Para o ACNUR a escalada do êxodo na Síria é preocupante
Para o ACNUR a escalada do êxodo na Síria é preocupante
GENEBRA, 20 de julho de 2012 (ACNUR) - O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres, expressou sua preocupação com a escalada da violência na Síria e consequente aumento do número de pessoas tendo que abandonar suas casas. "Estou seriamente preocupado com os milhares de civis e refugiados que estão sendo obrigados a deixar o país", afirmou Guterres, referindo-se também aos refugiados iraquianos que vivem em Damasco.
Milhares de sírios cruzaram a fronteira com o Líbano na última quinta-feira, 19 de julho. Os relatórios indicam que entre 8.500 e 30 mil pessoas entraram no Líbano em apenas 48 horas. Com o apoio do governo do país, o ACNUR está em campo com ONGs parceiras para checar os números, avaliar o perfil e as necessidades dos recém-chegados da Síria. Atenção especial é voltada a pessoas em situação vulnerável, que precisam de assistência imediata.
Com o rápido crescimento da instabilidade na Síria, não tem sido possível determinar um número mais preciso de deslocados. "Estima-se que 1 milhão de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas desde o início do conflito, em março do ano passado", disse a porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming, para jornalistas em Genebra. "Muitos sírios estão ficando sem recursos e buscando a ajuda do Crescente Vermelho Árabe Sírio (SARC) e outras organizações".
Milhares de refugiados iraquianos que vivem, principalmente, no subúrbio de Seida Zeinab, em Damasco, saíram em razão da onda de violência. Pelo menos 2 mil se abrigaram em escolas e parques no distrito de Jaramana, onde muitos sírios também estão alojados.
"Temo pelos civis que não estão conseguindo sair de Damasco e estão presos no meio da violência, incluindo uma grande população de refugiados iraquianos", disse Guterres. Informações recebidas pelo ACNUR há alguns dias indicam que uma família iraquiana de sete pessoas foi encontrada morta em seu apartamento, enquanto três outros refugiados foram mortos por tiros.
"Apesar da insegurança, funcionários do ACNUR continuam com linhas telefônicas de emergência em Damasco e os escritórios de Aleppo e Al Hassekeh permanecem abertos. Centenas de refugiados relatam ameaças diretas e medo de serem pegos nos embates", contou Fleming.
Na última semana o ACNUR distribuiu uma assistência financeira emergencial para o aluguel de apartamentos e compra de itens domésticos básicos. Dois caminhões com doações foram distribuídos para sírios e iraquianos por voluntários do SARC em Damasco. Outras distribuições estão planejadas para os próximos dias.
O ACNUR na Síria tem mais de 250 funcionários nacionais e internacionais operando em Damasco, Aleppo e Al Hassakeh. No país existem mais de 88 mil refugiados iraquianos, a maioria em Damasco, e cerca de 8 mil refugiados de outras nacionalidades. Mais de 13 mil iraquianos deixaram a Síria no primeiro semestre de 2012, principalmente para voltar ao país de origem.
O ACNUR estenderá a assistência a 175 mil sírios. Até agora, a maioria dos itens prioritários foram distribuídos por voluntários do SARC em Damasco, Aleppo e Al Hassakeh para os sírios em situação de mais vulnerabilidade. O ACNUR deve ainda lançar um programa de assistência financeira para 25 mil famílias sírias.
ACNUR e SARC possuem 15 locais para estocar doações e tê-las disponíveis rapidamente. O plano é expandir o número de estoques nas próximas semanas.
A porta-voz do ACNUR disse ainda que, de acordo com as estimativas, "em 18 de julho, 120 mil refugiados sírios tinham buscado proteção na Jordânia, Líbano, Iraque e Turquia". Ela acrescentou que os governos locais têm números mais elevados.
Guterres elogiou a ajuda humanitária dos países vizinhos. "Sou extremamente grato à Jordânia, Líbano, Iraque e Turquia por terem mantido as fronteiras abertas".
Muitos refugiados sírios recém-chegados dependem de ajuda humanitária, alguns possuem apenas as roupas do corpo, pouco ou nenhum recurso financeiro após meses de desemprego. As necessidades de quem chegou no início do ano também aumentam a medida em que suas economias tornam-se escassas.
Ao mesmo tempo, as comunidades que acolhem os refugiados sentem cada vez mais pressão sobre a infraestrutura local e os recursos, particularmente no acesso a água, saúde e educação.
Duas semanas após o lançamento da revisão do Plano Regional de Resposta aos Refugiados Sírios, que abrange as necessidades de sete agências da ONU e 36 ONGs parceiras, arrecadou-se apenas 26% dos 193 milhões de dólares necessários. O Plano é um apelo conjunto das agências, liderado pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Por Sybella Wilkes em Genebra