Cada vez mais pessoas se arriscam na travessia da Baía de Bengala em busca de segurança e uma vida melhor
Cada vez mais pessoas se arriscam na travessia da Baía de Bengala em busca de segurança e uma vida melhor
YANGON, Mianmar, 11 de Janeiro (ACNUR) – A Agência da ONU para Refugiados informou que um número crescente de pessoas está arriscando a vida em barcos de contrabandistas na Baía de Bengala, na sequencia da violência recente no estado Rakhine, em Mianmar, e da frustação quanto a falta de soluções para a situação.
Uma semana após o ano novo, mais de 2 mil pessoas deixaram o norte do estado de Rakhine e Bangladesh em grandes barcos de grupos de contrabando. Seu destino final é incerto, embora acredite-se que rumem em direção a outros países do sudeste asiático.
Estas informações somam-se ao que já é considerado um número recorde de pessoas que fizeram perigosas jornadas nos últimos meses. No ano passado, estima-se que 13 mil pessoas realizaram a travessia, entre elas muçulmanos do estado de Rakhine, refugiados que estavam em Bangladesh e os próprios nacionais de Bangladesh.
A maioria é composta por homens viajando sozinhos, mas acredita-se que é cada vez maior o número de mulheres e crianças – o que indica o crescente desespero e falta de perspectiva. Acredita-se que pelo menos 485 pessoas morreram ou permanecem desaparecidas em quatro acidentes reportados na Baía de Bengala no último ano. Mas o verdadeiro número de mortes pode ser muito mais elevado.
Informações não-confirmadas que circulam na mídia dão conta de que muitos dos passageiros que conseguem aportar na fronteira entre Tailândia e Malásia estão sendo retidos pelos contrabandistas, que exigem dinheiro de seus parentes em troca de sua libertação. Em caso de não pagamento do resgate, as pessoas estariam sendo vendidas para trabalhar forçadamente em barcos de pesca até que consigam pagar a dívida.
Não está claro quantos realmente conseguem chegar a seus destinos finais, onde frequentemente enfrentam o risco de prisão, detenção e possivelmente repatriamento forçado para Mianmar. O ACNUR continua tentando o acesso a pessoas que chegam de barco e que são presas pelas autoridades.
"Na Tailândia, pedimos o acesso a pessoas recém-chegadas de Mianmar e estamos aguardando uma resposta das autoridades. Na Malásia, o ACNUR pede sistematicamente e normalmente é concedido. O escritório lá é eventualmente capaz de garantir a libertação deles, se forem consideradas pessoas de interesse do ACNUR", disse um porta-voz da agência.
O ACNUR teme que mais pessoas façam essa perigosa viagem marítima, levadas pelo desespero depois da eclosão de violência entre comunidades no estado de Rakhine, em junho e outubro do ano passado. Cerca de 115mil pessoas permanecem deslocadas no estado.
No vizinho Bangladesh também tem havido um crescente sentimento de desesperança entre os refugiados que deixaram Mianmar no início dos anos 1990. Cerca de 30mil refugiados estão abrigados em dois campos oficiais, enquanto um maior número de muçulmanos de Rakhine está vivendo em precários abrigos improvisados, ou entre as comunidades locais.
"Esta crise crescente exige abordagens e soluções regionais. O ACNUR encoraja o governo de Mianmar a intensificar as medidas contra seus principais fatores ", disse o porta-voz, acrescentando que isso inclui "a falta de desenvolvimento sustentável e a consequente pobreza generalizada, a falta de direitos para uma parte importante da população e o reconhecimento da interdependência econômica de todas as comunidades do estado de Rakhine".
Ao mesmo tempo, o ACNUR está pedindo aos países da região para manter as fronteiras abertas e garantir tratamento humano e acesso do ACNUR as pessoas que procuram asilo. O ACNUR está pronto para apoiar os estados a ajudar pessoas que necessitam de proteção internacional. O ACNUR também apela aos navegadores que mantenham a longa tradição de salvamento de barcos em perigo.
Em março, o ACNUR apoiará a organização de um encontro regional sobre movimentos marítimos irregulares na região da Ásia-Pacífico, reunindo governos, organizações e outros parceiros na discussão de abordagens práticas para o problema. Espera-se que o fórum sirva como uma plataforma de lançamento de ações concretas por parte dos Estados da região para reforçar o diálogo regional e melhorar as respostas aos movimentos marítimos irregulares.