ACNUR cria “Células de Inverno” como resposta às baixas temperaturas enfrentadas por refugiados
ACNUR cria “Células de Inverno” como resposta às baixas temperaturas enfrentadas por refugiados
GENEBRA, 22 de janeiro (ACNUR) – ‘Célula de Inverno’ (originalmente Winter Cell) foi o nome dado à nova unidade da Agência das Nações Unidas para Refugiados, o ACNUR, com sede em Genebra. A instalação possui vários computadores, paredes cobertas por telas, mapas e painéis com números escritos à mão que são constantemente atualizados.
Dentro da anteriormente conhecida como 'Célula de Operações de Inverno', uma pequena equipe de seis pessoas está empenhada em uma árdua tarefa: prever as condições meteorológicas com o máximo de precisão.
Dentro da célula, as tendências climáticas são identificadas e os problemas são previamente sinalizados como potenciais riscos de vida, como, por exemplo, o intenso inverno que chega à Europa e ao Oriente Médio.
"Nós fomos treinados para minimizar os efeitos do inverno", disse o chefe da ‘Célula de Inverno’, Chris Earney. "Estamos atentos para as possíveis consequências do inverno e também para as situações que poderão ser agravadas pelos efeitos das baixas temperaturas".
Por meio de um amplo cenário que trata tanto das operações de resposta emergenciais e de longa duração quanto de ações de mitigação, a unidade trabalha em estreita cooperação com peritos da Organização Meteorológica Mundial (WMO, sigla em inglês) e com os escritórios meteorológicos do Reino Unido e do sudeste da Europa para avaliar o impacto do clima.
Ainda que exista uma série de variáveis, a ‘Célula de Inverno’ abrange uma extensa faixa de território que se estende do Círculo Polar até o Mar Egeu. Dessa forma, presta assistência estratégica, tática e operacional tanto aos tomadores de decisão como para os que trabalham diretamente no campo oferecendo ajuda humanitária.
Assim como o clima afeta tudo o que fazemos em nosso dia a dia, ele também exerce uma enorme influência em todos os aspectos das operações humanitárias. O grande desafio da ‘Célula de Inverno’ é utilizar todas as informações meteorológicas colhidas para determinar de que forma elas serão melhor implementadas em toda a esfera de operações do ACNUR na Europa.
“É um grande desafio, mas que pode ter os objetivos atingidos por meio do trabalho conjunto das diversas agências meteorológicas que, com o apoio da WMO, agora se movem em direção à chamada Impact Based Forecasting (previsão do tempo com base em impactos – tradução livre), que consegue ir além do tradicional ‘eis a previsão do tempo para hoje’, para uma previsão mais personalizada, que se atenta para os impactos do clima nas operações de um local específico para fornecer um serviço muito mais apurado e, portanto, mais eficaz”, explicou um comunicado oficial do Escritório Meteorológico.
Ao término deste mês, a abordagem enfrentará alguns testes difíceis. Temperaturas abaixo do normal, com mínimas de -5 a -15ºC, acompanhadas de uma forte nevasca, estão previstas para ocorrer nas Penínsulas Balcãs ao sul e ao leste, Turquia, Mediterrâneo Oriental e no Oriente Médio.
Milhões de refugiados, a maioria da Síria e do Iraque, vivem em acampamentos e assentamentos localizados por toda esta área. Milhares de outras pessoas estão em movimento, muitos a pé ou em embarcações precárias.
"O Escritório Meteorológico tem sido um parceiro incrível para se trabalhar, em termos de qualidade do pessoal, dos resultados gerados, e também pela velocidade com que eles conseguem reagir", acrescentou Earney.
A equipe também monitora as mídias sociais e coordena, com um ponto focal na unidade de inteligência dentro Agência de Migração da Suécia, a atualização sobre os mais recentes movimentos de refugiados. Saber onde os refugiados estão é crucial para implementar ações preventivas. Uma tempestade de neve repentina em uma fronteira congestionada, com material de apoio insuficiente, poderia resultar em um desastre.
No momento em que as condições meteorológicas tendem a piorar, promover uma interação eficiente entre todas estas variáveis é um exercício que pode salvar muitas vidas, uma vez que permite que o ACNUR determine onde poderá utilizar seus recursos da melhor forma.
"Estamos construindo uma variedade de cenários e situações, e administramos cada possibilidade tendo o refugiado no centro das atenções", disse Earney. Dependendo da avaliação de risco, a equipe pretende enviar recomendações ou informações específicas diretamente para os escritórios nacionais ou em seus relatórios de situação diária, que podem ser encontrados no portal de dados do ACNUR.
Grande parte do trabalho é feito em tempo real. As informações vêm do Escritório Meteorológico de oficiais de campo do ACNUR e da unidade de inteligência de migração sueca, e os números sobre esses mapas registrados na ‘Célula de Inverno’ refletem a situação do terreno. Alguns mapas são estilizados, mostrando as rotas dos refugiados aos quais Earney compara com as linhas de metrô de Londres.
O trabalho e responsabilidade de tornar todos esses dados acessíveis para o público em geral é de James Leon-Dufour, diretor de gerenciamento de informações da equipe.
O experiente arquiteto Leon-Dufour tenta compilar todos os dados e “entregar de forma inteligível". Ele ajuda a projetar a estrutura de como a informação é apresentada, criando visualizações online das rotas das concentrações populacionais e a situação nas fronteiras.
Veterano do desenho de acampamento, ele é um dos dois arquitetos em uma equipe composta por pessoas com diferentes especialidades. Ruxandra Bujor tem cinco anos de experiência em campo na gestão de acampamentos. Por toda a Europa, ela é a única que mantém o controle dos setenta locais onde os refugiados estão concentrados, além de controlar também toda a assistência que é disponibilizada por lá.
O inverno tende a dificultar, ou mesmo inviabilizar, os deslocamentos ao longo das fronteiras e dentro dos países, disse Bujor. Ser capaz de oferecer recursos materiais para superar os obstáculos, poderá garantir que todos os países estejam prontos para assistir aqueles que acabam impossibilitados de seguir seus caminhos por algum motivo.
Como os demais, Bujor está animada com o trabalho que a equipe está fazendo. Apesar de a unidade ter sido recentemente instalada e estar em funcionamento desde o final de outubro do ano passado, seu trabalho já tem um relevante impacto.
"Às vezes, parece assustador, e foi no início. Mas nós estreitamos nosso campo de análise e identificamos alguns dos principais fatores que contribuem para os deslocamentos", disse Bujor.
O ACNUR agradece a WMO, os escritórios meteorológicos do Reino Unido e do sudeste da Europa pelo apoio nas operações da ‘Célula de Inverno’ do ACNUR.
Por Omar Karmi, de Genebra.
- UNHCR Europe Emergency page (em inglês)