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Sírio arrisca tudo para levar sua esposa grávida até local seguro na Jordânia

Comunicados à imprensa

Sírio arrisca tudo para levar sua esposa grávida até local seguro na Jordânia

Sírio arrisca tudo para levar sua esposa grávida até local seguro na JordâniaPara onde quer que vão, deslocados e refugiados sírios são obrigados a fazer escolhas difíceis ao longo do caminho, sem saber aonde a jornada os levará.
18 Outubro 2012

IRBID, Jordânia, 18 de outubro (ACNUR) – A notícia foi devastadora. No ano passado, não muito depois do início do conflito sírio, Shadi*, um taxista que vivia em Homs, soube que sua esposa tinha sofrido um aborto. Os bombardeios e os tiroteios intensos na cidade síria tinham sido demais para ela, disse Shadi. A notícia foi ainda mais dolorosa porque há 17 anos – toda sua vida de casados – o casal ansiava por um filho.

Pouco tempo depois, Fátima* engravidou novamente. Desta vez, Shadi colocou uma ideia na cabeça. “Decidi deixar a Síria por minha esposa e filhos”, contou ele ao ACNUR na cidade de Ibird, no norte da Jordânia. Cerca de um mês atrás, Fátima deu a luz a gêmeos por meio de uma cesariana num hospital de Irbid: Loai* e Hala*. “Esperamos tanto por este dia”, disse o mais novo pai com alegria.

No entanto, há alguns contratempos. A garotinha Hala continua no hospital recebendo tratamento em incubadora por causa de uma complicação renal. Três vezes ao dia, Fátima percorre de ônibus a cidade montanhosa para amamentar sua filha, antes de retornar ao apartamento alugado para fazer o mesmo pelo filho.

E a família passa por dificuldades financeiras. O hospital cobra cerca de US$ 4.400 para o tratamento intensivo de Hala. A mãe de Shadi tem vendido suas joias em ouro para cobrir os US$ 110 do aluguel e das contas mensais. Apesar dos problemas, Shadi diz que não sente sofrimento algum: “Somos abençoados”, reiterou ele.

Uma Oficial de Campo do ACNUR visitou a família no começo do mês para fotografar os recém-nascidos e registrá-los como refugiados, o que permitirá a eles ter acesso à assistência médica gratuita e cobrir as despesas hospitalares. O registro também significou um auxílio financeiro mensal de até US$ 200 para o sustento da família.

Para onde quer que vão, deslocados e refugiados sírios são obrigados a fazer escolhas difíceis ao longo do caminho, sem saber aonde a jornada os levará. Para Shadi, a decisão foi particularmente desafiadora. Antes de deixar Homs, os médicos o advertiram a não viajar, temendo pela condição de Fátima. Eles estavam preocupados que a tentativa de deixar a cidade em meio aos combates pudesse provocar um novo aborto.

Entretanto, Shadi estava determinado. Ele estacionou seu táxi em frente de casa, esvaziou o tanque, pegou uma carona para a fora da cidade e pagou um segundo carro para conduzi-los até a fronteira. Estava na metade do inverno e nevava, recordou ele. “Minha temperatura estava altíssima por causa da preocupação”, disse. Na fronteira, Shadi tentou explicar aos guardas porque estava deixando a Síria, na tentativa de evitar que eles – cansados de ouvir as mesmas histórias - o mandassem de volta para casa. Shadi argumentou que estava indo à Jordânia por razões médicas: “De uma hora para outra, tantos sírios viajam por razões médicas, isso é uma epidemia!” – disse o guarda. Depois de uma hora ou mais, ele os deixou partir.

Mais tarde, a irmã e a mãe de Shadi tentaram atravessar a fronteira, porém apenas sua mãe foi autorizada. Em Irbid, a família encontrou um apartamento num prédio de propriedade de um sírio, que é o lar de outras 52 famílias sírias, muitas delas de Homs. Não é muito limpo, mas é seguro.

Shadi e seus familiares estão entre as dezenas de milhares de refugiados que moram em zonas urbanas na Jordânia. O país é conhecido por seu extenso campo de refugiados de Za’atri, mas apenas 35% dos refugiados moram nele; o restante, como Shadi e sua família, vive por conta própria nas cidades, pagando aluguel com alguma ajuda do ACNUR e do Governo da Jordânia.

Hoje, os gêmeos Loai e Hala já se parecem muito um com o outro, disse o pai orgulhoso. “Ela é magrinha, mas eles têm o mesmo jeito de se mexer, os mesmos gestos.”

Na semana passada, a Oficial de Campo do ACNUR, Huda Al-Shabsogh, visitou esta família em casa e no hospital para também registrar os gêmeos como refugiados. Isto tornará toda a família elegível  para receber assistência, inclusive a cobertura dos custos do tratamento da pequena Hala.

Al-Shabsogh, uma advogada jordaniana, fotografou os recém-nascidos e fez cópias de suas certidões de nascimento. “Não tenho vergonha de dizer que amo este trabalho”, disse a advogada. “É bom visitar as famílias, vê-las em suas casas e entender o que elas têm passado.” Isso é ainda mais verdadeiro quando a história tem um final feliz.

*Os nomes foram trocados por razões de segurança.

Por Andrew Purvis em Irbid, Jordânia