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16 Dias de Ativismo: “Sou mulher, sou forte”, dizem refugiadas em São Paulo

Comunicados à imprensa

16 Dias de Ativismo: “Sou mulher, sou forte”, dizem refugiadas em São Paulo

16 Dias de Ativismo: “Sou mulher, sou forte”, dizem refugiadas em São PauloMulheres refugiadas trocaram experiências sobre o desafio de sua integração no Brasil para apoiar a iniciativa “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”.
19 Dezembro 2013

SÃO PAULO, 19 de dezembro de 2013 (ACNUR) – Para apoiar a iniciativa global da sociedade civil conhecida como “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”, o Centro de Acolhida para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) reuniu na semana passada mulheres refugiadas de diferentes nacionalidades para trocar experiências sobre o desafio de sua integração no Brasil.

Participaram do encontro refugiadas vindas da República Democrática do Congo, do Sudão, da Colômbia e da Libéria, muitas delas com seus filhos. As crianças tiveram a oportunidade de brincar com jogos doados pela brasileira Ingrid Soto, uma jovem de 11 anos que vive na cidade de Valinhos (SP) e que arrecadou os brinquedos doados junto aos seus colegas de escola e outras crianças da sua cidade.

O lema do encontro foi “Sou Mulher, Sou Forte”, em seis idiomas diferentes (português, francês, inglês, espanhol, árabe e suaíle).  As participantes falaram sobre o que de melhor há em ser mulher e como cada uma delas tem como ajudar outras pessoas necessitadas, como resultado da força que trazem dentro si.

“Alguém já me socorreu quando estava lá embaixo. Hoje, se uma amiga chega à minha casa, ela sabe que pode usar o que tenho no meu armário”, comentou Faida, refugiada da República Democrática do Congo, usando uma metáfora bem particular do universo feminino para dizer que pode dividir suas conquistas.

Enquanto as crianças divertiam-se com os brinquedos, as mães e outras mulheres tiveram um tempo para falar de si e da experiência de ser mulher em realidades muito distintas da que vivem atualmente. Em seus países de origem, muitas delas foram vítimas diretas de violência. E para facilitar a dinâmica, as mulheres foram convidadas a se expressar por meio de desenhos. “Quando se quer falar sobre um sofrimento muito grande que não cabe em palavras, o desenho torna-se uma ferramenta de comunicação muito útil e importante”, diz a psicóloga Taeco Toma, que integra a equipe do Centro de Acolhida da CASP.

Os desenhos trouxeram a tona particularidades de cada participante. E ao amassar e rasgar os desenhos, as mulheres expressaram eventos traumáticos vividos ou conhecidos pelo grupo. Ao mesmo tempo, quando reunidas em um maço, as folhas de papel serviram de símbolo de resistência. “Não se pode rasgar muitas folhas quando elas estão juntas”, concluíram as participantes.

Os debates entre as participantes também foram guiados pelo exemplo o trabalho da freira congolesa Angelique Namaika, que há anos ajuda mulheres vítimas de violência sexual e social no leste do Congo a reconstruir suas vidas, em uma região marcada pela violência praticada por grupos armados irregulares. Com um trabalho aparentemente simples e se locomovendo de bicicleta, a Irmã Angelique alfabetiza, ensina ofícios e apoia mulheres de todas as idades em diversos vilarejos da região. Em 2013, ela recebeu do Alto Comissariado da ONU para Refugiados o Prêmio Nansen, conferido anualmente a pessoas ou organizações que realizam esforços de destaque em prol de refugiados e deslocados internos.

“Não somos muito diferentes das mulheres apoiadas pela Irmã Angelique”, disse Carine, outra congolesa, que teve que deixar o seu país, após ser mais uma vítima da violência de gênero que é marcante em RDC.

“No meu país, a Índia Catalina, que lutou contra os espanhóis, foi a primeira grande mulher. E nós somos como elas”, lembrou Guadalupe*, refugiada colombiana que deixou seu país em virtude de fortes perseguições políticas.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas em seu processo de integração, as refugiadas que participaram do evento reafirmaram sua disponibilidade de reconstruir suas vidas no Brasil. “Quero ser independente”, disse Mary*, refugiada liberiana, sintetizando o desejo de todas as mulheres presentes. Muitas delas deixaram por escrito seus anseios para o próximo ano, como a possibilidade de atender cursos de cabelereiro, mecânica e costura, e acessar o ensino universitário.

Para encerrar o encontro, as refugiadas cantaram juntas o baião “Mulher Rendeira”, do folclore nordestino, e ainda ensinaram umas às outras as cantigas de ninar que ouviam em sua terra natal.

Atualmente, São Paulo é a principal porta de entrada de solicitantes de refúgio no Brasil. Nos últimos anos, as novas solicitações aumentaram significativamente, saindo de pouco mais de 300 casos em 2010 para cerca de 1.800 em 2012. Neste ano, até o final do mês passado, já haviam sido registrados 2.746 solicitações de refúgio em São Paulo.

* Nomes alterados a pedido das entrevistadas.

Por Larissa Leite, de São Paulo.