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Famílias refugiadas tentam reconstruir suas vidas após o terremoto no Equador

Comunicados à imprensa

Famílias refugiadas tentam reconstruir suas vidas após o terremoto no Equador

Famílias refugiadas tentam reconstruir suas vidas após o terremoto no EquadorQuando a terra começou a tremer, durante o terremoto que atingiu severamente o Equador há um mês, Jeannethe* estava tomando banho.
19 May 2016

MANTA, Equador, 19 de maio de 2016 (ACNUR) – Quando a terra começou a tremer, durante o terremoto que atingiu severamente o Equador há um mês, Jeannethe* estava tomando banho. Assustada, conseguiu sair da casa onde sua família, tios, primos, pais, estavam reunidos em um pequeno espaço ao ar livre, antes das paredes começarem a cair lentamente.

“Ela foi a que mais se assustou”, conta a avó de Jeannethe, Selmira, de 64 anos. “Durante dois dias, não disse nada”, relata esta mulher robusta enquanto olha com doçura sua neta de 14 anos.

Selmira, nascida em Tumaco, Colômbia, estava em Manta na noite de 16 de abril, visitando seus filhos e netos. Ainda que há mais de seis anos esta mulher afro-colombiana viva na Suécia, Selmira havia conseguido vir visitar o resto de sua grande família que continua vivendo no Equador.

“A violência que vivemos na Colômbia me fez deixar minha casa e meu país há anos. Viemos ao Equador em busca de paz. Estivemos em Ibarra, em Cuenca. E depois eu, meu marido e cinco dos nossos filhos fomos para a Suécia. Lá vivo em paz. Mas tenho o coração dividido, porque parte de mim está aqui no Equador, junto com minha família”.

O terremoto de 7.8 graus sacudiu a terra deixando 660 pessoas mortas e cerca de 350.000 com necessidade de assistência. Um mês depois do terremoto, as paredes caídas mostram os efeitos do tremor na humilde casa onde vive a família de quinze membros de Selmira.

“Apesar de tudo que passamos na vida, um terremoto é algo novo e imprevisível. O medo fez com que as crianças começassem a dizer que queriam voltar para a Colômbia”, relatou. “Como adulta, eu me sinto culpada, porque aqui estamos expondo as crianças ao medo que nunca havíamos pensado. Mas apesar disso, sabemos que não podemos voltar para nossa região na Colômbia. É muito perigoso para nós”.

Assim como a família de Selmira, diversas famílias refugiadas vivem nas áreas afetadas pelo terremoto, reconhecido como a maior catástrofe vivida pelo país nos últimos setenta anos. Cerca de 17 mil pessoas, entre refugiados e solicitantes de refúgio, viviam nas zonas mais afetadas pelos tremores.

Para a Agência da ONU para Refugiados, o ACNUR, o terremoto coloca as famílias que saíram de seus países para fugir de conflitos e perseguições mais uma vez em situação de vulnerabilidade. Por meio da cooperação constante de instituições do governo, e como parte do esforço conjunto da Equipe Humanitária do País, o ACNUR está desenvolvendo mecanismos de apoio às políticas de reconstrução.

“Assim como tem feito ao longo de sua história, é importante que o Equador continue sendo solidário com as famílias refugiadas, muitas das quais perderam seus lares, observa María Clara Martín. “Como ACNUR, queremos apoiar este esforço de recuperação pós catástrofe, apoiando medidas para que todos os afetados, tanto refugiados quanto equatorianos, possam reconstruir seu futuro com segurança e dignidade”.

Desde o início da emergência, a Agência da ONU para Refugiados, em estreita colaboração com o governo equatoriano, enviou ajuda humanitária em aviões carregados com 200 toneladas de itens de assistência, que incluíam 900 tendas, 61.000 lâmpadas solares, 7.250 lonas plásticas, 50.000 esteiras, 175 rolos plásticos, 6.950 kits de cozinha, 18.000 mosqueteiros e 7.000 baldes para água distribuídos entre Manta, Portoviejo, Perdenales e outras áreas mais afetadas. Por sua vez, o ACNUR também está desenvolvendo uma resposta conjunta para a prevenção de riscos e a proteção de pessoas afetadas.

Um mês depois do terremoto, quando a terra parece ir se acalmando, a família de Selmira se preocupa agora não apenas com as paredes caídas, mas também com seus meios de subsistência.

“Eu trabalhava vendendo água-de-coco no bairro de Tarqui. Depois do terremoto, o bairro ficou arruinado. Dessa forma, mal consigo trabalhar”, relata Jarlín, de 37 anos, um dos filhos de Selmira.

“É muito difícil quando alguém perde sua vida, seu trabalho e os meios para sustentar sua família. Já havia perdido minha terra na Colômbia e, aqui no Equador, conseguimos dias de paz e novas oportunidades. Entretanto, este terremoto, nos obriga mais uma vez a começar do zero”.

Como parte do esforço conjunto para a recuperação após o terremoto, o ACNUR participa do grupo humanitário de coordenação para meios de subsistência, que espera contribuir para o desenvolvimento de mecanismos para impulsionar novas formas de autossuficiência econômica nas zonas afetadas pelo terremoto. Assim, tanto os refugiados quanto o restante da população afetada poderão reconstruir seus lares.

Enquanto isso, apesar do medo, e do coração dividido, as crianças seguem sendo crianças e brincam ao redor da avó Selmira. Sobem na árvore, contam histórias, imaginam quem são os outros em outros lugares. E a vida segue, esperando que as paredes voltem ao seu lugar.

Por Sonia Aguilar em Manta (Equador).

*Nomes trocados por razões de segurança.