Afeganistão à beira do colapso
Afeganistão à beira do colapso
Antes do Talibã assumir o poder em agosto, o Afeganistão já enfrentava uma série de crises. Uma forte seca estava afetando as safras, os impactos socioeconômicos da pandemia de Covid-19 aumentaram a pobreza e o conflito de longa duração no país deixou mais de 3 milhões de afegãos deslocados internamente.
Agora, o Afeganistão está à beira do que a Representante Especial da ONU, Deborah Lyons, descreveu como “uma catástrofe humanitária”. Os efeitos da implosão da economia são sentidos em toda a sociedade, mas aqueles que já foram forçados a deixar suas casas pelo conflito estão particularmente vulneráveis.
O ACNUR segue atuando no Afeganistão para salvar vidas e assegurar direitos. Doe agora mesmo e apoie os nossos esforços.
Dos cerca de 668 mil afegãos deslocados pelos conflitos desde o início deste ano, cerca de 50 mil fugiram para Cabul, a capital. A cidade está localizada a uma altitude de 1.800 metros e, durante o inverno, as temperaturas costumam atingir menos 0°C à noite. Enquanto algumas pessoas voltaram para suas regiões de origem nas últimas semanas, outras continuam com medo ou não têm casa para onde voltar.
Muitos irão enfrentar os meses frios de inverno em abrigos improvisados ou amontoados em quartos alugados sem aquecimento, com fome e sem dinheiro.
Safa e sua sogra, Bibi Khatoon, fazem parte de uma família de oito pessoas que se viram no meios de combates entre o Taleban e ex-membros das Forças Armadas do governo no nordeste do Afeganistão há três meses.
A família chegou a Cabul sem nada, mas conseguiu alugar um quarto fora da cidade depois de receber assistência em dinheiro da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Safa deu à luz há 40 dias.
“Neste momento, estamos com muito medo de voltar para casa, e não temos uma casa para onde ir”, diz ele, descrevendo como uma bomba atingiu sua casa no nordeste do Afeganistão “e tudo virou pó”.
“Estamos com muito medo de voltar para casa, e não temos uma casa para onde ir”
“Não sobrou ninguém na área, todos fugiram”, acrescenta. “Meus pais estão traumatizados e ainda estão em choque.”
Uma combinação de sanções internacionais, o congelamento dos ativos do governo afegão e a suspensão da ajuda estrangeira mergulhou o Afeganistão em uma crise econômica.
A seca e a colheita ruim pioraram a situação. A previsão é de que os estoques de alimentos acabem em meados do inverno. O desemprego crescente e os custos dos alimentos levaram 22,8 milhões de pessoas, mais da metade da população de 40 milhões do país, à fome.
A crise econômica pressionou ainda mais muitos afegãos que já viviam na extrema pobreza, e o número de residentes de Cabul em situação de rua está aumentando a cada dia.
“Meus filhos estão meio alimentados e meio famintos”
“Meus filhos estão meio alimentados e meio famintos”, diz Zarina. “Comemos arroz e pão.” Com a ajuda que recebeu do ACNUR, ela conseguiu quitar o que devia a um lojista. “Se eu não tivesse quitado o empréstimo, talvez tivesse que vender meu bebê.”
A família de Matiullah e Hajira mudou-se para Cabul há seis meses, depois que sua casa na cidade de Kunduz, no norte do país, foi destruída pelos combates.
“Eu adoraria voltar [para a escola] se tivéssemos uma vida melhor”
Num dia bom, os irmãos vendem cerca de 10 sacolas plásticas. “Abandonei a escola há cerca de quatro anos”, diz Matiullah. “Adoraria voltar se tivéssemos uma vida melhor.”
Mais de 4 milhões de crianças no Afeganistão estão fora da escola e a terrível situação econômica está levando mais famílias a mandar seus filhos para o trabalho. Relatos de casamento infantil também estão aumentando, de acordo com o UNICEF.
A seca, que atingiu grande parte do país no início do ano, contribuiu para a queda dos níveis dos rios e lençóis freáticos em Cabul. Espera-se que um segundo ano de efeitos climáticos La Niña cause a continuação da seca neste inverno.
De acordo com o UNICEF, cerca de 3,2 milhões de crianças afegãs com menos de cinco anos sofrem de desnutrição aguda e 1,1 milhão correm o risco de morrer sem tratamento.
Muitas mães estão desnutridas e lutam para amamentar seus filhos.
O inverno pode trazer mais dificuldades para os afegãos, especialmente aqueles que estão deslocados. O ACNUR está aumentando a assistência para ajudar as famílias deslocadas a lidar com as condições adversas, mas, é fundamental redobrar a ajuda humanitária.
“Apoio urgente é necessário para ajudar os afegãos mais vulneráveis a sobreviver durante os meses de inverno e manter suas famílias seguras e aquecidas”
“Sem apoio financeiro, comunidades estarão expostas a choques extremos, incluindo perda de vidas”, alertou Caroline van Buren, Representante do ACNUR no Afeganistão.
“Apoio urgente é necessário para manter famílias seguras e aquecidas, e ajudar os afegãos mais vulneráveis a sobreviver durante os meses de inverno.”