Cidade fronteiriça da República Democrática do Congo ajuda aos vizinhos da República Centro Africana
Cidade fronteiriça da República Democrática do Congo ajuda aos vizinhos da República Centro Africana
ZONGO, República Democrática do Congo, 14 jan (ACNUR) - Quando a mãe congolesa Blandine Ngeki fugiu para salvar sua vida, atravessando do rio Ubangi, em 1999, ela foi acolhida por Josephine Servis e sua família na República Centro-Africano. Agora é hora de Ngeki retribuir a hospitalidade.
Expulsa da capital da República Centro-Africana (RCA), Bangui, após ter sua casa incendiada no ano passado, a família Servis navegou à beira rio de canoa para Zongo, na República Democrática do Congo (RDC), onde Ngeki abriu sua pequena casa de telhado de zinco para todos eles.
"Somos congolêses. Nós sempre oferecemos abrigo a alguém que teve que fugir", disse Ngeki, que assim como muitas outras pessoas no Zongo, está compartilhando sua casa com os refugiados e fornecendo acesso a serviços fundamentais, como atendimento médico e educação.
Desde 2013, quando grupos rebeldes derrubaram o Presidente François Bozizé, cerca de 110.000 pessoas fugiram da guerra da RCA e procuraram abrigo na RDC, principalmente ao longo do rio Ubangi, que constitui a fronteira entre os dois países. A maioria deles vive em campos de refugiados, mas cerca de um terço dos refugiados convive com a população local.
Além de ter abrigado Servis e sua família, Ngeki está cuidando de três crianças órfãs. Enquanto isso, uma vizinha, Mariam Youssef, cuida de duas crianças da RCA, um menino de um ano de idade e uma menina de três anos. Eles foram deixados aos seus cuidados pela própria mãe, que voltou para recuperar alguns pertences em Bangui, onde a aparente calmaria tem sido interrompida por confrontos periódicos entre grupos rebeldes e forças governamentais.
"O pequeno frequentemente pede para ver a mãe dele. Para os deixar alegres, às vezes eu compo alguns doces", disse Youssef. "Se sua mãe não voltar, eles podem ficar aqui. Nós sempre vamos ter algumas folhas de mandioca para comermos jutos", disse ela.
O caso de Zongo está longe de ser único. Há muitas outras comunidades ao longo do rio Ubangi onde os residentes congoleses estão oferecendo abrigo e apoio continuamente aos refugiados da RCA, dois quais um terço do total chegou ao longo do ano passado.
O número de recém-chegados já supera o da população local em alguns lugares, especialmente em zonas remotas que têm apenas algumas escolas ou postos de saúde. O ACNUR tem realojado alguns dos refugiados das zonas fronteiriças para um dos cinco campos de refugiados no norte da RDC e aprecia com gratidão a ajuda congolesa.
"O apoio demonstrado pelos congoleses com seus vizinhos da RCA é exemplar. Devemos lembrar que esta é uma das regiões mais pobres da África sub-saariana. Muitos daqueles que hospedam aos refugiados da RCA já vivem abaixo da linha da pobreza", disse Stefano Severe, Representante Regional para a África Central do ACNUR.
Enquanto a ajuda financeira da Agência de Refugiados para RCA é escassa, "o ACNUR está fazendo seu melhor para ajudar as comunidades locais que vivenciam esta situação, incluindo as comunidades próximas da fronteira e ao lado dos campos de refugiados", disse o representante.
Entre as escolas no Zongo que tem aceitado o desafio de receber crianças refugiadas quem anseiam continuar seus estudos, está a Escola Primária Mohamad, que criou seis novas salas de aula temporárias.
"O ACNUR nos deu algumas coberturas plásticas e bancos", disse o diretor da escola, Abdoulaye Livana disse. "Temos oito professores na escola, mas encontrar dinheiro para pagar os salários destes professores não é fácil".
Enquanto isso, em um centro de saúde para crianças, refugiados da RCA estão entre as mães com crianças esperando na fila. Doenças comuns como malária e diarréia podem facilmente matar uma criança se não forem tratadas, e o centro frequentemente subsidia custos para ajudar aqueles em necessidade.
"Às vezes, os refugiados não têm muito dinheiro, tendo menos que o necessário para o tratamento", disse Jacob Wakanza, gerente do centro, explicando a motivação de sua equipe de trabalho. "Nós tentamos ajudar, em primeiro lugar. Temos de mostrar solidariedade. Eles são seres humanos".
Por Andreas Kirchhof, na República Democrática do Congo.