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Bolsas de estudo permitem que refugiados voltem a sonhar na Itália

Comunicados à imprensa

Bolsas de estudo permitem que refugiados voltem a sonhar na Itália

31 Janeiro 2022
Jules, um estudante de 26 anos da República Democrática do Congo, examina as prateleiras da biblioteca de ciências sociais da Universidade de Florença © ACNUR/Michele Borzoni

“Estes são meus pensamentos e orações”, diz Jules sorrindo enquanto aponta para uma parede de notas e citações rabiscadas por ele em seu confortável apartamento a poucos metros da central Piazza della Signoria, no coração de Florença. “Eu escrevo o que me inspira, isso me ajuda a manter o foco.”

Quando Jules, um refugiado congolês que vivia na Etiópia, recebeu a notícia de que havia sido aceito para fazer um mestrado em gestão de recursos naturais na Universidade de Florença, ele pesquisou a cidade no Google. Agora, depois de um ano no programa, ele pode confirmar que sua primeira impressão de uma cidade bonita e acolhedora estava correta.

“Meu corpo docente é realmente muito inclusivo. Há muitos estudantes de todo o mundo estudando comigo. Aprendi tanto com eles quanto com os próprios cursos”, diz ele. “Meus tutores são pessoas incríveis que me apoiaram acima das minhas expectativas; se tornaram uma família.” 

Apenas alguns meses depois de seu nascimento na República Democrática do Congo, seus pais foram mortos em confrontos étnicos e ele foi acolhido pela família de sua tia em Goma, Kivu do Norte. Os combates na região continuaram a aumentar, e a família vivia sob constante ameaça de violência. “Você se acostuma com essa vida, mas chega um dia em que você pensa 'não vou esperar aqui para morrer', e fomos embora”, conta.

Após uma viagem complicada, ele e sua família chegaram à Etiópia, onde foram registrados como refugiados e alojados no Campo de Refugiados de Sherkole. “No acampamento, o sal era contado em um pequeno copo; não havia açúcar, não havia nada, aprendemos a fazer refeições pela imaginação, mas eu estava mais feliz do que se estivesse desfrutando de uma grande refeição no Congo. Pelo menos eu podia dormir com os dois olhos fechados – havia paz e eu estava seguro”, lembra.

Somente depois de algum tempo morando no campo Jules conseguiu começar a pensar em seu futuro. Ele estava preocupado que, como refugiado, nunca tivesse a oportunidade de continuar os estudos. “Eu costumava ver pessoas recém-formadas (da universidade) retornarem ao campo, talvez duas ou três pessoas por ano. Eles eram membros respeitados da comunidade, todos os admiravam e buscavam conselhos com eles. Eu sabia que queria isso para a minha vida também”, diz. 

FOTOS

Graças à sua determinação e a uma bolsa de estudos do programa DAFI , Jules conseguiu se matricular na Universidade de Gambella, na Etiópia, alguns anos depois. Lá, ele se interessou pela agricultura, particularmente pela agricultura de pequena escala e pela pesca praticada pela comunidade local. Ele observou como as pessoas lutavam durante os períodos de seca, que ao longo dos anos se tornaram mais longos e severos. “Apenas esperar a chuva voltar era a coisa normal a se fazer, mas pensei que, com melhor conhecimento e tecnologia, essas comunidades poderiam lidar com os períodos de seca de maneira diferente, para serem autossuficientes durante todo o ano.” 

Quando soube de um amigo sobre o programa Corredores Universitários para Refugiados (UNICORE), ele se inscreveu com poucas expectativas. “As chances de ser selecionado para uma das bolsas oferecidas eram tão, tão distantes”, lembra. “Quando recebi o e-mail da Universidade de Florença, fiquei atordoado em silêncio, fiquei simplesmente dominado pela felicidade.” 

A UNICORE visa aumentar as oportunidades para os refugiados que vivem na Etiópia continuarem seus estudos superiores na Itália por meio de uma parceria entre universidades italianas e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). A estratégia faz parte do objetivo mais amplo do ACNUR de criar rotas seguras para que os refugiados possam realizar seus sonhos de um futuro melhor sem ter que arriscar suas vidas em viagens perigosas. 

“Os refugiados precisam de oportunidades como esta”

Apenas 5% dos refugiados conseguem se matricular no ensino superior, em comparação com uma média de 39% entre a população em geral. Juntamente com seus parceiros, o ACNUR pretende garantir que 15% dos refugiados possam ter acesso ao ensino superior até 2030.

Depois de começar em 2019 com uma fase piloto, o projeto UNICORE cresceu para oferecer um total de 70 bolsas de estudo em 28 universidades da Itália. Em 2021, 45 refugiados conseguiram bolsas de estudo para cursar cursos de graduação.

Jules deve se formar neste verão. Ele planeja voltar para sua comunidade e usar sua experiência recém-adquirida para ajudar refugiados e moradores locais a se sustentarem sem ajuda externa, mesmo que o clima se torne mais seco e imprevisível. “Os refugiados precisam de oportunidades como essa”, diz ele sobre sua bolsa de estudos. 

“Quanto mais os refugiados têm habilidades, mais eles podem se sustentar. Eles precisam de conhecimento para ter voz, para se empoderarem e para sonharem novamente.”