Novos ataques obrigam centenas de sudaneses a buscar refúgio no Sudão do Sul
Novos ataques obrigam centenas de sudaneses a buscar refúgio no Sudão do Sul
JUBA, Sudão do Sul, 25 de setembro (ACNUR) – A Agência da ONU para Refugiados divulgou nesta terça-feira que uma nova onda de ataques aéreos e terrestres no estado de Kordofan do Sul, no Sudão, está aumentando a entrada de refugiados no vizinho Sudão do Sul.
"Cerca de 100 pessoas chegam todos os dias em Yida, cidade no estado de Unity que faz fronteira com o Sudão", disse a porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming, frisando a saúde debilitada dos refugiados e a falta de recursos materiais. "Algumas pessoas relatam que, além da violência, a escassez de alimentos em Kordofan do Sul também as forçou a deixar o país. Muitos disseram que pretendem se estabelecer no campo de refugiados em Yida antes de buscar a família na fronteira.
"Já havíamos antecipado que o número de refugiados em Yida aumentaria com a diminuição das chuvas e o agravamento dos combates em Kordofan do Sul. Até o fim do ano deve haver mais de 80 mil refugiados na região”, disse a porta-voz do ACNUR. Instalado numa área de difícil acesso, o campo de Yida já abriga 64.200 refugiados e atingiu sua capacidade máxima. Por isso será necessário encontrar novos lugares para acomodar os recém-chegados, evitando ainda os problemas de saúde decorrentes da superlotação.
Segundo Fleming, com o aumento da tensão na fronteira, o ACNUR está “extremamente preocupado” com a segurança dos refugiados em Yida. "Continuamos trabalhando com as comunidades de refugiados para tentar realocar o campo num lugar mais seguro assim que as estradas forem reabertas (quando terminar a temporada das chuvas, em novembro)," acrescentou.
O ACNUR tem apoiado as autoridades do Sudão do Sul para assegurar que não haja armas ou combatentes no campo de Yida, prevenindo assim o recrutamento forçado de refugiados. No entanto, numa busca recente por armas no campo houve casos de detenção arbitrária e abusos contra os refugiados.
"Com ajuda de organizações parceiras temos monitorado a situação e intervido para garantir a libertação dos refugiados presos arbitrariamente", disse Fleming.
O ACNUR teme ainda que as fortes chuvas e inundações no estado de Alto Nilo, no Sudão do Sul, possam interromper as estradas e o acesso aos campos, que abrigam 105 mil pessoas. As mesmas razões podem afetar a assistência aos refugiados, descontinuando os serviços de saúde, higiene e campanhas contra a desnutrição e a hepatite E, lançadas em maio.
Muitas estradas já estão alagadas e em breve ficarão intransitáveis. A cidade de Bunj é a mais afetada. "Estamos particularmente preocupados com os refugiados no campo de Doro, nas imediações de Bunj, onde aproximadamente 75 famílias têm sido afetadas pelas enchentes nos últimos dias", disse a porta-voz do ACNUR.
De acordo com Melissa Fleming, estas famílias estão sendo transferidas para as áreas mais altas do campo, livres de inundações. Os três outros campos em Alto Nilo – Jamam, Yusuf Batil e Gendrassa – não foram atingidos pelas enchentes.
Durante o ultimo fim de semana, trabalhadores humanitários usaram tratores e caminhões para atravessar a água e a lama e distribuir 14 toneladas de ajuda nutricional no campo de Doro. O estado de Alto Nilo é o mais afetado pelas chuvas sazonais e poderá enfrentar mais danos ambientais se as enchentes do planalto etíope atingirem o Sudão do Sul este ano.
O fim do período de chuvas facilitará o acesso de refugiados aos campos e melhorará as condições de vida. A previsão é que aumente o número de pessoas vindas do estado sudanês Nilo Azul nas próximas semanas. O receio é que estes refugiados, especialmente as crianças, estejam com a saúde muito debilitada e sofram de desnutrição severa devido à piora das condições na fronteira entre o Sudão e o Sudão do Sul. Este será um grande desafio para a assistência humanitária na região.
O Sudão do Sul abriga hoje 201 mil refugiados, mais de 170 mil estão nos estados de Unity e Alto Nilo. O ACNUR precisa de US$186 milhões para atender aos sudaneses que saem, principalmente, dos estados de Kordofan do Sul e Nilo Azul em direção ao Sudão do Sul. No entanto, a Agência da ONU para Refugiados recebeu apenas US$71 milhões em doações, e continua tentando interceder junto a governos, setor privado e doadores individuais para manter esta grande emergência humanitária.