Mulher somali representa comunidade refugiada em conferência ministerial
Mulher somali representa comunidade refugiada em conferência ministerial
WASHINGTON D.C., Estados Unidos, 4 de janeiro (ACNUR) – Fatuma Elmi, uma refugiada somali reassentada nos Estados Unidos, participou recentemente de uma conferência internacional sobre deslocados internos e apátridas, organizada pelo Alto Comissariado da ONU para refugiados (ACNUR). O evento ocorreu no mês passado na sede da agência em Genebra. Nos últimos 15 anos, Elmi trabalhou no Serviço Social Luterano em Minnesota, ajudando novos refugiados a encontrar trabalho e oportunidades educacionais nos Estados Unidos. Há pouco tempo ela falou com a estagiária do escritório de Informação Pública do ACNUR em Washington, Priscilla Yoon, sobre o evento em Genebra, seu trabalho com os refugiados reassentados e sua própria experiência de recomeçar uma vida nova nos Estados Unidos. Abaixo, trechos da entrevista:
Como foi sua participação no evento ministerial do ACNUR?
Eu fiquei muito surpresa e entusiasmada por ser enviada para lá como uma delegada dos Estados Unidos. Participei de uma mesa redonda sobre questões relacionadas a refugiados e direitos humanos. Foi uma experiência muito enriquecedora já que eu conheci e conversei com várias pessoas interessantes e influentes, além de ter tido a oportunidade de dizer minhas opiniões e sugestões a elas.
A Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, te mencionou em seu discurso durante o evento. Como isso pode contribuir para dar visibilidade à causa dos refugiados?
É sempre bom ver um imigrante reconstruir uma vida melhor em um novo país. Fiquei muito orgulhosa, mas eu não diria que comecei do zero como muitos outros refugiados que pedem ajuda. Ainda assim, quando cheguei aos Estados Unidos eu comecei de baixo. Eu falava quatro idiomas, era formada em contabilidade e tinha 12 anos de experiência em cargo de responsabilidade em uma empresa petroleira. Apesar de pensar que seria fácil encontrar um bom trabalho, tive que começar como faxineira. Eu limpei quartos de hotéis por nove meses, subi de posição e permaneci em uma empresa hoteleira por cinco anos. Ao mesmo tempo, eu me ofereci como voluntária ao Serviço Social Luterano como conselheira para refugiados, o que, posteriormente, me levou a ter um trabalho fixo como conselheira na área de emprego.
Quis foram os maiores desafios e êxitos que você teve no início de seu processo de integração nos Estados Unidos?
A minha expectativa com relação ao emprego que eu conseguiria foi um desafio. Refugiados com experiência profissional me procuram cheios de expectativas, mas pelo menos eu posso dizer a eles que eu já estive na mesma posição. Digo que eles são novos e que precisam mostrar o que sabem fazer. Quando eles demonstram suas habilidades, as portas se abrem. Refugiados com base profissional tem a ideia de que encontrar um trabalho em sua área de expertise é fácil. Mas quando você se dá conta de como funcionam as coisas, então você aceita começar de onde é possível.
E quais foram seus êxitos?
O trabalho que eu faço não é por dinheiro. Faço pela satisfação. Eu consigo encontrar bons empregos para mulheres, mães solteiras, viúvas, de forma que elas possam ter sua independência. Essa é a maior satisfação para mim. E quando os refugiados retornam e me agradecem eu digo, “Nós só ajudamos você a se preparar, o resto foi você que conseguiu”. São eles que fazem a entrevista com o empregador, então são eles que fazem por onde conseguir o trabalho, não eu.
O que a comunidade internacional pode fazer em relação à crise humanitária no seu país de origem, Somália?
É realmente um desafio. Nos últimos 20 anos vemos os mesmos problemas surgirem uma e outra vez: fome, assassinatos, guerra civil, etc. Embora a ONU, os Estados Unidos e outros países tentem ajudar o meu país, é a própria Somália que precisa fazer alguma coisa. Precisamos cuidar dos nossos próprios problemas.
O que mais poderia ser feito pelos refugiados com que você trabalha?
Eu diria que os refugiados deveriam ser melhor preparados antes de serem reassentados. Muitos refugiados reassentados pensam que todos seus problemas ficaram no campo de refugiados e, por isso, quando chegam aqui estão despreparados para enfrentar a realidade. Se eles pudessem aprender inglês antes de serem reassentados, encontrariam trabalho muito mais rápido. Um fator que nos ajuda muito, é que a comunidade somali é bastante generosa. Apesar da guerra civil e dos enfrentamentos, aqui nós nos apoiamos.