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De volta aos trilhos e para casa: uma viagem ao Sudão do Sul

Comunicados à imprensa

De volta aos trilhos e para casa: uma viagem ao Sudão do Sul

De volta aos trilhos e para casa: uma viagem ao Sudão do SulApós viver cinco meses no limbo, cerca de 1.400 sudaneses do sul iniciaram recentemente uma longa jornada para o Sudão do Sul a bordo do primeiro trem que saiu, este ano, de Cartum.
5 Março 2012

CARTUM, Sudão, 05 de março de 2012 (ACNUR) – Após viver cinco meses no limbo, cerca de 1.400 sudaneses do sul iniciaram recentemente uma longa jornada para o Sudão do Sul a bordo do primeiro trem que saiu, este ano, de Cartum, capital do vizinho Sudão, em direção ao novo país.

Frisella Achul, 38 anos, e mãe de três crianças, estava entre a multidão que se reuniu ansiosamente na estação de trem de Soba, no leste de Cartum, na última quinta-feira. Enquanto a poeira varria a estação, pessoas de todas as idades carregavam suas malas no carro de passageiros ou esperavam em longas filas para se abastecerem de água, preparando-se para a longa jornada até Wau, no Sudão do Sul.

“Espero que este trem não se atrase novamente. As pessoas estão frustradas e chateadas com os contínuos atrasos e não podem mais viver dessa maneira, entre o céu e a terra, sem nada para as proteger”, disse Frisella.

Enquanto muitas outras famílias enfrentavam problemas com suas malas, Frisella viajava com pouca bagagem e sozinha. Ela vendeu a maioria dos seus pertences para conseguir viajar e deixou os filhos para trás para que completem o ano escolar antes de se juntarem a ela, no sul.

Seus filhos nasceram e foram criados em Cartum. Dois estão na universidade e outro está no final do ensino fundamental. Frisella também nasceu em Cartum, sendo que seus pais eram originários do sul. Ela nunca viu sua cidade ancestral de Wau, mas decidiu fazer as malas e “voltar para casa” após o Sudão do Sul se separar do Sudão, em julho do ano passado.

Os meios de transporte em Cartum não estão respondendo à demanda massiva de pessoas que querem ir para o sul, deixando muitas ao relento, em diferentes pontos ao redor da capital. “Tenho estado nesta situação desde que deixei minha casa para esperar o momento de tomar o trem. Deixei meu trabalho em uma ONG e preciso arrumar um novo emprego”, disse Friella.

O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional de Migrações (OIM) estão trabalhando juntas para facilitar o embarque das pessoas que aguardam um transporte para o Sudão do Sul. Entre os mais vulneráveis estão 319 pessoas que já chegaram ao novo país. Com a retomada do serviço de trens para Wau, no Sudão do Sul, na semana passada, espera-se que outras 4.500 pessoas possam deixar Cartum neste mês.

Um acordo recente entre o Sudão e o Sudão do Sul deve facilitar um movimento migratório em grande escala do norte para o sul. Mas ainda há questões em aberto, como financiamento da operação, problemas logísticos e reforço na segurança em todo o trajeto.

O trem da última quinta-feira, por exemplo, tinha muitos problemas. Houve um atraso de quatro horas na saída, e o trem – que já está em uso há mais de 60 anos – parou fora de Cartum por outras tantas horas. Uma mulher grávida perdeu seu bebê enquanto outra estava prestes a dar à luz, assistida por três médicos, uma parteira e um farmacêutico que estavam a bordo.

O trem levará pelo menos duas semanas para chegar a Wau, se não houve problemas com freios no caminho. Apesar de o governo assegurar que está tomando todas as precauções de segurança, Frisella está preocupada com a segurança dos passageiros, principalmente as crianças.

Com razão, ela tem sentimentos dúbios sobre deixar o Sudão. “Embora tenha vivido em Cartum toda minha vida e tenha boas recordações e fortes relacionamentos com minha comunidade, sinto que não pertenço ao norte”, afirma.

Ela tem parentes no Sudão do Sul, mas não possui terra ou outras propriedades. Temporariamente, viverá em um campo para deslocados internos. “Mesmo assim, sinto que estou voltando para meu país. Não somos vistos como cidadãos pelo norte, e também somos considerados estrangeiros pelas pessoas que vivem no sul há mais tempo do que nós. Tenho a preocupação de sentir o mesmo sentimento de alienação que tenho no norte”.

Se as pessoas que querem voltar para o sul passam por crises de identidade como a de Frisella, aqueles que permanecem no norte enfrentarão um limbo legal nas próximas semanas. Estima-se que existam cerca de 500 mil sudaneses do sul vivendo atualmente no Sudão cujo status migratório será revisto em abril, quando termina o prazo para que todos os residentes regularizem sua situação de residência no país.

O ACNUR e a OIM têm trabalhado com os governos do Sudão e do Sudão do Sul para que informem, de maneira clara, quais procedimentos devem ser tomados pelos sudaneses do sul que querem permanecer no norte. 

Por Nahla Abu-Eissa, em Cartum – Sudão.