Chefe do ACNUR e Angelina Jolie Pitt falam sobre a Síria no Conselho de Segurança da ONU
Chefe do ACNUR e Angelina Jolie Pitt falam sobre a Síria no Conselho de Segurança da ONU
NOVA YORK, Estados Unidos, 05 de maio de 2015 (ACNUR) – Durante reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas no fim de abril, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, advertiu que a comunidade internacional deve fazer de tudo para evitar que a situação no Oriente Médio se torne irreversível.
"A situação no Médio Oriente é como um câncer que corre o risco de se alastrar e chegar à metástase. Se as coisas continuarem como estão logo ficarão fora de controle, independentemente da nossa vontade e com consequências globais cada vez mais perigosas", alertou Guterres.
O Alto Comissário afirmou que os desdobramentos regionais do conflito sírio estão alcançando proporções dramáticas. "Quatorze milhões de pessoas estão deslocadas devido às crises interligadas na Síria e no Iraque. As ameaças de segurança para os países vizinhos estão crescendo. Como resultado, temos observado uma deterioração constante em relação à proteção dos sírios que tentam escapar do conflito", disse Guterres.
Ele acrescentou que o ACNUR tem observado um desgaste crescente por parte dos países de acolhida e, em algumas regiões, políticas mais severas estão sendo impostas aos refugiados. Nesse sentido, crescentes tensões são observadas entre as comunidades. Enquanto isso, as agências humanitárias, como o ACNUR e o Programa Mundial de Alimentos, lutam para atender às necessidades básicas. Muitos refugiados, desesperados para escapar, arriscam suas vidas em travessias no Mar Mediterrâneo.
Perigosos mecanismos de contorno das dificuldades diárias estavam se tornando comuns, com o envio de crianças por suas famílias para trabalhar ou o casamento de meninas adolescentes, disse o Alto Comissário. Há ainda relatos de refugiados que recorrem ao sexo por sobrevivência.
Guterres disse que apenas uma solução política poderia acabar com o sofrimento do povo sírio. No entanto, ele ressaltou que, enquanto esta opção estiver distante de acontecer, a comunidade internacional deve fazer todo o possível para evitar que a crise fique fora de controle. "Em primeiro lugar, algumas prioridades imediatas devem ser consideradas: fornecer mais ajuda humanitária aos refugiados e comunidades de acolhida, além de acabar com as terríveis mortes no Mediterrâneo".
"Em segundo lugar, deve haver um apoio expressivo aos países vizinhos. O financiamento anunciado no Kuwait, no mês passado, para apoiar o “Regional Refugee and Resilience Plan” é um importante sinal de esperança, e os recursos devem ser desembolsados rapidamente. Mas, é também essencial para os programas estruturais, apresentados pelos governos anfitriões, receber da comunidade internacional financiamentos para seu desenvolvimento".
O Alto Comissário fez um apelo para que se repensem as políticas de cooperação para o desenvolvimento, no sentido de ajudar os países de acolhida a lidar melhor com a carga extra.
Em terceiro lugar, segundo o Alto Comissário, "temos que reconhecer a natureza cada vez mais prolongada desta crise de refugiados. O objetivo prioritário do ACNUR continua sendo o repatriamento voluntário seguro e com dignidade, de acordo com o que a maioria dos refugiados preferirem. Mas temos de reconhecer que, para os sírios, esta opção não está imediatamente à vista”.
"Enquanto isso, os países vizinhos precisarão de ajuda adequada para gerir os fortes impactos econômicos, demográficos e fiscais do fluxo de refugiados", observou ele, acrescentando: "Com mais apoio em toda a região, podemos ajudar a transformar a situação dos refugiados, que hoje é de dependência e insustentabilidade, em uma situação com opções de autossuficiência econômica, permitindo-lhes contribuir também para o desenvolvimento de suas sociedades de acolhida".
Entretanto, Guterres espera mais momentos de dificuldade pela frente. "Uma coisa é clara: a situação na região tornou-se absolutamente insustentável. Depois que o Iraque foi dramaticamente engolido pelo conflito sírio, com ataques em Mosul e Tikrit no ano passado, não sei onde a próxima crise acontecerá. Só sei que ela virá e que as coisas correm o risco de ficar ainda piores", disse o Alto Comissário.
Enquanto isso, a Enviada Especial do ACNUR, Angelina Jolie Pitt, que fez 11 visitas a refugiados sírios no Iraque, Jordânia, Líbano, Turquia e Malta desde que a crise eclodiu, em março de 2011, disse ao Conselho de Segurança que as Nações Unidas estavam falhando com o povo da Síria.
"Em nome dos refugiados sírios, faço três apelos para a comunidade internacional, o primeiro é um apelo à unidade. É hora do Conselho de Segurança trabalhar unido para acabar com o conflito e chegar a uma solução que também traga justiça e responsabilidade para os sírios", disse a Enviada Especial.
"Em segundo lugar, repito o que já foi dito sobre o apoio aos países vizinhos da Síria, que estão fazendo uma contribuição extraordinária", Angelina Jolie Pitt acrescentou. "Se não podemos acabar com o conflito, temos um dever moral inegável de ajudar os refugiados e fornecer as vias legais para sua segurança". A Enviada Especial disse que seu terceiro apelo era para uma maior resposta da comunidade internacional à barbárie daqueles responsáveis pela violência sexual sistemática.
"Precisamos também enviar um sinal de que estamos atentos à responsabilização por estes crimes, pois essa é a única esperança de alcançar qualquer dissuasão. Apelo aos Estados membros para que comecem agora para que, no futuro, as mulheres sírias sejam amplamente representadas nas negociações de paz, de acordo com várias resoluções do Conselho de Segurança".
Leia Remarks by António Guterres, United Nations High Commissioner for Refugees, New York, 24 April 2015