Encontro discute acesso de refugiados no mercado de trabalho
Encontro discute acesso de refugiados no mercado de trabalho
São Paulo, 15 de dezembro de 2015 (ACNUR) - Aghiad Shallan, refugiado sírio de 42 anos, entra no Auditório da Universidade Presbiteriana Mackenzie com uma pequena sacola nas mãos. Após tomar um assento, Aghiad escreveu seu nome e telefone em uma lista que circulava entre público presente no encontro “Esperança de um ano novo aos refugiados”, cujo objetivo foi divulgar para diversas empresas uma lista de refugiados que estão à procura de emprego.
“Quando eu morava na Síria, tinha um bom emprego e uma ótima família. Minha família ainda está na Síria, quero trazê-los para o Brasil, mas antes preciso de um novo emprego, uma nova casa”, conta.
Profissional da área de Tecnologia da Informação (TI), Aghiad hoje faz apenas bicos como eletricista. Ao dividir a casa em que mora com outros sírios que conheceu no Brasil, Aghiad almeja um emprego fixo que lhe ofereça mais condições de desenvolvimento. Esta história é semelhante à de centenas de outras pessoas que estão em situação de refúgio no Brasil.
Como forma de facilitar o ingresso de refugiados ao mercado de trabalho no Brasil, foi realizado na última sexta-feira (11) um encontro que contou com a presença da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e de outras representações como o Programa de Apoio para Recolocação dos Refugiados (PARR), o Sebrae e a Secretaria de Emprego e Relação do Trabalho – PAT, entre outros. A ideia do encontro surgiu após uma visita de Daniela Guimarães, organizadora do evento, à Caritas Arquidiocesana de São Paulo, ocasião em que conheceu a história de uma família síria que está em situação de refúgio no Brasil.
Para Vinícius Feitosa, assistente de proteção do ACNUR, é preciso educar as pessoas e a sociedade em geral sobre o tema do refúgio, que significa uma proteção internacional, e consequentemente o acesso a uma documentação legal para permanecer em determinado território. “É importante saber que as pessoas que estão chegando vêm por motivo forçado, ou seja, alheio às suas vontades. E é nossa obrigação integrá-las”, disse Vinícius. De acordo com ele, há ainda um segundo ponto a ser destacado: a contribuição que o refugiado pode trazer ao mercado de trabalho local. “O Líbano, por exemplo, recebeu nos últimos dois anos um fluxo de um milhão de refugiados sírios. Justamente nesse período o país registrou um crescimento de 2,5 no seu Produto Interno Bruto (PIB)”, disse, ressaltando também que outras contribuições trazidas pelos refugiados são percebidas no âmbito cultural e linguístico.
Uma das vias de integração do refugiado no mercado de trabalho é o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR), parceria entre a consultoria jurídica EMDOC, o ACNUR e a Cáritas SP – Centro de Referência para Refugiados. “Atendemos os refugiados na Cáritas mesmo, para conhecer suas trajetórias profissional e acadêmica e em seguida cadastrá-los no nosso site. E também vamos atrás das empresas, enviamos e-mails, participamos de reuniões para divulgar o tema”, explica Marília Correa, colaboradora do PARR. Os atendimentos do PARR prestam todas as informações necessárias ao refugiado que busca emprego, como o trajeto à empresa e até dicas sobre o processo de entrevista.
Embora o evento não tenha recebido a presença aguardada de representantes do setor privado, Daniela Guimarães afirma que novos encontros com a mesma proposta serão realizados. “A gente vai se fortalecer, continuaremos a organizar essas iniciativas, justamente para alcançar o nosso objetivo de os propiciar trabalhos dignos”, conta a idealizadora.
Para Aghiad Shallan, o ato de inserir seu nome na lista que será enviada a representantes o setor empresarial traz esperança não apenas de estabilidade financeira, mas de vivenciar um reencontro com quem hoje está distante. “Coloquei meu nome naquela lista para encontrar um emprego, quero trabalhar para poder trazer a minha família, que há dois anos não os vejo”, diz.
Por Nilton Carvalho, de São Paulo.