Centenas fogem dos contínuos ataques do LRA no nordeste do Congo
Centenas fogem dos contínuos ataques do LRA no nordeste do Congo
DUNGU, República Democrática do Congo, 30 de março de 2012 (ACNUR) – Ataques contínuos do grupo rebelde Lord's Resistance Army (LRA) levou mais de 1.200 pessoas a se deslocarem e matou outras duas no nordeste da República Democrática do Congo (RDC) esse mês. Com isso, o número de deslocados na província Orientale subiu para mais de 4.200 – podendo ser maior ainda.
Os vizinhos Sudão do Sul e a República Centro-Africana também estão sendo afetados pela violência do LRA, um brutal grupo rebelde de Uganda que está sendo perseguido por várias forças armadas na região da África central.
"Deste nossa última atualização, no início de março, houveram 13 novos ataques do LRA no nordeste da República Democrática do Congo. A maioria ocorreu no território de Dungu entre os dias 6 e 28 de março”, informou uma porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), na última sexta-feira.
"Duas pessoas foram mortas e 13 sequestradas, incluindo uma criança na cidade de Aba. A violência também deslocou mais de 1.230 pessoas na região de Dungu", completou. "Muitos outros podem ter se deslocado, mas não sabemos o número exato porque não temos acesso a muitas áreas”, disse em Dungu a Oficial de Relações Externas do ACNUR, Céline Schmitt.
Ela afirmou que há relatos de ataques realizados pelo grupo rebelde de Uganda em Bondo, próximo a fronteira com a República Centro-Africana (RCA).
O ACNUR e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) têm ajudado as pessoas que encontraram abrigo em Dungu. Cerca de 200 famílias – aproximadamente mil pessoas – já foram assistidas. O auxílio do ACNUR inclui a doação de lonas plásticas, colchões, utensílios de cozinha, mosquiteiros e cantis de água.
Na República Centro-Africana, os ataques atribuídos ao LRA recomeçaram em janeiro, após um período de calmaria desde abril de 2011. Onze ataques do LRA foram relatados no sudeste do país este ano. Oito destes ocorreram próximos as cidades de Zemio e Mboki, onde o ACNUR auxilia populações refugiadas e de deslocados internos.
Quatro pessoas foram mortas durante os ataques e 31 foram sequestradas, de acordo com forças de segurança e defesa da RCA.
A questão de segurança no sudeste da RCA continua extremamente frágil. Uma exceção é a cidade de Obo, onde a situação melhorou com a presença de tropas das Nações Unidas que chegaram em outubro passado para apoiar os esforços conjuntos das forças armadas da RCA e Uganda em deter o LRA e sua liderança.
A equipe de campo do ACNUR disse que patrulhas no entorno de Obo, das duas forças armadas apoiadas por militares dos EUA, capacitaram autoridades locais para garantir a segurança em uma área de 25 quilômetros ao redor Obo (antes, essa área era de cinco quilômetros). Os avanços das forças de segurança estão permitindo que os residentes possam cuidar de suas fazendas.
O LRA também conduz ataques repentinos no Sudão do Sul. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), ataques deste tipo em 2011 mataram 18 pessoas, feriram nove e resultaram em 49 sequestros e 7.382 pessoas deslocadas internamente.
Nenhum ataque do LRA foi registrado no Sudão do Sul este ano. Entretanto o ACNUR recebe regularmente novos grupos de refugiados fugindo de ataques do LRA na República Democrática do Congo e na República Centro-Africana. Dois estados do Sudão do Sul (Equatoria Oriental e Equatoria Central) receberam juntos mais de 22.000 refugiados destes dois países vizinhos, incluindo 700 recém-chegados este ano.
O Sudão do Sul está se preparando para receber forças da União Africana para coordenar um esforço regional com o objetivo de eliminar as ameaças do LRA.
O ACNUR saúda esta iniciativa regional e internacional sem precedentes que visa acabar com as atrocidades do LRA na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo, e alerta os atores para o respeito aos direitos humanos e minimização dos riscos a população civil.
Ataques indiscriminados do LRA a civis nesses três países deixaram uma estimativa de 440.000 pessoas deslocadas internamente ou vivendo como refugiadas. Cerca de 335.000 delas encontram-se na RDC.
O ACNUR trabalha junto a autoridades locais, outras agências da ONU, assim como organizações não governamentais para assistir pessoas que escaparam ou foram resgatadas do LRA. Alguns sobreviventes disseram ao ACNUR que, durante suas capturas, foram torturados. Alguns também presenciaram o assassinato de parentes.
Por Fatoumata Lejeune-Kaba