Chefe da Agência da ONU para refugiados pede foco na crise síria durante sua visita a Jordânia
Chefe da Agência da ONU para refugiados pede foco na crise síria durante sua visita a Jordânia
Campo de Refugiados de Zaatari, Jordânia, 18 de janeiro (ACNUR) - A comunidade internacional precisa aumentar os esforços para acabar com o conflito na Síria ou correrá o risco de prolongar a maior crise humanitária do mundo por muitos anos, disse o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, nesta segunda-feira (18).
Em sua visita ao campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, três semanas após assumir o cargo de Alto Comissário, Grandi disse ter escolhido a região como destino de sua primeira viagem ao exterior como chefe do ACNUR visando chamar a atenção das pessoas para buscar soluções ao conflito sírio que já dura quase cinco anos.
"É essencial que a comunidade internacional e todos os atores que têm influência sobre as partes em conflito - e as partes envolvidas no conflito, sobretudo - empreendam um maior esforço para a paz", disse ele em entrevista coletiva.
"Se uma solução para o conflito não for encontrada, esta crise não vai acabar e vamos continuar ano após ano, pedindo à comunidade internacional grandes quantias de dinheiro para apoiar os refugiados que não vão querer voltar até que haja paz”.
Grandi encoraja os governantes a aproveitar a oportunidade das duas próximas conferências globais em Londres, em fevereiro e Genebra, em março, para firmar o compromisso de oferecer mais apoio financeiro para os refugiados e para os países de acolhimento, e para a ampliação da quantidade de reassentamentos legais para aqueles que estão fugindo do conflito.
O prolongamento da crise tem tido um efeito devastador sobre milhões de sírios comuns, além do enorme fardo sobre os países vizinhos, que até agora abrigam mais de quatro milhões de refugiados.
A Jordânia está atualmente hospedando mais de 630.000 refugiados sírios, isso tem impactado nos recursos naturais, influenciado na infraestrutura e vem sobrecarregando a economia do reino árabe. Enquanto quase 110 mil sírios vivem atualmente nos campos de Zaatari e Azraq, a grande maioria está lutando para sobreviver em vilas e cidades por toda a Jordânia.
Discursando sobre a difícil situação de aproximadamente 17.000 sírios, que estão atualmente acampados perto da fronteira ao nordeste do país, Grandi disse que reconhece a preocupação com as questões de segurança e prometeu ajuda do ACNUR à Jordânia na triagem de migrantes, a fim de permitir que aqueles que precisam de proteção internacional possam entrar no país.
Quando estava no acampamento, Grandi conheceu uma família síria beduína que chegou em Zaatari em fevereiro de 2013. Pai de seis filhos, Muhammad Olayan reconhece uma considerável melhora nas condições durante seus três anos lá.
"Quando chegamos, estávamos vivendo em uma tenda e não havia assistência básica. Agora temos dois trailers, há eletricidade e saneamento adequado", disse ele. Apesar das melhorias, a família se esforça para se alimentar com os subsídios que recebem, e Mohammad ainda precisa pedir dinheiro emprestado ou tentar encontrar trabalho para colocar comida na mesa.
Enquanto seus três filhos frequentam a escola no acampamento, suas duas filhas em idade escolar dizem que ainda estão muito traumatizadas pelo conflito, intimidadas pelo tamanho das turmas e por esse motivo se recusam a frequentar as aulas. Como resultado, Mohammed, sua esposa e filhas passam grande parte do seu tempo dentro do abrigo. "O que mais os refugiados podem fazer?", ele perguntou.
Depois de três anos no exílio, e sem perspectiva de retorno, Mohammad diz que, apesar do perigo, está considerando voltar a pequena fazenda da família na província Daraa no sul da Síria. "Nós não queremos fugir para o resto de nossas vidas. Talvez seja melhor morrer na Síria de maneira rápida, do que lentamente por aqui."
A visita do Alto Comissário, que inclui paradas na Turquia e no Líbano, marca o retorno para o Oriente Médio após ter servido como Comissário-Geral da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina, UNRWA, de 2010 para 2014, depois de ter sido Vice-Comissário-Geral da organização desde 2005.
Por Charlie Dunmore no Campo de Refugiados de Zaatari, Jordania