Mais de 50 mil pessoas fogem de Burundi para escapar da violência crescente
Mais de 50 mil pessoas fogem de Burundi para escapar da violência crescente
GENEBRA, 12 de maio de 2015 (ACNUR) – A agência da ONU para Refugiados advertiu que a violência pré-eleições no Burundi, que desde abril já deslocou mais de 50 mil pessoas para países vizinhos, ameaça desfazer alguns dos avanços mais promissores na história recente dos refugiados na África.
Desde o fim da guerra civil no Burundi, em 2005, foram encontradas soluções para milhares de pessoas deslocadas, depois de mais de uma década de conflito. Entre as medidas estava um dos programas de repatriação voluntária mais bem sucedidos. Na ocasião o ACNUR ajudou o Burundi a repatriar quase meio milhão de refugiados.
A Tanzânia foi um dos países que mais receberam refugiados do Burundi que fugiram da violência em 1972. Nos últimos anos, o país ofereceu cidadania a cerca de 200 mil burundianos e seus descendentes, o maior número de refugiados integrados localmente por um país de acolhida. Outros milhares foram reassentados com sucesso no exterior, incluindo mais de 8 mil nos Estados Unidos.
No entanto, o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, afirmou que a violência pré-eleitoral nas últimas semanas fez com que milhares fugissem para países vizinhos, como Ruanda, Tanzânia e República Democrática do Congo (RDC).
"Muitos atravessaram a fronteira de Ruanda (25 mil), mas ao longo da última semana vimos também um forte aumento de solicitantes de refúgio na Tanzânia (17.696), após o país ter suspendido as restrições à entrada impostas anteriormente. Além disso, quase 8 mil pessoas atravessaram a fronteira rumo à província de South Kivu, na República Democrática do Congo. Em todos esses casos, mulheres e crianças, incluindo um grande número de menores desacompanhados, são a maioria", disse Edwards.
Na capital do Burundi, Bujumbura, tem havido protestos e há relatos de violência, e a instabilidade vem se espalhando também pelas províncias. Na vizinha Ruanda, os refugiados afirmaram ter fugido do Burundi por causa do assédio e intimidação sofrida por parte de militantes da juventude Imbonerakure, que pintam marcas vermelhas nas casas de pessoas consideradas alvos.
"Alguns decidiram fugir por precaução, pois já viveram ciclos de violência anteriormente. Há relatos também de pessoas que vendem suas propriedades antes de deixar o país – o que possivelmente indica certa antecipação relacionada à insegurança prolongada", observou Edwards.
Muitos dos recém-chegados são provenientes das províncias Ngozi e Muyinga do norte do Burundi. No entanto, o ACNUR notou ainda a chegada de pessoas de áreas urbanas, incluindo um número de universitários e estudantes do ensino médio. "Com o apoio do governo de Ruanda, estamos transferindo os refugiados para um novo campo, Mahama, que pode receber até 60 mil refugiados", disse Edwards.
Muitas pessoas enfrentaram dificuldades ao tentar sair do Burundi. Várias mulheres relataram ameaças de estupro por homens armados e pagamentos de suborno ao passar por obstáculos. Além disso, outras tiveram que andar por horas pela mata com seus filhos.
Na República Democrática do Congo, 7,661 burundianos foram registrados como refugiados. Os recém-chegados estão sendo hospedados por famílias locais, mas o crescente número está sobrecarregando o apoio disponível. O ACNUR está ajudando cerca de 500 refugiados vulneráveis em um centro de trânsito em Kavimvira e em outro centro em Sange. Está sendo identificado um local para onde todos os refugiados possam ser transferidos e tenham acesso a instalações, como escolas e centros de saúde com a devida segurança.
Edwards disse ainda que, na Tanzânia, cerca de 4 mil pessoas já foram registradas e outras 13 mil aguardam pelo registro. Estima-se que 10 mil burundianos tenha chegado à ilha Kagunga, no lago Tanganyika.
"Começamos a realocação deles com uma balsa que leva no máximo 600 pessoas. Todos os solicitantes de refúgio estão sendo levados das vilas e ilhas para o campo de refugiados de Nyarugusu, onde receberão um lote para construírem um abrigo e cultivar vegetais", acrescentou Edwards.
O ACNUR apela às autoridades do Burundi para que deixem as pessoas moverem-se livremente. "É vital também que as fronteiras permanecem abertas. Nesse sentido, agradecemos o compromisso dos países vizinhos e o apoio dado pelas comunidades de acolhida aos refugiados", salientou o porta-voz do ACNUR.