Parceria amplia perspectivas de coral de crianças refugiadas
Parceria amplia perspectivas de coral de crianças refugiadas
São Paulo, 08 de junho de 2016 (ACNUR) - Ao cantarem “Aquarela”, do compositor Toquinho, no palco do Centro Universitário Belas Artes em 5 de maio, cerca de 50 crianças do Coral Coração Jolie selaram simbolicamente a parceria da organização não-governamental IKMR – Eu Conheço Meus Direitos com o Belas Artes em prol da integração e da formação cultural de pequenos refugiados. A iniciativa será adotada a partir de agosto, com uma série de workshops e aulas para as 100 crianças inscritas no coral na Biblioteca Infantial Multilíngue do Belas Artes, em São Paulo. O Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) apoia a parceria.
“O céu é o limite para essa parceria. Vamos oferecer a nossa estrutura e pedagogia às crianças”, afirmou Patrícia Gomes Cardim, diretora-geral do Belas Artes, instituição de ensino fundada em 1925. “O Coral Coração Jolie tem potencial para girar o mundo”, completou.
Criado há dois anos, o coral é a iniciativa-chave do IKMR, entidade voltada desde 2012 para o trabalho com mais de 300 crianças refugiadas. O projeto original, que será preservado, envolve a reunião de crianças de diferentes nacionalidades em jogos e atividades recreativas, o ensaio de composições com letras otimistas e de superação e a apresentação do coral em eventos. Por meio dessas atividades, o IKMR pretende ajudá-las a superar traumas do passado e os desafios presentes de inclusão na sociedade brasileira.
“A nossa preocupação é com o coraçãozinho dessas crianças e com a preservação de sua cultura e costumes. Elas não precisam se abrasileirar nem negar suas origens porque enfrentam preconceito na escola ou no lugar onde vivem. A vida de uma criança tem de ser maior que a sua nacionalidade”, disse Vivianne Reis, fundadora e coordenadora do IKMR, em discurso durante a cerimônia de lançamento da parceria. “Várias crianças chegam aqui muito machucadas.”
Segundo Isabela Mazão, chefe-interina do escritório do ACNUR em São Paulo, a parceria entre o IKMR e o Belas Artes “fará toda a diferença” na vida dessas crianças. “Há muito a se fazer para integrar as crianças refugiadas no Brasil. Unir forças é a melhor alternativa”, afirmou.
Por meio da parceria IKMR- Belas Artes, as crianças serão apresentadas inicialmente a projetos de balé, canto coral e arte-terapia em três finais de semana de agosto. As crianças passarão a exibir, no uniforme de apresentação, o título mais longo do coral: Coração Jolie – Coro by Belas Artes. Segundo Patrícia, já há 50 universitários voluntários engajados na parceria e novos projetos serão incorporados à grade pedagógica das crianças. Para os adultos, o Belas Artes oferecerá cursos de Português e abrirá bolsas de estudos nas áreas de Arquitetura, Relações Internacionais, Jornalismo e Design.
“O trabalho com o coral infantil é somente o topo do iceberg. Queremos fazer muito mais pelos refugiados”, disse.
Durante a cerimônia, naquele sábado, mais de 50 crianças subiram no palco, enquanto cerca de 20, menos familiarizadas com o repertório, arriscavam cantar da plateia. Algumas delas, vestidas com o uniforme branco do coral, ainda não falavam português. A síria Hanan Al-Daqqa, de 12 anos, cantou mesmo com a garganta inflamada e com gripe. Priscilia, líbia de 6 anos, deixou o palco, serviu-se de bolo, doces e salgados da festa infantil especialmente preparada pelo Belas Artes para a ocasião e mostrou aos adultos o dente recém-caído. A refugiada síria Rasha Almobayad acompanhava sua filha de Maria, de 6 anos, também particiante do coral há cinco meses, e embalava Talia, de um ano, nascida no Brasil.
“Esse projeto vai se tornar ainda melhor. Para Maria, significará mais aprendizado de música e de artes”, espera Rasha, que refugiou-se com sua família no Brasil há dois anos e meio.
As crianças cativaram a plateia, acompanhadas pela orquestra Lyra Mojimiriana, composta por jovens e regida pelo maestro Carlos Lima. Além da composição de Toquinho, cantaram “Azul da Cordo Mar”, de Tim Maia, “Vamos Construir”, de Sandy & Júnior, “Um Novo Lugar”, de Xuxa, e “O Sol”, de Jota Quest. Segundo Lima, reger a orquestra com o coral foi uma experiência inusitada. Não houve ensaio anterior, e pausas dramáticas e outros improvisos da orquestra foram experimentados conforme evoluia o canto das crianças.
“Foi só tocar um acorde e parecia que havíamos ensaiado muitas vezes”, afirmou o maestro. “Os desafios aqui são a construção de uma sociedade mais justa, solidária e integrada e a derrubada de fronteiras e obstáculos por meio da música”, completou.
Por Denise Chrispim, de São Paulo.