia”, disse Abrigada. “O repatriamento está se tornando mais atraente para os refugiados ruandeses e muitos estão considerando voltar para casa”.
Estima-se que 800 mil ruandeses, a maioria tutsis e hutus moderados, foram mortos por seus compatriotas hutus em 1994. O motivo foi o tiroteio contra o avião do então presidente Juvenal Habyarimana em 6 de abril de 1994.
Fratenata, de 38 anos, disse não saber ao certo o que reserva o futuro assim que voltar para Ruanda, lugar do qual fugiu aos 16 anos, quando a violência étnica tomou conta do país.
Quando consegue pagar a tarifa das ligações, ela fala pelo telefone com seus pais e parentes que ficaram em casa e diz que eles estão muito animados para recebê-la de volta. Ela estava entusiasmada com a fato de que o ACNUR ajudaria a sua família a se estabelecer uma vez que chegassem à região rural de Ruanda.
“Minha família está me esperando e eles vão nos ajudar”, disse. “Vou trabalhar na agricultura com os meus parentes e, no início, meus pais vão me ajudar a mandar meus filhos para a escola”.
O filho mais velho de Fratenata, Lambert, de 17 anos, foi forçado a abandonar a escola depois da morte de seu pai, pois a mãe não tinha condições de pagar as taxas escolares. Ele está animado em recomeçar seus estudos assim que voltar para Ruanda.
“Vou sentir muita falta da igreja e dos meus amigos angolanos, mas eu espero terminar meus estudos em Ruanda e me inscrever em uma universidade para estudar contabilidade”, disse Lambert.
“Eu nunca tinha ido a Kigali antes, mas estamos habituados a vê-la na televisão e é totalmente diferente do que eu pensava”.
Para seus irmãos mais novos, existe apenas a emoção de viajar para o lugar que dizem ser o seu lar, mesmo que eles nunca tenham ido até lá. Nizeyimana e Sebastião, dois dos irmãos de Lambert, riem e dizem juntos: “Nós somos ruandeses”.
A família de Fratenata não é a primeira de refugiados ruandeses que viviam em Angola a voltar para casa. Outras famílias já se mudaram, dentre elas a dos irmãos Uwizeyimana Donatien e Ndasyisabye Donath, que agora estão em casa depois de 22 anos fora.
“Ao chegar em Ruanda, tudo era muito novo”, disse Uwizeyimana, de 33 anos, que trabalhava em um cybercafé em Luanda. “Eu nunca tinha ido a Kigali antes, mas estamos habituados a vê-la na televisão e é totalmente diferente do que eu pensava”.
Seu irmão disse que antes de deixar Angola ouviu muitos rumores sobre os perigos de voltar para casa.
“As pessoas costumavam dizer que não há segurança e liberdade em Ruanda”, disse.
“Eles nos disseram que se voltássemos, seríamos presos, mas eu consigo ver no que Ruanda tem se transformado. Foi apenas fofoca”.