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Dia Mundial do Refugiado é celebrado diante do agravamento da crise global

Comunicados à imprensa

Dia Mundial do Refugiado é celebrado diante do agravamento da crise global

O Alto Comissário pede maior ação internacional para parar conflitos, enquanto o número de pessoas deslocadas atinge valores históricos.
20 Junho 2015

GENEBRA, 20 de junho (ACNUR) – A incapacidade da comunidade internacional de atuar em conjunto diante dos números recordes de deslocamentos forçados causados por guerras simultâneas tornaram o cenário sombrio para os eventos que marcaram o Dia Mundial do Refugiado, no último sábado.

“Chegamos ao momento da verdade”, declarou o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres.

“A estabilidade mundial está destroçada, deixando um rastro de deslocamento em uma escala sem precedentes. Forças globais se tornaram observadores passivos ou atores distantes dos conflitos que estão deixando tantos civis inocentes longe de suas casas.”

Guterres, que no começo da última semana viajou à fronteira entre Síria e Turquia para testemunhar os deslocamentos causados pelos recentes embates na Síria, ressaltou que mais pessoas fugiram no ano passado do que em qualquer outra época desde o início dos registros do ACNUR. E o número total de deslocados forçados em todo o mundo subiu para espantosos 59,5 milhões.

“Ao redor do mundo, quase 60 milhões de pessoas foram deslocadas por questões de conflito e perseguição. Cerca de 20 milhões deles são refugiados, e mais da metade são crianças. Os números estão crescendo dia após dia em todos os continentes”, acrescentou.

Guterres celebrou o Dia Mundial do Refugiado na Turquia em apoio ao país que, no ano passado, tirou do Paquistão a posição de país que abriga maior população refugiada. O resultado é consequência do conflito no Iraque e também na Síria - onde a guerra entrou em seu quinto ano.

A Turquia acolhe mais de 2 milhões de refugiados e gasta mais de 6 bilhões sozinha na assistência aos sírios.

“Em um milênio, vivemos quinze anos na esperança de colocar fim às guerras, e a violência generalizada abalou profundamente as estruturas do nosso sistema internacional”, disse o Alto Comissário.

Destacando as terríveis estatísticas, ele afirmou que, em 2014, uma média de 42,5 mil pessoas por dia tornaram-se refugiadas, solicitantes de refúgio ou deslocadas internas.

“Este número é quatro vezes superior do que há quatro anos. Essas pessoas dependem de nós para sua sobrevivência e esperança. Elas se lembrarão do que fizemos”, afirmou.

O chefe da agência para refugiados, que já havia alertado para a pressão causada pela escalada de crises nas organizações humanitárias internacionais, afirmou que alguns dos países que mais poderiam ajudar estão, ao invés disso, fechando as portas para pessoas em busca de refúgio.

“As fronteiras estão se fechando e as hostilidades aumentando. Também estão desaparecendo as formas legítimas de deixar as áreas de conflito. Organizações humanitárias como o ACNUR funcionam com orçamentos apertados, incapazes de responder às necessidades desta grande população de vítimas”, ele disse em outro triste depoimento.

Guterres pediu que esses países “que têm influência nos atores envolvidos nos conflitos coloquem suas diferenças de lado e criem, juntos, as condições para dar um fim a esse derramamento de sangue.”

“O mundo precisa ajudar coletivamente as vítimas das guerras ou estará arriscando que os países e comunidades mais vulneráveis – que hospedam 86% dos refugiados – sejam sobrecarregados e se tornem instáveis”, disse.

Ao longo dos tempos, a proteção dos refugiados tem sido considerada importante. No entanto, Guterres lamenta que “atualmente, alguns dos países ricos têm desafiado esse antigo princípio, caracterizando refugiados como atravessadores de fronteira, pessoas em busca de trabalho ou terroristas. Esta avaliação é perigosa, míope, moralmente errada e, em alguns casos, indica violação de algumas obrigações internacionais”.

“É hora de parar de se esconder atrás de palavras enganosas. Nações mais ricas devem reconhecer refugiados pelas vítimas que são, pois estão fugindo de guerras que estas próprias nações foram incapazes de prevenir ou interromper”, ele concluiu.

O relatório do ACNUR “Tendências Globais: Mundo em Guerra” mostra que o aumento de deslocados forçados em 2014 foi o maior já visto em um único ano e que a tendência é piorar.

Globalmente, uma em cada 122 pessoas é refugiada, deslocada interna ou solicitante de refúgio. Se esta fosse a população de um país, seria o vigésimo quarto maior país do mundo em número de habitantes.

Enquanto isso, instabilidade e conflito de décadas no Afeganistão, Somália e outros países impulsiona o deslocamento contínuo de milhões de pessoas, abandonadas por anos às margens da sociedade como deslocadas internas ou refugiadas.

Uma das mais recentes e visíveis consequências dos conflitos, e o terrível sofrimento que eles causam, tem sido o crescimento dramático dos números de refugiados arriscando a vida em perigosas travessias marítimas, incluindo rotas no Mediterrâneo, Golfo de Áden, Mar Vermelho e no sudeste asiático.