Livro “Refúgio e Hospitalidade” é lançado sob a proposta de discutir a acolhida de refugiados
Livro “Refúgio e Hospitalidade” é lançado sob a proposta de discutir a acolhida de refugiados
Curitiba, 24 de maio de 2016 (ACNUR) - Na última sexta-feira, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), lançou o livro Refúgio e Hospitalidade, por meio da Cátedra Sérgio Vieira de Melo. A publicação reflete sobre a delicada situação de refugiados no Brasil, a partir do ponto de vista de juristas, cientistas sociais e linguistas, apontando caminhos de atuação efetiva para o acolhimento dos refugiados.
O evento aconteceu no Salão Nobre da UFPR e reuniu representantes da sociedade civil, universitários, refugiados, portadores de visto humanitário e organizações que trabalham na assistência a refugiados e migrantes. Formaram a mesa de lançamento do livro seus organizadores, o professor e coordenador do Projeto Hospitalidades da UFPR, José Gediel, o doutor em Direito e Oficial de Proteção do ACNUR, Gabriel Godoy; além também de contar com o Representante do ACNUR no Brasil, Agni Castro-Pita; o vice-reitor da Universidade, professor doutor Rogério Andrade Mulinari; e a professora doutora Cristiane Sbalquiero, que lidera pesquisas no âmbito da inclusão de migrantes no mercado de trabalho.
O Representante do ACNUR lembrou que, atualmente, há 60 milhões de pessoas no mundo que foram forçadas a abandonar seus lares, tendo deixado seus lugares de origem devido às perseguições, violações dos direitos humanos e aos inúmeros conflitos armados. Ele reforçou que entre essas pessoas há jovens, chamando a atenção dos acadêmicos. "Há nessa população pessoas como vocês (estudantes universitários), mas sem a mesma perspectiva de futuro, movendo-se para buscarem um espaço de liberdade para reconstruir suas vidas".
É o caso dos angolanos Francis Aguiar, 24; Yolanda Muachambi, 24; e Atílio Botelho, 21. Eles saíram de Luanda, Angola, para garantir suas vidas, uma vez que seu país ainda sofre as consequências da guerra civil (1975-2002). Yolanda está no Brasil há 3 anos, enquanto Atílio e Francis, há dois. Eles almejam concluir seus estudos no Brasil, na área de logística e economia, e, então, abrir um negócio próprio. Yolanda pretende voltar para a Angola e implementar melhorias no país, enquanto os rapazes pensam em se estabelecer no Brasil. Para os três, uma iniciativa como essa do livro é muito bem-vista. "O refugiado quando chega aqui, ele está perdido, sem saber o que fazer ou para onde ir. Uma ação como essa incentiva as pessoas a abrirem portas para nós", afirma Francis.
Para o professor Gediel, “este livro deve ser visto como um instrumental de trabalho, servindo para as diversas frentes de atuação nesse tema". É também desejo dos organizadores que a obra atinja a sociedade civil, permitindo com que os cidadãos contemplem a presença de refugiados e demais estrangeiros no seu dia a dia. Para Godoy, "uma resposta de hospitalidade aos refugiados significa que aqueles que estão aqui possam se sentir daqui".
Nessa mesma linha, o vice-reitor da UFPR, refugiados e refugiadas, assim como os portadores de visto humanitário, merecem cidadania plena. "A inserção de refugiados no tecido social brasileiro permitirá autonomia para eles e um país melhor para todos. Considero que ações como estas reafirmam o pioneirismo da UFPR nesse sentido e nos mostram que os investimentos nessa área devem continuar".
A professora Cristiane declarou que não há como se falar em acolhimento sem falar de empregos, ponto bastante crítico na inserção do refugiado no Brasil. "O ser humano constitui suas subjetividades em torno do trabalho. Temos a missão de tutelar os direitos sociais nesse âmbito".
O objetivo da publicação vai de encontro com todas essas perspectivas, apresentando experiências que contribuem para a integração de refugiados no país de refúgio, o que passa pelo conhecimento de direitos e deveres no novo país e o aprendizado da língua, por exemplo. “O nome do livro reflete isso. O livro é uma contribuição para pensarmos para além da questão técnica. É preciso visualizar as diferentes matrizes que fazem parte do acolhimento do estrangeiro dentro de uma nova comunidade", afirmou Godoy, que também reconheceu que a UFPR é uma referência para a Cátedra Sérgio Vieira de Melo.
A publicação será disponibilizada para as bibliotecas de universidade federais e também em versão online no site do ACNUR:
www.acnur.org/t3/portugues/recursos/publicacoes. Ela destina-se à comunidade acadêmica, visando ser uma inspiração para pesquisadores e fonte de informações para pessoas interessadas na temática.
Antes do evento, um grupo de alunos do projeto Hospitalidades das UFPR se dedicou a coletar assinaturas do público presente para a campanha global do ACNUR #IBelong, que tem por objetivo assegurar o fim da apatridia. A assinatura virtual pode ser feita por www.unhcr.org/ibelong/carta-aberta/.
Por Michele Bravos, de Curitiba.