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Jovens colombianos deslocados reivindicam seus direitos por meio da música

Comunicados à imprensa

Jovens colombianos deslocados reivindicam seus direitos por meio da música

Jovens colombianos deslocados reivindicam seus direitos por meio da música"Música é tudo para mim. Eu toco desde que tenho oito anos. A primeira vez que eu me desloquei, tinha que dormir numa árvore e ter uma dieta à base de pão e água..."
19 May 2011

BUENAVENTURA, Colômbia, 19 de maio (ACNUR) – Eles vão para as ruas em grupo, cabeças erguidas, com óculos escuros e bonés de baseball. Os outros moradores do bairro observam o movimento com um ar de tensão.

Então a música começa a tocar e a câmera entra em ação. Este é “Marcando Território”, um grupo musical formado por 27 jovens afro-colombianos que está fazendo seu primeiro videoclipe com a ajuda do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Toda a produção do vídeo é caseira, desde a música original – gravada num antigo laptop – até o estúdio de gravação improvisado com caixas de ovo. A locação para o filme também é familiar: a vizinhança onde moram os integrantes do grupo.

A banda se formou a partir de um festival de música urbana realizado em dezembro do ano passado. Foi também esse festival que deu nome ao grupo. O evento possibilitou que mais de 300 jovens se mobilizassem contra a violência em Buenaventura, o maior porto da costa do pacífico colombiano. A cidade também abriga pessoas

deslocadas, que chegam devido aos confrontos entre grupos armados ilegais nas regiões vizinhas.

Ubaldino, de 28 anos, é membro da banda “Marcando Território” e se deslocou em 2006 por conta de uma série de assassinatos na região do rio Cajambre. “As pessoas eram ameaçadas. Quem não se submetia à vontade das forças armadas ilegais tinha um fim previsível. Era mais fácil fugir, perder a colheita e começar tudo de novo em outro lugar”, disse. “Minha mãe teve um derrame e morreu pouco tempo depois que nós deixamos nossa terra natal. Ela sofreu muito com a drástica mudança de vida”.

O padre Adriel, que trabalha há cinco anos com a juventude do bairro Lleras, em Buenaventura, nota que “o conflito armado abalou as estruturas familiares”. Segundo ele, muitos jovens perderam seus pais e sempre tiveram que batalhar para conseguir tudo, até mesmo comida.

Muitos dos jovens deslocados têm empregos temporários como motoristas de ônibus, sapateiros, barbeiros, pescadores, ou pedreiros. Nem todos conseguiram terminar seus estudos, por falta de dinheiro ou porque tinham que ajudar a sustentar a família. Eles vivem nas favelas de Llera, num local tomado pelo mar e pela sujeira.

Essas diversas realidades são transmitidas nas músicas do grupo “Marcando Território”. “Música é tudo para mim”, diz Angel, o líder da banda. “Eu toco desde que tenho oito anos. A primeira vez que eu me desloquei, tinha que dormir numa árvore e ter uma dieta à base de pão e água. Às vezes não há oportunidades para os jovens na minha região. Fui orbigado a  fazer isso, não tinha outra opção”, afirma.

Território e identidade são temas centrais das mensagens passadas pelo grupo. “Território é vida e a vida não é possível sem território”, canta a banda em uma de suas músicas. Outro membro da banda, Jason, de 22 anos,  explica que “ ‘Marcando Território’ é um grupo de jovens que já enfrentaram a fome, a violência e que apesar disso estão juntos por conta da música”. Para ele a música ajuda a transmitir a principal mensagem da banda, que é: existem jovens que estão lutando pela sua terra.

O conflito armado tornou mais difícil o acesso de jovens a parques e quadras esportivas. A juventude de Buenaventura, entretanto, pede a construção de espaços de convivência e projetos públicos que defendam os territórios e os direitos das comunidades.

“Fazemos parte de um grupo étnico [afro-colombiano] que tem características especiais. Temos nossa própria cultura e tradição, e compartilhamos uma história e nos preocupamos em manter nossa identidade”, disse um dos membros de “Marcando Território”, refletindo os ideais do grupo. “Temos que garantir o direito de participarmos do processo de desenvolvimento da nossa comunidade e assim contribuirmos para a melhoria nas condições de vida”.

Aproximadamente 75,500 mil colombianos estão deslocados em Buenaventura. Eles vêm das regiões costeiras do Pacífico e dos arredores de Buenaventura.

Francesca Fontanini em Buenaventura, Colômbia