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Voluntária da ONU ajuda líbios da etnia berber em campo na Tunísia

Comunicados à imprensa

Voluntária da ONU ajuda líbios da etnia berber em campo na Tunísia

Voluntária da ONU ajuda líbios da etnia berber em campo na TunísiaPatricia foi chamada para se unir à equipe do ACNUR na Tunísia, numa operação de emergência, e agora atua como assistente de proteção no campo de Ramada.
23 May 2011

CAMPO DE REMADA, Tunísia, 23 de maio  (ACNUR) – Patricia Eckhoff, de 33 anos, nasceu no Equador mas foi criada na Alemanha. Depois de concluir seus estudos, ela retornou ao país natal para ajudar os mais necessitados e acabou se juntando à equipe local do ACNUR. Ela trabalhou com refugiados colombianos no nordeste da província de Imbabura antes de ir para Madri, onde fez seu mestrado sobre a América Latina. A partir daí, Eckhoff juntou-se ao programa de voluntários da ONU (United Nations Volunteers Program, em inglês) e foi designada a trabalhar com a agência da ONU para refugiados na região colombiana de Baranquilla. Neste ano, ela foi chamada para se unir à equipe do ACNUR na Tunísia, numa operação de emergência, e agora atua como assistente de proteção no campo de  Ramada. Patricia ajuda líbios da etnia Berber que fugiram das montanhas da região oeste da Líbia e falou com a Oficial de Relações Externas do ACNUR, Hélène Caux, sobre suas atividades. Leia mais na entrevista abaixo.

Como é o campo de refugiados em Ramada?

O campo abriu no dia 11 de abril e eu cheguei dia 5 de maio. No momento ele abriga mais de 700 refugiados líbios, em maior parte mulheres e crianças. Eles são da etnia Berber e vêm de duas pequenas cidades, Nalhut ou Zintan, que fazem fronteira com a Tunísia. Ambas as cidades foram alvo de ataques por parte do governo líbio durante várias semanas.

Os homens deixam suas mulheres, filhos e parentes mais velhos na fronteira de Dehiba e voltam para defender seus lares. Enquanto muitos líbios conseguiram encontrar famílias tunisinas que pudessem acolhê-los, outros não tinham para onde ir e buscaram abrigo no campo. É a primeira vez que trabalho num campo de refugiados.

Qual é o seu trabalho no campo?

Oficialmente eu sou oficial de proteção de campo, o que significa que eu estou fazendo de tudo! Minha principal atividade tem sido registrar as famílias no campo para que possamos indentificar os casos mais vulneráveis, planejar a distribuição de ajuda e providenciar atividades educacionais para as crianças. Visitei todas as tendas com colegas de uma organização de ajuda tunisina e da Ajuda da Igreja Norueguesa (AIN) para registrarmos as pessoas e perguntarmos sobre suas condições de saúde, higiene, data de chegada, necessidades especiais e por aí afora. Fico muito orgulhosa em dizer que conseguimos registrar todo mundo em apenas três dias – foi um trabalho muito intenso.

O processo de registro nos permitiu conhecer todos os refugiados que estão no campo e explicar como o ACNUR atua na Tunísia. Agora podemos monitorar as pessoas que estão em situação mais delicada e prestar atenção nos casos de quem está em hospitais na cidade de Remada e em Tataouine. Esse processo também foi essencial para o planejamento de metas.

O que mais você aprendeu com o processo de registro?

Agora sei onde estão localizadas as pessoas que têm problemas de saúde, como diabetes, pressão alta e problemas cardíacos. Também sei onde estão as crianças portadoras de necessidades especiais  e onde estão aquelas que desenvolveram problemas de pele – e as encaminho para a clínica médica do campo. Enquanto estávamos registrando as pessoas, também consegui checar se eles precisavam de novas tendas. Recentemente houve uma tempestade de areia e muitas tendas ficaram estragadas. O ACNUR as substituiu por outras mais resistentes.

Quais lições você tirou a partir das conversas com os refugiados?

Muitos estão traumatizados com a guerra que está acontecendo em seu país. Diversas famílias conseguiram deixar Nalhut e Zintan antes que as forças do governo começassem os bombardeios. Quem saiu da cidade mais tarde falou sobre o medo de ser atingido por mísseis. Muitas mulheres disseram que a fuga foi motivada pelo medo de sofrerem estupro. Uma médica de Nalhut afirmou que vários mísseis atingiram o hospital e que ela e a irmã conseguiram fugir para a Tunísia, mas seu pai se recusou a deixar a cidade líbia. De acordo com ela, as palavras de seu pai foram: “Não quero terminar minha vida como um refugiado, vou morrer em Nalhut”.

Como as redes de telefone não estão funcionando muito bem entre a Tunísia e a Líbia, os refugiados quase não têm informações sobre seus parentes que permaneceram nas cidades de Nalhut e Zintan. O fato de são saberem se seus entes queridos estão bem os deixa em estado de constante ansiedade.

Quais são os principais problemas que aparecem no campo?

Os refugiados acabam ficando entediados por não não fazerem nada, especialmente as crianças que ficam mais hiperativas e agressivas. Muitas mães me disseram que seus filhos brincam de fingirem que são as tropas rebeldes e outras as tropas do governo. Estamos tentando aumentar o número de atividades lúdicas no campo para essas crianças e também estamos providenciando aulas. As pessoas que estão em campos de refugiados precisam ter uma rotina produtiva.

Quais são os desafios enfrentados por mulheres e meninas que estão no campo?

Uma das principais questões se refere à saúde. Temos 13 mulheres grávidas e nenhum ginecologista no campo para atendê-las. Se elas tiverem complicações durante a gravidez ou durante o parto – como a necessidade de uma cesariana – não há equipamentos adequados ou um cirurgião em Remada que possa ajudar. O hospital em Remada já está superlotado já que os líbos que estão em casas de família também buscam atendimento médico lá.

Outro problema no campo é a questão cultural. Por exemplo: duas mulheres de 40 anos foram marginalizadas porque não têm filhos. As duas estão sofrendo muito. Se elas tentarm se expressar publicamente logo viram alvo de brincadeiras e têm que aguentar comentários do tipo “O que você sabe sobre isso? Você não é uma mulher, você nem mesmo tem filhos”. Estamos tentando unir as duas para que elas consigam quebrar o silêncio.

Você trabalha com duas jovens mulheres tunisinas. Como tem sido essa atividade?

Elas são de Remada, uma cidade muito conservadora. Sinto que elas estão enfrentando um choque de cultura ao trabalhar com o ACNUR. Durante o treinamento nós falamos com elas sobre temas como igualdade de gêneros, violência baseada em sexo e em gênero, problemas que podem acontecer durante a gravidez e o parto, direitos humanos. Todos esses conceitos são completamente novos para elas...e foi um grande desafio promover ideias com as quais não estavam familiarizadas.

Ao mesmo tempo, elas foram um ganho muito grande para o ACNUR em Remada por conta de seu amplo conhecimento sobre questões culturais e da gentileza que elas têm com casos mais delicados. Elas são a ponte que ligam o ACNUR com os refugiados líbios. Sinto que somos muito sortudos por trabalharmos juntos e aprendermos com elas assim tanto quanto elas estão aprendendo conosco. Elas são minha porta de entrada para os refugiados porque se comunicam em árabe com eles. Muitas vezes os refugiados falam em Berber – quando eles não querem que  a equipe saiba do que eles estão falando!

O que motiva você a fazer este trabalho?

Acredito que se eu trabalhar duro, posso fazer a diferença. Não me importo em trabalhar 12, 14 horas por dia. Acho que se eu der 110 porcento de mim mesma para os refugiados, conseguirei melhorar a vida deles. Às vezes as pessoas só precisam conversar um pouco...Elas gostam muito da abordagem comunitária que nós estamos tentando estabalecer e eu gosto muito do fato de que me deixem fazer parte do seu mundo. Como eu estou no campo todos os dias e como eu amo meu trabalho, estabeleci uma relação muito próxima com eles.

O que, ou quem,  mais emocionou você em Remada?

Um pai e seu filho de oito anos de idade. O garoto é portador de necessidades especiais desde que nasceu e não consegue andar, falar, quase não enxerga e passo o dia deitado em um colchão dentro de uma das tendas....Quando fui visitar a família, fiquei surpresa ao ver o pai cantando uma música para seu filho. Normalmente as mulheres se envolvem mais com as crianças portadoras de necessidades especiais. O pai segurava o menino nos braços enquanto cantava e falava com ele, que estava rindo. A mãe me contou que o filho não reconhece muitas pessoas, mas reconhece o pai quando ele canta. Fiquei muito comovida com essa interação entre pai e filho.

O que você planeja fazer no futuro?

Gostaria de ficar mais algum tempo em outro campo de refugiados, talvez na África. Também gostaria de trabalhar com refugiados em centros urbanos. Existem refugiados que são invisíveis; e muitas vezes enfrentam mais dificuldades do que aqueles que vivem nos campos.