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Deslocados líbios retornam a Sirte para reconstruir a cidade e enfrentam necessidades

Comunicados à imprensa

Deslocados líbios retornam a Sirte para reconstruir a cidade e enfrentam necessidades

Deslocados líbios retornam a Sirte para reconstruir a cidade e enfrentam necessidadesQuase 60 mil pessoas, ou mais de 70% dos que deixaram a Líbia, já retornaram ao país desde a morte de Gaddafi, em 20 de outubro de 2011.
16 Abril 2012

SIRTE, Líbia, 16 de abril de 2012 (ACNUR) – Ali aponta para um bloco habitacional que lembra um pedaço de queijo suíço – cheio de buracos por conta de fogo da artilharia - e diz que se sente sortudo por poder, ao menos, viver em seu apartamento também danificado, próximo dali. "O apartamento acima do meu foi atingido por um tanque”, ele contou ao ACNUR, completando que dois de seus cômodos foram afetados e que ele precisará gastar 5.000 ou 6.000 dinares líbios (US$ 4.000 to US$4.800) para reparar os estragos.

Formado em Administração pela Universidade de Sirte, Ali, 33, também está feliz simplesmente por estar vivo. "Um amigo morreu na minha frente nessa esquina. Uma bomba explodiu próxima à ele”, disse, relembrando os ataques em Sirte em setembro e outubro do ano passado, que forçaram dezenas de milhares de pessoas a fugir da cidade natal de Muammar Gaddafi.

Quase 60 mil pessoas, ou mais de 70% dos que deixaram a Líbia, já retornaram ao país desde a morte de Gaddafi, em 20 de outubro de 2011. “O início deste retorno foi gradual, mas está se acelerando”, diz o trabalhador humanitário Wouter Takkenberg. "Em muitos sentidos, Sirte quase voltou ao normal”.

Em meio a prédios que carregam as marcas do conflito, as ruas estão cheias de carros e pessoas, lojas e restaurantes funcionam e a reconstrução começou. Eletricidade e água estão funcionando novamente em muitas áreas.

Mas as necessidades dos retornados e deslocados na cidade costeira ainda são grandes, e isso tem mantido organizações como o ACNUR e seus parceiros muito ocupados. Muitos dos retornados encontraram suas casas destruídas ou, como Ali, danificadas e com necessidade de reparos.

Cerca de 20 mil residentes continuam deslocados, incapazes de retornar a suas casas em uma cidade que provavelmente sofreu os maiores danos materiais entre todas as cidades da Líbia, durante os conflitos do ano passado. Quase 75 mil pessoas continuam deslocadas internamente na Líbia, a maioria de Misrata e Sirte, assim como da cidade de Tawergha e das Montanhas Nafousa.

Takkenberg, que passou vários meses em Sirte implementando projetos do ACNUR, disse que muitas pessoas continuam vivendo em casas de família, como hóspedes. “Todos precisam de alimentos e itens não alimentares também, especialmente porque os preços em Sirte aumentaram”, afirma.

Existem também os perigos, que incluem munição não desativada e insegurança persistente. Além da distribuição de comida e itens de ajuda para dezenas de milhares, a organização ACTED contribui com as condições de acesso a centenas de edifícios, enquanto o Mines Advisory Group ensina sobre os riscos aos estudantes em escolas reabertas.

"Existe um grande número de munição não desativada na cidade. É um problema primordial”, disse Takkenberg, completando que isso afetou programas de subsistência e escolas. O ACNUR, ao mesmo tempo, regularmente monitora as necessidades de proteção e providenciou assistência aos deslocados internos em Sirte e em outros lugares na Líbia.

Ali, que em outubro passado passou três semanas abrigado em um porão antes de fugir para a cidade de Zlitan para escapar dos bombardeios, disse que sua principal preocupação era segurança e dinheiro. Ele continua trabalhando, mas recebe um salário irregular. “Se não fosse o problema do pagamento, poderia sobreviver”, explica.

Muitos outros citam finanças como uma preocupação primordial, especialmente quando retornam a Sirte e encontram o sistema bancário inoperante. "Não havia liquidez na cidade. Esta era a maior necessidade entre toda a população”, afirma Takkenberg, completando que a situação está melhorando e que “a economia está ganhando vida novamente”.

Aos 35 anos de idade, Mohamed, um funcionário público como muitos líbios, está também preocupado com sua segurança e dinheiro. Ele disse que recebeu algum pagamento das autoridades provisórias, mas é incapaz de trabalhar normalmente. “Apenas professores e médicos estão trabalhando em período integral”, afirma.

Em setembro passado, Mohamed, sua esposa e dois filhos correram em direção ao carro durante um ataque aéreo da OTAN e deixou para trás seu apartamento em Sirte, altamente danificado na Zona Dois. Eles encontraram abrigo com parentes em uma vila a leste da cidade.

Quando retornaram, em novembro passado, Mohamed percebeu que “muitos de seus pertences desapareceram”, incluindo um computador e uma televisão. Mas teve um alívio. “Estava bastante preocupado pois pensava que Sirte tinha sido destruída. Mas, graças a Deus, encontrei meu apartamento em boas condições”.

Al-Sharef, 55, membro do clã de Gaddafi, não foi tão sortudo. Sua casa alugada no limite da Zona Dois estava bastante danificada. Então, ele vive agora com sua família em um subúrbio de Sirte.

Ele, sua esposa e filhos vivem em um de um conjunto de vários bangalôs de madeira alugados a famílias deslocadas. Apesar da conexão tribal, eles são claramente pobres, porém hospitaleiros. Al-Sharef ganha 250 dinares por mês como vigia em uma construção, mas o pagamento é desigual e o aluguel é de 170 dinares. Ele também tem que pagar pela água que é transportada, mas conectou uma linha à rede elétrica.

Também há o custo do transporte para seus cinco filhos que estão na escola - 100 dinares por mês para todos. "Precisamos de ajuda para tudo, desde dinheiro, até abrigo e acomodação”, Al-Sharef disse ao ACNUR. De tempos em tempos, ONGs levam comida, ele contou, completando que a família recebe cuidados médicos gratuitos.

ACTED, trabalhando com o Programa Mundial de Alimentos, o Crescente Vermelho líbio e as comissões locais de socorro, tem distribuído alimentos a 10.800 famílias.

O ACNUR providenciou itens de auxílio aos deslocados internos em todo o país. Em 2011 sozinha, a agência distribuiu itens não alimentares a mais de 140 mil pessoas e viabilizaram abrigos danificados em 9.941 casas. Em colaboração com seus parceiros, o ACNUR coordenou a assistência aos locais com deslocados internos no país e ajudou a identificar falhas na proteção. Em conversações com o UNICEF e a LibAid, o ACNUR está trabalhando em uma pesquisa sobre o acesso à educação por parte dos deslocados.

Por Leo Dobbs em Sirte, Líbia