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Refugiados da América Central continuam chegando ao México

Comunicados à imprensa

Refugiados da América Central continuam chegando ao México

Refugiados da América Central continuam chegando ao MéxicoHonduras, assim como El Salvador e Guatemala, é uma das regiões mais perigosas do mundo fora de zonas de guerra. Quadrilhas criminosas transnacionais, conhecidas como maras, expandem-se e são em grande parte responsáveis pelas altas taxas de homicídio.
22 Setembro 2016

MÉXICO DF, 22 de setembro de 2016 (ACNUR) – Rafael abandonou seu bairro, sua cidade e seu país, Honduras, depois de perder seu pai simplesmente por ter denunciado um membro de uma gangue que havia roubado sua bicicleta. Além disso, ele e sua família receberam ameaças depois que ele testemunhou um confronto entre dois grupos de maras em seu bairro.

“Eu estava atrás de uma janela quando assassinaram meu pai a golpes de facão”, disse Rafael, comovido, ao se lembrar do atroz episódio que mudou sua vida em plena adolescência.

Rafael nunca mais se recuperou depois do assassinato de seu pai. Ele começou a ter problemas psicológicos e emocionais, uma mistura de depressão com sentimento de ódio e vingança. Abandou a casa de sua mãe e foi viver na rua com a intenção de procurar o assassino de seu pai, e um dia o encontrou.

“Eu me lembro daquele momento, daquele segundo que estava atrás dele com uma faca. Não consegui reagir. Comecei a tremer e fui embora”. Essa experiência extrema impulsionou Rafael a retomar seus estudos e a se tornar professor.

Quando terminou seus estudos, Rafael iniciou uma nova vida e formou uma família com cinco filhos. Ele vivia em uma colônia que se localizava entre dois territórios controlados por gangues, em San Pedro Sula, a segunda maior cidade de Honduras e uma das mais violentas do mundo.

Diante das constantes ameaças das gangues e também para evitar o recrutamento forçado de seus filhos, Rafael e sua família decidiram deixar tudo e buscaram proteção no México, onde vivem atualmente como refugiados.

“No meu país, não há para onde ir. Tudo está controlado por estas pessoas e temos que obedecer suas ordens, pois caso contrário te matam. Simples assim”, relata Rafael, balançando sua cabeça e demonstrando resignação pelo que acontece em Honduras.

Atualmente, sua situação econômica é muito precária. Os sete vivem em um apartamento de dois quartos e dividem uma cama de casal. Não há cadeiras para se sentarem, apenas um velho sofá colocado em um canto escuro debaixo da única janela do apartamento que tem vista para a rua.

Ainda que continue tendo pesadelos, Rafael agora sorri, vive, já que pode sair de casa e vender pães duas vezes por dia em sua bicicleta pelas ruas de seu novo bairro. Seus filhos puderam voltar à escola e brincar nos parques sem medo de encontrar criminosos que os obriguem a entrar para a gangue. Tudo isso com a ajuda da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e seus parceiros, que acompanharam todo o processo de solicitação de refúgio e de integração local.

“Em Honduras eu estava sempre no telefone com o meu filho: quando ele saía de casa para ir à escola, durantes as aulas e durante seu retorno para casa. Estes criminosos estão por toda a parte. Já não existem lugares seguros em San Pedro Sula”.

Para incorporar mais membros aos grupos, as gangues de Honduras frequentemente tentam exercer sua influência e recrutar de maneira forçada crianças em escolas públicas e instituições educacionais nas áreas em que operam, inclusive fazendo-se passar por estudantes.

Por outro lado, os professores e outros educadores que trabalham nas regiões do país onde as quadrilhas atuam, frequentemente se veem sujeitos à extorsão. Em Tegucigalpa, por exemplo, mais de 500 escolas sofrem extorsões de quadrilhas. Quem não paga acaba sofrendo ameaças ou morre. Entre 2009 e 2014, 83 professores e educadores foram assassinados em Honduras.

Honduras registra uma das mais altas taxas de homicídio do mundo, atribuídas às atividades criminosas das quadrilhas e ao narcotráfico. São cerca de 60 homicídios a cada 100.00 habitantes, seis vezes mais do que a média mundial de 8,9% a cada 100.000 habitantes, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em Honduras, todos os dias acontecem muitos casos como o de Rafael. Uma grande porcentagem desta população foge por viver em comunidades inseguras, por receber ameaças, pelo assassinato de algum familiar, pela extorsão, pelo recrutamento forçado feito pelas quadrilhas, por desapropriações, entre outros motivos.

No primeiro semestre de 2016, o número de hondurenhos que solicitaram refúgio no México teve um aumento de 150% em relação aos seis primeiros meses do ano passado.

Por Francesca Fontanini.