No Sudão do Sul, mensagens simples produzem grandes resultados no combate a epidemias entre refugiados
No Sudão do Sul, mensagens simples produzem grandes resultados no combate a epidemias entre refugiados
BUNJ, 28 de outubro (ACNUR) - No campo de refugiados de Yusuf Batil, no Sudão do Sul, o número de novas infecções de fígado provocadas pela hepatite E já esteve com frequência entre 200 e 500 por semana. Com os esforços de saúde pública por parte da Agência da ONU para Refugiados e seus parceiros, a propagação da doença foi reduzida para menos de quatro casos semanais.
O surto da doença coincidiu com uma nova onda de chegada de refugiados do estado do Nilo Azul, no Sudão, durante o verão de 2012. A hepatite E, que está ligada à falta de higiene e condições sanitárias, é transmitida por mãos não lavadas, água e alimentos contaminados por matéria fecal.
Como primeira resposta, o ACNUR e as agências humanitárias redobraram esforços para proporcionar níveis suficientes de água potável, bem como um número adequado de latrinas equipadas com pias para lavagem das mãos.
"Hoje, o acesso à água em todos os campos é de 22 litros por pessoa, o que significa uma quantidade suficiente para cobrir as necessidades pessoais e domésticas diárias de um indivíduo", diz Adan Ilmi, chefe do escritório do ACNUR no condado de Maban. "Da mesma forma, a cobertura de latrina é uma para cada 17 pessoas."
A fim de garantir o uso correto das instalações sanitárias e a adoção das práticas de higiene, foram implantadas uma abrangente conscientização do público e uma estratégia de educação na área dos quatro campos de refugiados.
No centro dos seus esforços, agentes comunitários de saúde e promotores de higiene ensinam os refugiados sobre a importância de lavar as mãos. Demonstrações frequentes sobre o uso do sabão ou cinzas foram acompanhadas da distribuição regular de barras de sabão, a promoção do uso de latrinas, o monitoramento da limpeza e alertas sobre a necessidade de se evitar a defecação a céu aberto.
Doro é o campo de refugiados mais populoso de Maban, com 46.600 habitantes. Por causa da superlotação, durante a estação chuvosa está propenso a inundações que podem inutilizar latrinas. Enquanto a reconstrução e reabilitação de algumas dessas latrinas está em curso para conter a transmissão da hepatite E e outras doenças transmitidas pela água, o ACNUR também trabalha em uma estratégia para remover e realocar mais de 10 mil refugiados das áreas inundáveis de Doro.
A taxa de transmissão da hepatite E em Doro chegou ao ápice no verão passado com 50 a 80 novos casos por semana. Hoje em dia, como resultado de uma rigorosa campanha de higiene, o número de novos casos passou para uma média de 16 indivíduos por semana.
"Agora que as mensagens sobre as boas práticas de higiene foram divulgadas e compreendidas, as agências estão trabalhando para garantir que gestos como lavar as mãos tornem-se naturais e parte do dia a dia dos refugiados", diz Evalyne Nyasani, especialista em saneamento de água e saúde no UNICEF - agência irmã da ONU que trabalha com o ACNUR para prestar apoio e mecanismos de resposta aos refugiados.
A mudança de comportamento tem sido um dos grandes desafios enfrentados pelos profissionais da saúde nos campos de refugiados de Maban, diz Nyasani. Pouco uso de tratamentos prescritos, a preferência por remédios tradicionais a medicamentos convencionais e as práticas culturais profundamente enraizadas têm dificultado ainda mais os esforços de combate à doença.
"Compreendemos as mensagens das agências, mas algumas comunidades ainda acreditam que a hepatite E é enviada por Deus", diz Asha Osman, de 30 anos, que vive no campo de Doro. "Por isso, eles nem sempre levam a informação a sério, afirmando que Deus vai acabar com a doença."
Embora a incidência de hepatite E tenha sido dramaticamente reduzida, os esforços do ACNUR e seus parceiros para promover a boa higiene continuam. Os refugiados não serão apenas os destinatários das mensagens sobre saneamento, diz Adan Ilmi, eles também serão agentes ativos para a disseminação dessas mensagens.
"Os refugiados têm agora uma melhor compreensão do fato de que as mãos são veículos para a transmissão de bons ou maus impactos na saúde", diz ele. "A lavagem das mãos é uma prática pequena, porém essencial, que vai impedi-los de contrair hepatite E e outras doenças. Mas em última análise, a decisão de fazê-lo cabe a eles."
Desde o início de outubro, mais de 11 mil casos de casos de hepatite E foram registrados nos campos de refugiados de Maban, com 241 mortes em decorrência da infecção.
Por Pumla Rulashe, em Bunj, Sudão do Sul.