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Equipe Olímpica de Atletas Refugiados faz história nos Jogos Rio 2016

Comunicados à imprensa

Equipe Olímpica de Atletas Refugiados faz história nos Jogos Rio 2016

Equipe Olímpica de Atletas Refugiados faz história nos Jogos Rio 2016Rose Lokonyen, 23 anos, lidera a equipe de 10 atletas que desfilou sob a bandeira do Comitê Olímpico Internacional.
5 Agosto 2016

RIO DE JANEIRO, Brasil, 5 de agosto de 2016 (ACNUR) – Na noite de 5 de agosto, dez atletas refugiados fizeram história ao desfilar sob calorosos aplausos no famoso Estádio Maracanã, durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

Rose Nathike Lokonyen, corredora do Sudão do Sul, liderou a primeira Equipe Olímpica de Atletas Refugiados portando a bandeira do Comitê Olímpico Internacional (COI) e sob gritos de apoio de uma multidão em êxtase.

Os jovens atletas, originalmente do Sudão do Sul, Síria, República Democrática do Congo e Etiópia, ganharam amigos e admiradores no Brasil com suas surpreendentes histórias de superação.

Rose tinha oito anos quando fugiu da guerra e encontrou segurança no campo de refugiados de Kakuma, localizado no remoto no norte do Quênia, onde tem vivido desde então.

"Estou muito animada. Esta é a primeira oportunidade que os refugiados temos de participar nos Jogos Olímpicos e de nos dar esperança, para que possamos encorajar as novas gerações de compatriotas refugiados que permanecem nos campos e, lá, desenvolvem seus talentos ", disse ao ACNUR, em entrevista antes do cerimônia.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enviou uma mensagem de apoio aos atletas refugiados pouco antes de a equipe chegar ao estádio e se apresentar aos anfitriões brasileiros.

"Hoje à noite, a primeira Equipe Olímpica de Atletas Refugiados da história também estará diante do mundo para provar que, independente de onde você seja, também pode chegar onde almeja", declarou ele.

Para Rose e seus companheiros de equipe, a perspectiva de uma aparição nos Jogos Olímpicos - o auge da realização desportiva - era um sonho muito distante e improvável até alguns meses atrás.

"Para nós, tudo começou há apenas alguns meses, então não podemos comparar nossas performances à dos atletas de alto nível, mas vamos tentar o nosso melhor resultado... Ser um refugiado não significa que você não é um ser humano como os outros, ainda que tenhamos passado por momentos difíceis. Podemos fazer o que os outros podem fazer", disse ao ACNUR em recente entrevista, ao final de um treino intenso.

Rose Nathike Lokonyen, atleta refugiada que carregou a bandeira olímpica, treinou no Quênia antes de vir para o Brasil. © ACNUR/Benjamin Loyseau

Cerimônia - A cerimônia de abertura começou de forma espetacular com manifestações da arte e da cultura brasileira. Com uma estimativa de bilhões de pessoas assistindo em todo o mundo, o Brasil apresentou sua famosa música e dança.

O show contou com alguns dos mais celebrados músicos do Brasil, incluindo o compositor Caetano Veloso, Gilberto Gil, a cantora pop Anitta, a funqueira Ludmilla e MC Soffia, uma rapper de 12 anos de idade.

O espetáculo teve início com um incrível show  de som e luzes que buscou traçar as origens da vida na floresta brasileira, com exploradores portugueses chegando em barcos à vela entre as tribos indígenas. Em seguida, foi apresentada uma performance na qual descreveu-se a chegada de milhões de escravos africanos ao longo de mais de 400 anos.

A terceira parte da apresentação trouxe a ascensão das cidades no século 20, com uma coreografia que mostrava atletas fazendo acrobacias em blocos empilhados, que se assemelhavam a arranha-céus. O espetáculo terminou com um alerta sobre os perigos do aquecimento global.

Os jovens atletas refugiados ganharam amigos e admiradores no Brasil com suas surpreendentes histórias do triunfo sobre as adversidades.

No campo de refugiados de Kakuma,  a família de Rose ficou muito contente quando recebeu a notícia de que ela lideraria a equipe durante a abertura dos Jogos.

"Estou tão feliz que ela tenha sido escolhida para levar a bandeira", disse Tom Namilo, o irmão mais novo de Rose. "Ficarei muito feliz ao ver minha irmã levando a bandeira dos refugiados".

Há um ano, sua companheira de equipe Yusra Mardini estava nadando para salvar sua vida quando o bote inflável no qual ela e outras pessoas embarcaram começou a afundar no mar Egeu.  Yusra e todos a bordo haviam deixado a Turquia em direção à Grécia. Agora, depois de uma sucessão positiva de acontecimentos,  a jovem síria de 18 anos competirá contra as melhores nadadoras do mundo.

"Nós não falamos a mesma língua e somos de diferentes países, mas a bandeira olímpica nos une e agora, juntos, estamos representando cerca de 60 milhões de pessoas em todo o mundo. Estamos realmente felizes como uma equipe. Queremos fazer o nosso melhor para mostrar a todos que podemos fazer tudo que está ao nosso alcance para sermos bons atletas e boas pessoas", disse ao ACNUR em entrevista recente.

"Eu não vou pensar em qual é a nacionalidade de quem está ao meu lado. A única coisa que eu vou pensar é como eu vou nadar... É na minha cabeça que eu sou uma nadadora".

Mensagens - No início desta semana, o presidente do COI, Thomas Bach, apresentou todos os 10 atletas da equipe, um por um, a todos os membros do COI e prestou homenagem à Agência das Nações Unidas para Refugiados, o ACNUR, por ter apoiado e ajudado a criar as equipes ao longo de uma parceria de mais de 20 anos com o Comitê Olímpico.

"Estes atletas dão o exemplo de coexistência pacífica em todo o mundo... Este é o verdadeiro espírito da união e diversidade olímpicas"

"Estes atletas dão o exemplo de coexistência pacífica em todo o mundo. Eles mostram que é possível competir e viver em paz juntos e ao mesmo tempo. Este é o verdadeiro espírito da união e diversidade olímpicas", declarou.

Ele agradeceu ao ACNUR por ter ajudado a tornar a equipe uma realidade.

"Sem a sua ajuda (do ACNUR), não teria sido possível selecionar, treinar os refugiados e trazê-los aqui hoje. A participação deles nos Jogos Olímpicos é um sinal de esperança para todos os refugiados do mundo. Eles não tinham um país ou uma bandeira pelos quais competir. Mas agora eles têm", disse ele.

O compatriota de Rose e também corredor Yiech Pur Biel, de 21 anos, foi refugiado a maior parte de sua vida. Ele disse que considera o COI e o ACNUR como se fossem os pais que ele mal conheceu.

"As pessoas acham que não fazemos nada em um campo de refugiados, mas fazemos sim".

"As pessoas acham que não fazemos nada em um campo de refugiados, mas fazemos sim. Nós nunca esqueceremos o que o COI e o ACNUR fizeram por nós, eles foram como uma mãe e um pai. Sentimos que pertencemos a uma comunidade, como seres humanos. As olimpíadas representam o início da vida e vai mudá-las para sempre. Obrigado a todos, e que Deus os abençoe".

Em meio a lágrimas e sorrisos de alegria, a presença dos atletas foi celebrada desde a sua chegada no Rio para os jogos. Na quinta-feira, eles receberam a visita do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon. Ele desejou-lhes o melhor e disse que estavam fazendo história para os refugiados em todo o mundo.

O Papa se juntou aos milhões de pessoas em todo o mundo desejando toda a sorte para a Equipe Olímpica de Atletas Refugiados.

"Estendo a minha saudação e desejo-lhes sucesso nos Jogos Olímpicos no Rio - que a sua coragem e força se expressem através dos Jogos Olímpicos e sirvam como um grito de paz e de solidariedade. Vocês poderão fazer com que a humanidade compreenda que a paz é possível ", ele escreveu em uma mensagem de apoio.

Presidente Honorário do COI, Jacques Rogge, falou apaixonadamente sobre a importância do esporte na vida dos jovens refugiados e pessoas deslocadas.

"Eles são pessoas jovens, em sua maioria, e têm o direito de serem considerados como cidadãos normais", disse ele.