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Crianças refugiadas vivem a fantasia do Carnaval em desfile no Rio de Janeiro

Comunicados à imprensa

Crianças refugiadas vivem a fantasia do Carnaval em desfile no Rio de Janeiro

Crianças refugiadas vivem a fantasia do Carnaval em desfile no Rio de JaneiroAo participar do desfile da escola de samba mirim “Mangueira do Amanhã”, 35 crianças e adolescentes refugiadas fizeram história em plena Marquês da Sapucaí.
11 Fevereiro 2016

RIO DE JANEIRO, Brasil, 11 de fevereiro de 2016 (ACNUR) - Ao participar do desfile da escola de samba mirim “Mangueira do Amanhã”, 35 crianças e adolescentes refugiadas fizeram história em plena Marquês da Sapucaí, avenida mundialmente famosa pelo Carnaval do Rio de Janeiro. Na última terça-feira, elas mostraram muito entusiasmo e até mesmo samba nos pequenos pés ao adentrarem, com ritmo e determinação, a passarela do samba.

Pouco antes do desfile, na concentração da escola, as crianças -que participavam pela primeira vez da celebração do Carnaval- se organizaram em três filas, um alinhamento previsto para ser mantido ao longo da avenida. O presidente da “Mangueira do Amanhã”, Alcindo José Silva, o Soca, compareceu para agradecer em nome de toda a escola a presença das crianças refugiadas.

Ao entrarem na avenida cantando o samba-enredo da escola, misturaram a apreensão dos primeiros passos com um sentimento de êxtase que cresceu ao longo do percurso. A emoção de estar na Marquês de Sapucaí, o ritmo alucinante da bateria e as inúmeras vozes entoando o samba-enredo fizeram as crianças refugiadas se soltar e colocar em prática tudo o que sabiam sobre a arte de sambar -e o resultado não ficou a desejar!

Crianças refugiadas desfilando pela Marquês de Sapucaí.
Oriundas de sete diferentes países (Síria, Jordânia, Palestina, Sudão, Angola, Congo e Líbia), as crianças refugiadas fizeram o samba parecer uma dança típica dos seus locais de origem. Sempre com um sorriso no rosto, dançaram com primor e dedicação. Alguns apenas balançavam os braços e cantavam com diferentes sotaques no ritmo da escola, ajeitando a fantasia para não a deixar cair.

Com tanta emoção, a formação inicial se desfez e as crianças se deixaram levar pela espontaneidade e pelo calor do desfile. Em todo a extensão da Marquês de Sapucaí, foram aplaudidas pelo público e chamaram a atenção dos jornalistas que cobriam o desfile.

“Gostei muito de tudo, e o mais legal foi a bateria”, disse a pequena Verônia, de 11 anos, que vivia no Sudão e chegou ao Brasil há quatro anos. “Foi muito bom, super legal, principalmente a batida da bateria. Eu já tinha visto pela televisão, mas hoje eu senti de perto. Espero que no próximo ano a gente venha de novo. Foi o momento mais inesquecível da minha vida”, disse a orgulhosa angolana Benedita.

O desfile foi promovido pela organização não-governamental brasileira IKMR (do inglês “I Know My Rigths” -ou Eu Conheço Meus Direitos), com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). As crianças refugiadas vivem em São Paulo e são acompanhadas pela IKMR.

A participação delas no desfile da “Mangueira do Amanhã” foi uma sugestão da cantora Maria Bethania, homenageada pela escola de samba Estação Primeira da Mangueira, campeã do desfile principal do Carnaval 2016 e na qual a “Mangueira do Amanhã” é parte de seu projeto social.

Com o título "Era uma vez -A Mangueira do Amanhã vai contar para vocês", o samba-enredo da escola ressaltou o lado bom de ser criança e a imaginação associada a diferentes contos de fadas e histórias infantis. As crianças refugiadas compuseram a ala dedicada a “Pluft, o fantasminha”, clássico de Maria Clara Machado.

Crianças refugiadas se preparam para entrar na avenida do samba, um momento único e inesquecível.
"Tive que sair do meu país, a Síria, por causa da guerra. Hoje estou muito feliz porque o Brasil é um país muito seguro, com gente muito legal e bondosa. Vai ficar ainda melhor porque meu tio e minha avó chegarão ao Brasil para nos reencontrarmos", contou Hannan, de 12 anos, que tem assimilado bem a cultura brasileira.

Os pais e responsáveis que acompanharam o desfile dos pequenos refugiados também puderam aproveitar os momentos lúdicos propiciados pelo Carnaval. "Vim acompanhar minha irmã nesse desfile e acredito que o carnaval pode ajudá-la a entender mais sobre o Brasil e parte da cultura daqui, pela dança e pela música. Sentimos muito o fato de estarmos longe de nossos amigos, da nossa própria cultura que só faz aumentar as saudades", afirmou o congolês Hidras Tuala, que estuda e trabalha em São Paulo.

As crianças refugiadas, que agora já se consideram sambistas, voltaram para São Paulo pensando no Carnaval de 2017. O presidente da “Mangueira do Amanhã”, Alcindo José Silva, o Soca, refez o convite e espera que no próximo ano a ala dos refugiados sejam ainda maior.

“Elas estão cansadas pelo longo dia que tiveram de muitas atividades, mas eu tenho certeza que depois do desfile elas ainda vão ficar acordadas, conversando entre elas sobre tudo o que aconteceu. Com certeza ninguém vai dormir o caminho todo até voltar para casa. A animação é mais forte que o cansaço”, atestava a diretora e fundadora da IKMR, Vivianne Reis, também exausta logo após o desfile.

Por Miguel Pachioni, do Rio de Janeiro.