Cerca de 320 mil civis fogem da Somália em 2011
Cerca de 320 mil civis fogem da Somália em 2011
GENEBRA, 21 de outubro (ACNUR) – A deterioração das condições humanitárias na Somália forçou cerca de 320 mil somalis a deixar suas casas em 2011. “Enquanto a maioria busca segurança e assistência humanitária nos vizinhos Quênia e Etiópia, muitos somalis continuam se dirigindo ao norte para embarcar em uma arriscada travessia através do Golfo do Aden”, afirmou o porta-voz do ACNUR, Andrej Mahecic, a jornalistas em Genebra na sexta-feira.
Ele disse ainda que 20 mil refugiados alcançaram o Iêmen desde o começo do ano. “Nos centros de recepção do Iêmen, os recém chegados estão dizendo aos nossos funcionários que seca, fome, conflito e recrutamento forçado foram os principais motivos pelos quais fugiram da Somália”, disse.
Este influxo está aumentando a pressão sobre o Iêmen e o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR). Entre janeiro e julho as chegadas de somalis alcançaram uma média mensal de 1,6 mil pessoas; o número aumentou para 4,5 mil em agosto e 3,2 mil em setembro – mesmo apesar das tensões no Iêmen. Estima-se que 196 mil refugiados somalis estão neste momento no Iêmen, onde os recursos do ACNUR também são utilizados para atender mais de 415 mil pessoas deslocadas internas.
“A piora das condições de segurança está tornando nosso trabalho mais complexo e perigoso”, afirmou Mahecic. Devido aos confrontos na região de Abyan o transporte dos recém chegados nos centros de recepção ao longo do Golfo do Aden até o campo de refugiados de Kharaz vem se tornando cada vez mais difícil.
A Sociedade para Solidariedade Humanitária, premiada organização parceira do ACNUR, agora é obrigada a percorrer uma rota mais longa para chegar aos centros de recepção de modo a evitar os confrontos e a reduzir a freqüência dos comboios entre estes centros e Kharaz. O ACNUR está informando aos recém chegados aos centros de recepção e de transito sobre a atual situação e os potenciais riscos no Iêmen. Entretanto, muitos preferem não esperar e partem a pé pelas áreas afeadas pelo conflito.
A maioria dos recém chegados diz ao ACNUR que desconhecia a situação no Iêmen e as condições que enfrentaria. Muitos deixaram a Somália esperando poder recomeçar suas vidas em outros países do Golfo, e as oportunidades de trabalho para os refugiados no Iêmen estão diminuindo rapidamente.
Por essas razões, alguns dos refugiados estão considerando a possibilidade de retornar à Somália. O ACNUR possui um programa de repatriação voluntária, mas somente para as regiões relativamente estáveis no norte do país, como Puntland e Somaliland. Entretanto, a maioria dos somalis no Iêmen é proveniente das instáveis regiões centro e sul da Somália. O número de outros nacionais chegando ao Iêmen, especialmente etíopes, também aumentou.
A instabilidade no Iêmen também oferece mais possibilidades para os traficantes e coiotes atuando ao longo da costa do Mar Vermelho. Ainda há relatos de seqüestros de migrantes e refugiados após chegada ao Iêmen – a maioria com objetivos de resgate e extorsão. Enquanto os principais alvos são os migrantes etíopes buscando melhores oportunidades em países do Golfo, alguns somalis também foram seqüestrados.
Mahecic disse que frequentemente a insegurança impede que as equipes humanitárias tenham acesso aos recém chegados antes que os traficantes. “Outra tendência marcante tem sido a ocorrência de abuso e ataques sexuais a mulheres refugiadas e migrantes enquanto realizam a travessia marítima”, disse, acrescentando: “Juntamente com nossos parceiros estamos oferecendo assistência médica e psicológica para os sobreviventes. As informações também são compartilhadas com a polícia iemenita para acompanhamento.
Enquanto isso, o número de refugiados somalis chegando ao vasto complexo de refugiados de Dadaab, no nordeste do Quênia, tem diminuído acentuadamente. “Este fato pode ser consequência das operações militares na fronteira ou do início do período de fortes chuvas na região. Nenhum recém-chegado visitou o centro de registro do campo na última semana”, afirmou Mahecic.
Após um grave incidente de segurança em Dadaab na semana passada, o ACNUR e outras agências parceiras têm dado continuidade às atividades de assistência humanitária para centenas de milhares de refugiados. “Nossos funcionários e mais de 30 parceiros continuam atuando nos três campos de Dadaab – Ifo, Dagahaley e Hagadera – assim como nos novos campos de Ifo 2 e Kambioos”, disse Mahecic.
Em parceria com o Programa Mundial de Alimentos (PMA), o ACNUR está distribuindo porções de alimentos e itens de ajuda para os recém chegados. Continua sendo realizado o transporte de água para novas localidades do complexo, enquanto todos os três hospitais em Ifo, Dagahaley e Hagadera oferecem cuidados médicos para os refugiados. Escolas primárias estão sendo conduzidas por professores recrutados dentro da própria população refugiada do Campo.
O ACNUR está trabalhando com as autoridades quenianas para mais policiais sejam enviados urgentemente para os campos, a fim de melhorar a segurança de refugiados e trabalhadores humanitários. Dadaab é o maior complexo de refugiados do mundo, abrigando mais de 463 mil refugiados. Mais de 190 mil deles chegaram este ano após fugirem da insegurança e da fome na Somália.