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Jovem refugiado somali sonha em se tornar estrela do hip hop

Comunicados à imprensa

Jovem refugiado somali sonha em se tornar estrela do hip hop

Jovem refugiado somali sonha em se tornar estrela do hip hopSáber deixou a Somália há 5 anos, em direção a Líbia. Em março do ano passado, teve que fugir para a Tunísia e por causa dos protestos que levaram à queda de Muammar Gaddafi.
29 Março 2012

Campo de CHOUCHA, Tunísia, 29 de março de 2012 (ACNUR) – "É muito claro para mim que serei uma grande estrela", afirma o jovem Sáber, em um acampamento de refugiados na fronteira entre a Tunísia e a Líbia. Confiante, ele demonstra ter seu futuro planejado. Mas este artista em formação tem também a consciência das dificuldades que terá pela frente. "Sem minha família, meu sonho não é nada", afirma o jovem refugiado somali, um adolescente vulnerável que precisa de ajuda.

O jovem de 17 anos vive no campo transitório de Choucha, próximo à fronteira Tunísia-Líbia, há um ano e agora aguarda ansiosamente uma resposta se os Estados Unidos – o lar do hip-hop – o aceitarão para reassentamento. É um processo lento, mas sendo um menor desacompanhado ele é considerado “particularmente vulnerável” pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR).

A Oficial de Proteção do ACNUR, Isabelle Misic, explica que menores desacompanhados "não enfrentam apenas as dificuldades de estar em um país estrangeiro como crianças, mas também correm riscos de abuso e exploração devido à ausência dos pais". A agência da ONU para refugiados monitora de perto a situação de jovens e crianças em Choucha e ajudou a estabelecer redes comunitárias de apoio a cerca de 100 menores desacompanhados que ainda estão no campo, além de proporcionar atividades educativas, esportivas e de recreação por meio do Conselho Dinamarquês para Refugiados (Danish Refugee Council).

Sáber deixou a Somália, sua terra natal, há 5 anos, em direção a Líbia. Em março do ano passado, teve que fugir novamente, desta vez para a Tunísia e por causa dos protestos que levaram à queda do regime de Muammar Gaddafi. Ele deixa claro que quer deixar Choucha. "É muito frio, ou muito calor. Venta muito. Não me sinto feliz nesse lugar". Recentemente, ver outros menores desacompanhados partirem para reassentamento na Europa tem sido difícil para ele.

Mas o adolescente tem aproveitado bem seu tempo, reunindo um público fiel entre os mais de 3.000 refugiados e solicitantes de refúgio que vivem em Choucha – homens solteiro vindos da África Sub-saariana, em sua maioria – em torno do seu talento como rapper. O jovem rapaz se apresenta como "S'Joe" uma vez por semana em um centro comunitário localizado no Conselho Dinamarquês para Refugiados. Numa recente visita do ACNUR ao local, Sáber estava entretendo dúzias de pequenas crianças em uma festa organizada para manter animados aqueles que aguardam o reassentamento para países terceiros.

Sáber nunca deixou de acreditar em si mesmo. Quando tinha 12 anos, decidiu deixar Mogadíscio sem contar a sua família, pois "estava com medo de que eles me dissessem para não ir, por ser jovem”. Mas acabou indo embora com uma família vizinha para Addis Ababa, na Etiópia.

"Havia um problema de segurança em meu país", contou ele ao ACNUR, se referindo ao cruel conflito que começou a devastar a Somália quatro anos antes de seu nascimento. "E, também, nunca tive nenhuma oportunidade de obter uma educação boa em Mogadíscio", completou Saber, o mais velho de nove filhos, citando o outro motivo pelo qual escolheu deixar a capital da Somália.

Após dois meses na Etiópia, seus vizinhos de Mogadíscio foram para a Europa, deixando o menor sozinho. Ele se juntou a um grupo de jovens somalis que concordaram em levá-lo para a capital do Sudão, Cartum. "Fiquei em Cartum por oito meses e tentei arranjar um emprego, mas os empregadores disseram que eu era novo demais”. Então ele se juntou a um outro grupo que ia para a Líbia. "Não tive que pagar nada. Entramos na Líbia por Kufra (no sudeste)”, explicou.

Sua sorte acabou na cidade de Ajdabiya ao leste, onde ele e seus companheiros de viagem foram presos e detidos por seis meses, sendo liberados somente após pagarem por sua liberdade. A próxima parada de Sáber foi Trípoli, no final de 2008, onde sua carreira musical teve início.

"Eu gostava de música, então criei um grupo chamado 'Oncod Again' [Thunder Again]", disse. O adolescente fazia seus raps em somali, enquanto seus colegas de banda – três garotas e um garoto – faziam o back-vocal. Ele comprou uma guitarra com a ajuda de “amigos líbios”, o que ajudou sua carreira. “Quando as pessoas me viam e eu dizia que queria ser músico, elas me apoiavam”.

A banda tocava, na maior parte das vezes, em festas particulares, e se preparavam para crescer. “Em março de 2011, planejávamos fazer um grande show, mas a guerra interrompeu nossos planos”, relembra Sáber. Nove dias antes de sua apresentação, ele se juntou a dezenas de milhares de outros estrangeiros para atravessar a fronteira com a Tunísia em Ras Adjir, a cerca de sete quilômetros de Choucha. "Estava com medo da guerra e procurava segurança”, explicou.

Não há muito o que fazer em Choucha, mas Sáber tem perseguido seu sonho aqui. E encontrou um mentor e professor, um rapper de 30 anos que se apresenta como "SD". O nigeriano, que viu seu pupilo se apresentando no centro comunitário do Conselho Dinamarquês para Refugiados, tem ensinado "S'Joe" a cantar e escrever suas músicas.

"Eu pensei: este garoto é bom", afirma SD, porá quem Sáber ainda precisa de treinamento musical e um equipamento decente. SD tem compartilhado seu conhecimento e ensina a Sáber que deve usar um telefone celular para baixar músicas de fundo, pois eles não possuem um computador que os permitiria criar seus próprios sons.

"Buscamos batidas e depois fazemos o que queremos", diz SD, completando: "Cantamos sobre as coisas ao nosso redor". Sáber também assiste regularmente o canal MTV na tenda de um vizinho em busca de inspiração. Os dois já criaram um portfólio com títulos como "Tears of Pain," "Disguise my Limits," "Choucha Gospel" e "Don't Go Back" – esta última, uma mensagem para as pessoas em Choucha que pensam em retornar a Líbia para fazer a perigosa travessia marítima para a Europa.

Além de manter vivas as ambições e otimismo de Sáber, o hip-hop também está colaborando para a educação do jovem. Ele canta, na maioria das vezes, em somali, mas percebe que para fazer sucesso “falta alguma coisa: o inglês”. Por isso, começou a frequentar cursos do idioma, determinado a adicionar outro ingrediente no hip-hop.

Enquanto isso, duas coisas permeiam sua mente: sua família e o seu nos Estados Unidos, que estão analisando seu caso. Com a ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ele fala com seus parentes toda sexta-feira por telefone. Sáber espera que um dia possam se reunir em um novo país, onde todos possam seguir seus sonhos.

Por Leo Dobbs no Centro de Choucha, Tunísia

Veja o Sáber no vídeo Hip Hop Hooray