ACNUR retoma programa de repatriação para mais de 40 mil refugiados angolanos
ACNUR retoma programa de repatriação para mais de 40 mil refugiados angolanos
LUVO, Angola, 04 de novembro (ACNUR) – O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) relançou na última semana um programa de repatriação que deve promover o retorno de mais de 40 mil refugiados angolanos para suas casas, depois de terem vivido anos em uma região fronteiriça no oeste da República Democrática do Congo.
Na última sexta-feira, o primeiro grupo de 252 pessoas cruzou a fronteira norte da Angola em sete ônibus, após deixar a cidade congolesa de Kimpese, na província de Bas-Congo. Eles foram calorosamente recepcionados no centro de trânsito da cidade de Luvo pelo ministro angolano de Assistência e Reinserção Social, João Baptista Kussumua, e por outros funcionários do governo.
O ministro disse que aquele era um momento importante para a Angola. “Começamos hoje o processo de repatriação que irá resultar no retorno de 43 mil refugiados”, disse. “Nós temos uma responsabilidade com as crianças que retornaram hoje, que é de nos certificarmos de que poderão estudar”, Kussumua acrescentou.
Emma, 57 anos, era um dos refugiados que regressaram nesse dia e ficou maravilhado por retornar à Angola depois de 12 anos. “Meu sonho de voltar para casa se realizou”, disse. “Estou feliz por perder o nome ‘refugiado’, não sou mais um refugiado.”
As grandes operações de repatriação de angolanos residindo na República Democrática do Congo foram interrompidas em 2007 devido a algumas dificuldades, inclusive de logística. Mas a RDC acolhe atualmente cerca de 80 mil refugiados angolanos, alguns dos quais estão no exílio há vários anos. Uma pesquisa feita pelo ACNUR no ano passado constatou que 43 mil pessoas ainda estavam interessadas em voltar para casa.
Um novo acordo assinado em junho deste ano por Angola, República Democrática do Congo e ACNUR abriu o caminho para a recente operação de repatriação. Até o momento, cerca de 20 mil pessoas já se inscreveram para conseguir retornar ao país com apoio do ACNUR, e está planejada a saída de dois comboios por semana.
Os refugiados mencionaram à equipe do ACNUR vários motivos pelos quais gostariam de voltar para casa, dentre os quais estão a melhoria nas condições de segurança na Angola, o reencontro familiar, ou porque sentem que seria melhor estar em sua casa ou simplesmente porque sentem saudades.
Na preparação para o retorno da última sexta-feira, os refugiados foram levados no dia anterior ao centro de trânsito em Kimpese, passaram por triagem médica, foram vacinados e receberam o formulário de repatriação voluntária – o qual servirá como documento de identidade até que tenham seus documentos angolanos.
A Angola assegurou aos refugiados que as autoridades irão auxiliá-los com habitação, crédito microempresarial, formação profissional e outros projetos de reintegração que irão ajudá-los a se tornar auto-suficientes. O ACNUR irá monitorar a situação dos repatriados por até 18 meses.
A repatriação de refugiados angolanos também está acontecendo em outros países da região sub-saariana. Operações de regresso da República do Congo devem começar em breve, e há poucas semanas cerca de 1,7 mil refugiados angolanos deixaram a Zâmbia.
Retornos em grande escala podem envolver importantes desafios logísticos. Estradas e pontes devem ser consertadas – tarefa que se tornou mais difícil com o início da estação chuvosa.
Cerca de 113 mil refugiados angolanos ainda estão na RDC, República do Congo, Zâmbia, Botswana e Namíbia. Em outubro, o ACNUR e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) fizeram um apelo conjunto por 21 milhões de dólares para repatriar refugiados angolanos que se encontram em vários países do mundo. Até agora, o ACNUR recebeu apenas 8 milhões de dólares.
Por Celine Schmitt em Luvo, Angola