Refugiados iraquianos ajudam outros refugiados a encontrar segurança na Alemanha
Refugiados iraquianos ajudam outros refugiados a encontrar segurança na Alemanha
SALZBURGO, Áustria, 14 de outubro de 2015 (ACNUR) - Amigos de infância, Hussein e Jaffa fugiram juntos da guerra que devastou o Iraque, cruzando sete fronteiras e o Mar Egeu para buscar refúgio na Europa. Como eles buscam refúgio na Áustria, decidiram ajudar aqueles que seguem seus caminhos.
Vestindo coletes fluorescentes, eles atuam como voluntários em um acampamento improvisado no lado austríaco de uma ponte para a Alemanha. Ajudam cerca mil refugiados a conseguir comida quente, cuidados médicos, tendas para dormir e roupas quentes para vencer o frio do outono.
"Isso é algo que eu quero fazer aqui: ajudar as pessoas e se manter ocupado", diz Jaffa, 23 anos, com uma voz agradável, enquanto atua como intéprete dos refugiados de língua árabe que se dirigem à Alemanha.
Muitos vieram de países devastados pela guerra, como Síria, Iraque e Afeganistão, de barco, trem, carro e a pé. Tudo o que resta é passar pelos controles policiais austríacos e alemães sobre a ponte que liga os dois países vizinhos.
Exausto demais para continuar viajando após duas semanas periogas, Jaffa está entre as cerca de 57 mil pessoas que pediram asilo na Áustria (até o momento, neste ano).
Ex-soldado do exército iraquiano, viu amigos e camaradas serem abatidos por militantes melhores preparados. Quando foi enviado para o combate em Tikrit, Jaffa optou por se juntar a Hussein (um amigo de infância de sua cidade natal de Basra, no sul do Iraque) em busca de segurança na Europa.
A posicão de Hussein não era menos complicada. Ele tinha 13 anos quando soldados o recrutaram na rua para trabalhar com eles, pois viram que ele falava inglês. Mas foi deixado para trás quando eles se retiraram do Iraque, apesar das ameaças de milícias locais. Depois que homens armados assassinaram sua esposa, filho e pai no início deste ano, Hussein se viu forçado a fugir.
Nos últimos meses, os amigos fizeram várias tentativas perigosas para atravessar a Turquia pelo mar, antes de finalmente desembarcar na Grécia, e conseguirem chegar à Hungria antes que suas fronteiras fossem fechadas.
"Nos juntamos a centenas de pessoas que apertam suas mãos e caminham [de Budapeste] para a Áustria", diz Jaffa. "Nós nos sentimos realmente bem-vindos aqui".
A Alemanha espera receber 800 mil refugiados neste ano. Até o momento, já chegaram 441 mil pessoas pelo mar na Grécia. O número de refugiados que chega nestes países necessitando de de registo e proteção está colocando enorme pressão sobre os governos europeus.
Nos dez dias que Hussein e Jaffa têm ajudado refugiados que se preparam para cruzar a fronteira com a Alemanha, cresce ainda mais a preocupacão deles com seu próprio futuro. Eles não receberam uma resposta sobre seus pedidos de refúgio, e com pouco dinheiro para gastar, foram informados de que terão que deixar o alojamento em que estão.
Mas enquanto esperam para resolver seu próprio status, seus esforços para unir as culturas e acabar com as barreiras linguísticas para falantes de árabe em busca de segurança na Europa têm sido bem recebidis pelos refugiados e pela comunidade.
"É ótimo ver como a sociedade civil e as autoridades estão trabalhando juntas para fornecer o apoio urgentemente necessário para os refugiados", disse Christoph Pinter, chefe do ACNUR na Áustria. "E estamos entusiasmados que os refugiados, bem como os solicitantes de refúgio, estão se voluntariando também, tanto com as suas competências linguísticas, bem como os seus conhecimentos de ambas as sociedades", disse ele. "Isto é muito valioso".
Pory Rebecca Murray, Áustria.